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Imagem: detalhe da capa de Batman Year One (1988)
Imagem: detalhe da capa de Batman Year One (1988)
Imagem: detalhe da capa de Batman Year One (1988)

Luís Araujo Pereira em Espirais Professor e escritor | Publicado em 30 de maio de 2018

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
30/05/2018 em Espirais

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Um certo herói

Pelos traços de Bob Kane e Bill Finger, Batman apareceu pela primeira vez no nº 7 da revista Detectiv Comics, de 1939, nos EUA. A partir daí, ganhou muitos desenhistas que dariam vários contornos ao personagem, acumulando camadas de imaginação gráfica e narrando episódios que sempre foram apreciados pelos leitores. Nas décadas seguintes, sem muitas variações, sua mitografia seria moldada da forma como a conhecemos hoje: um inimigo incansável (Coringa), um coadjuvante (Robin) e, entre tantos, um artista  ̶  o melhor de todos: Frank Miller.

Depois de vários antecessores, Frank Miller reinventou Batman. Nas histórias em quadrinhos, nunca deixou de imprimir o seu gênio artístico, criando obras-primas (Sin City, Ronin, Os 300 de Esparta).  Para os admiradores de Batman, não me refiro a O Cavaleiro das Trevas, nas suas duas versões. Eu falo, com entusiasmo, sem nunca deixar de relê-lo, de Batman — Ano Um, história de 1988, que foi produzida com a colaboração de David Mazzucchelli e publicada pela Abril. Eu não saberia apontar outra história sobre esse personagem que seja mais complexa, melhor desenhada e que tenha, por fim, uma imaginação visual tão próxima do desbunde gráfico. Além, é claro, do roteiro. E de uma citação incrível a Edward Hopper, finíssima, para leitor exclusivo. O intertexto visual.

Ele criou a gênese, a nossa Bat-Bíblia. Qualquer outra variação sobre o personagem seria um rascunho. Frank Miller é o Deus de Batman. E  reinventou-o pela razão mais primitiva, que nos reduz: ele é a nossa humanidade, aquela que nos constitui nos nossos sofrimentos mais incompreensíveis. A família, por exemplo, no gibi, é uma história gráfica de luto. Em Eugénie Grandet, de Balzac, na literatura dita “séria”, a perda também causa sofrimento. A dor não tem gênero. Nas HQs modernas têm vingança, muitas onamotopeias e favos de desforra.

Batman previa a sua maldição noturna: observar as trevas da cidade e vigiar os criminosos. Aliás, sempre desconfiara de seu destino: a sensação de metamorfose que seria consumada depois já o acompanhava como um estigma. Os anos de tormento, que precederam a sua dupla personalidade, infernizavam-no por causa de duas palavras: justiça ou vingança? Ele tinha razão, isso vinha de dentro, do abismo: a escolha remetia-o a uma noite, havia alguns anos, em que assistira à cena do assassinato de seus pais. O infeliz órfão. Os traumas, nós sabemos com Freud, produzem monstros, sendo que alguns podem ser chamados de justiceiros.

Muitos anos mais tarde, o milionário Bruce Wayne volta a Gotham City, a cidade fictícia onde o crime é associado aos grandes negócios. O eficiente Alfred, o inspetor Gordon, o departamento de polícia corrupto, os políticos mafiosos: as representações de seu universo são de algum modo um espelho no qual vemos muito da nossa realidade. Batman não é apenas um herói que sabia a dimensão do seu poder e colocava a sua astúcia a serviço da investigação e das deduções detetivescas. Ele sempre farejou, a dois quadrinhos, a canalhice, a sordidez, o cheiro da autoridade apodrecida no estrume do dinheiro.

Não há dúvida de que Batman é melancólico, pois está condenado a repetir, todos os dias, a mesma vida. No meio da escória, durante uma ação, ele sabia escolher às vezes os seus aliados, aqueles que se transformariam depois em sociopatas. O herói intuía quem tinha salvação. O olhar que tudo corrige, o olhar bat. E, evidentemente, uma noção de justiça. Uma moral, a das HQs. Uma lei que é própria do ânimo justiceiro.

Apesar dos recursos supereficientes, que sempre foram decisivos em inúmeras situações de perigo e nos confrontos com os foras da lei, Batman nunca teve ajuda de extraterrestres ou dispôs de recursos implausíveis. A sua indumentária é resultado de uma vidraça quebrada, por acaso. Vocês se lembram? Um morcego, em voo cego, rompe inesperadamente os vidros e desaba aos seus pés, agonizante.

Nesse momento, ele percebe tudo. O herói nasce daí. A dupla personalidade. O milionário filantropo e o vigilante mascarado. A resposta à sua aflição, muitos anos depois de um luto desmedido. O homem-morcego, um herói dos quadrinhos. Como ícone da cultura de massa, é o meu personagem preferido.

Com a sua ousadia imagética, Frank Miller nos ensinou a ler Batman.

 

Tag's: Batman, Batman - Ano Um, David Mazzucchelli, Frank Miller, HQs, quadrinhos

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