• Sobre Ermira
  • Colunas
    • Aboios
    • Arlequim
    • Arranca-toco
    • Chapadão
    • Chispas
    • Dedo de prosa
    • Errâncias
    • Especial
    • Espirais
    • Florações
    • Margem
    • Maria faz angu
    • Matutações
    • Miradas
    • Mulherzinhas
    • Projeto Ensaios
    • NoNaDa
    • Pomar
    • Rupestre
    • Tabelinha
    • Terra do sol
    • Veredas
  • Contribua
  • Colunistas
  • Contato
  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter

ERMIRA

  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter
  • Sobre Ermira
  • Colunas
    • Aboios
    • Arlequim
    • Arranca-toco
    • Chapadão
    • Chispas
    • Dedo de prosa
    • Errâncias
    • Especial
    • Espirais
    • Florações
    • Margem
    • Maria faz angu
    • Matutações
    • Miradas
    • Mulherzinhas
    • Projeto Ensaios
    • NoNaDa
    • Pomar
    • Rupestre
    • Tabelinha
    • Terra do sol
    • Veredas
  • Contribua
  • Colunistas
  • Contato

Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 25 de novembro de 2017

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
25/11/2017 em Florações

  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Google +
  • Compartilhar no WhatsApp
← Voltar

Cinco poemas de Noémia de Sousa

(Curadoria de Luís Araujo Pereira)

 

[1]

Súplica

Tirem-nos tudo,

mas deixem-nos a música!

 

Tirem-nos a terra em que nascemos,

onde crescemos

e onde descobrimos pela primeira vez

que o mundo é assim:

um labirinto de xadrez…

 

Tirem-nos a luz do sol que nos aquece,

a tua lírica de xingombela

nas noites mulatas

da selva moçambicana

(essa lua que nos semeou no coração

a poesia que encontramos na vida)

tirem-nos a palhota  ̶  humilde cubata

onde vivemos e amamos,

tirem-nos a machamba que nos dá o pão,

tirem-nos o calor de lume

(que nos é quase tudo)

̶  mas não nos tirem a música!

 

Podem desterrar-nos,

levar-nos

para longes terras,

vender-nos como mercadoria,

acorrentar-nos

à terra, do sol à lua e da lua ao sol,

mas seremos sempre livres

se nos deixarem a música!

Que onde estiver nossa canção

mesmo escravos, senhores seremos;

e mesmo mortos, viveremos.

E no nosso lamento escravo

estará a terra onde nascemos,

a luz do nosso sol,

a lua dos xingombelas,

o calor do lume,

a palhota onde vivemos,

a machamba que nos dá o pão!

 

E tudo será novamente  nosso,

ainda que cadeias nos pés

e azorrague no dorso…

E o nosso queixume

será uma libertação

derramada em nosso canto!

̶  Por isso pedimos,

de joelhos pedimos:

Tirem-nos tudo…

mas não nos tirem a vida,

não nos levem a música!

̻ ̻ ̻

 

[2]

Porquê

Por que é que as acácias de repente

floriram flores de sangue?

Por que é que as noites já não são calmas e doces,

por que são agora carregadas de electricidade

e longas, longas?

Ah, por que é que os negros já não gemem,

noite fora,

Por que é que os negros gritam,

gritam à luz do dia?

̻ ̻ ̻

 

[3]

Canção  fraterna

Irmão negro de voz quente

o olhar magoado,

diz-me:

Que séculos de escravidão

geraram tua voz dolente?

Quem pôs o mistério e a dor

em cada palavra tua?

E a humilde resignação

na tua triste canção?

E o poço da melancolia

no fundo do teu olhar?

 

Foi a vida? o desespero? o medo?

Diz-me aqui, em segredo,

irmão negro.

 

Porque a tua canção é sofrimento

e a tua voz, sentimento

e magia.

Há nela a nostalgia

da liberdade perdida,

a morte das emoções proibidas,

e saudade de tudo que foi teu

e já não é.

 

Diz-me, irmão negro,

quem a fez assim…

Foi a vida? o desespero? o medo?

 

Mas mesmo encadeado, irmão,

que estranho feitiço o teu!

A tua voz dolente chorou

de dor e saudade,

gritou de escravidão e veio murmurar à minha alma em ferida

que a tua triste canção dorida

não é só tua, irmão de voz de veludo

e olhos de luar…

Veio, de manso murmurar

que a tua canção é minha.

̻ ̻ ̻

 

[4]

Lição

Ensinaram-lhe na missão,

Quando era pequenino:

“Somos todos filhos de Deus; cada Homem

é irmão doutro Homem!”

 

Disseram-lhe isto na missão,

quando era pequenino.

Naturalmente,

ele não ficou sempre menino:

cresceu, aprendeu a contar e a ler

e começou a conhecer

melhor essa mulher vendida

̶  que é a vida

de todos os desgraçados.

 

E então, uma vez, inocentemente,

olhou para um Homem e disse “Irmão…”

Mas o Homem pálido fulminou-o duramente

com seus olhos cheios de ódio

e respondeu-lhe: “Negro”.

̻ ̻ ̻

 

[5]

Magaíça

A manhã azul e ouro dos folhetos de propaganda

engoliu o mamparra,

entontecido todo pela algazarra

incompreensível dos brancos da estação

e pelo resfolegar trepidante dos comboios,

seu coração apertado na angústia do desconhecido

sua trouxa de farrapos

carregando a ânsia enorme, tecida

dos sonhos insatisfeitos do mamparra.

 

E um dia,

o comboio voltou arfando, arfando…

oh Nhanisse, voltou!

E com ele, magaíça,

de sobretudo, cachecol e meia listrada

é um ser deslocado,

embrulhado em ridículo.

 

Às costas − ah, onde te ficou a trouxa de sonhos, magaíça? −

trazes as malas cheias do falso brilho

dos restos da falsa civilização do compound do Rand.

E na mão,

Magaíça atordoado acendeu o candeeiro,

à cata das ilusões perdidas,

da mocidade e da saúde que ficaram soterradas,

lá nas minas do Jone…

A mocidade e saúde,

as ilusões perdidas

que brilharão como astros no decote de qualquer lady

nas noites deslumbrantes de qualquer City.

̻ ̻ ̻

Glossário

cubata : choupana de negros africanos

machamba : terreno agrícola para produção familiar

magaíça : antiga denominação dada aos emigrantes moçambicanos que iam trabalhar nas minas da África do Sul

mamparra : palavra depreciativa para o emigrante moçambicano que ia  trabalhar nas minas da África do Sul

xingombela : dança tradicional do sul de Moçambique

Perfil

Carolina Noémia Abranches de Sousa Soares nasceu em Lourenço Marques (atual Maputo) em 20 de setembro de 1926 e morreu em Cascais, Portugal, em 4 de dezembro de 2002. É autora de um único livro de poemas, intitulado Sangue Negro, publicado apenas em 2001 pela Associação dos Escritores Moçambicanos (Aemo), em homenagem aos 75 anos da autora. O livro condensa a sua produção poética de 1948 a 1951. Os seus textos tinham sido publicados em jornais, como O Brado Africano, e em revistas, como a brasileira Sul. Desde cedo engajou-se na luta pela libertação de seu país do colonialismo português. Por isso, os seus poemas despertaram consciências, acenderam revoltas e dialogaram com o Movimento da Negritude, conforme lembra Carmen Lucia T. Secco, professora de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em prefácio à edição brasileira. Por confrontar o sistema colonial, foi presa e deportada para Portugal, junto com outros intelectuais moçambicanos. Viaja pela América, vive em Paris e continua as  suas atividades pela independência, atuando como jornalista e tradutora. Ainda segundo Carmen Lucia, a poetisa “inaugura a cena literária feminina moçambicana, protestando contra as opressões sofridas pelas mulheres.” Em outra etapa de seu ensaio, afirma que “A voz de Noémia não é apenas feminina; é, também, coletiva. É uma voz tutelar, fundadora da poesia moçambicana. É uma voz plural, prometeica, que, epicamente, assume uma heroicidade salvacionista, na medida em que se declara como a que iluminará os destinos dos irmãos africanos marginalizados.” Em 2016,  Sangue Negro foi lançado no Brasil pela editora Kapulana, de São Paulo, na série Vozes da África.

 

 

 

Tag's: Movimento da Negritude, Noémia de Sousa, poesia, poesia moçambicana

  • Águas femininas

    por Da Reportagem/Ermira em Veredas

  • Inúmeros, numerosos, infinitos números

    por Marília Fleury em Pomar

  • Consideração sobre uma antologia da poesia ocidental

    por Paulo Manoel Ramos Pereira em Veredas

  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Google +
  • Compartilhar no WhatsApp

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.

5 comentários em “Cinco poemas de Noémia de Sousa”

  1. Alexande disse:
    5 de junho de 2018 às 14:36

    Acho que o país devia apostar mas na poesia para educação dos jovens e na musica educativa porque a nossa socidade e uma lastima…

    Responder
  2. BIATRIZ SENA disse:
    4 de agosto de 2018 às 18:12

    ES NECESARIO APOSTAR Y DAR RELEVANCIA A LA POESÍA Y A LA MÚSICA, PARA QUE LLEGUÉ A UNA GRAN MAYORÍA, ESPECIALMENTE A LOS JÓVENES ESTUDIANTES,. SERÍA ESTO UN APORTE MUY IMPORTANTE EN LA FORMACIÓN DEL EDUCANDO EN TODOS LOS NIVELES..

    Responder
  3. guida burt disse:
    19 de outubro de 2018 às 23:46

    Gostei. Obrigada.

    Responder
  4. lizia chiosa nandja disse:
    7 de outubro de 2019 às 15:23

    gostei muito dos poemas,me espiraram e tenho o sonho de algum dia meus poemas tambem serem publicados

    Responder
  5. Cleiton disse:
    4 de janeiro de 2022 às 05:21

    É necessário que se dê valor a poesias, é com base nelas que nós os jovens Teremos um certo conhecimento.
    A poesia e a música são materiais que devem servir de mensagens e encorajamento para nós!
    Mas hoje em dia está quase tudo perdido principalmente na área musical

    Responder

Respondendo o comentário de Alexande (cancelar resposta)

O seu endereço de e-mail não será publicado. Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

ERMIRA
  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter