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Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 26 de dezembro de 2018

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
26/12/2018 em Florações

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Cinco poemas de Vasco Graça Moura

[Curadoria de Luís Araujo Pereira]

 

 

[1]

primavera printemps

primavera printemps spring avultam

les cuisses de l’aurore noutros calendários

der fruehling des harpes et des luths

um arlequim um madrigal os lábios

 

este poema é feito de encomenda

obviamente sobre a primavera

podia sê-lo sobre o bolor dos vivos

tromboses coronárias sons-of-a-bitch

 

ou fazer strip-tease com o mosto

da martelada esperança literata

com lágrimas na voz e os dois tiques no rosto

a que esses gajos já não ligam nada

 

ou circular nas gares subterrâneas

e nas torneiras do metropolitano

onde nos rails silvam sarabandas

e onde não passam as estações do ano

 

podia sê-lo sobre a primavera

de coração hialino corpo inteiro

hélas chers confrères este nosso signo

peninsular é sempre o do carneiro

 

p.s.  ̶   pois o poeta quase disponível

            o fez agora mesmo a esferográfica

            (ainda se ao menos fosse feito à máquina)

             ̶     que a letra dos poetas é incrível

            e já o camões morreu por sua pátria

• • •

 

[2]

sete sonetos com muito amor

alguns nomes e uma certa ironia

7

(a escrita é impensável) a ocupação dos sonhos

modalidade de delvaux pintando

as estações nocturnas como le nôtre

concebia jardins uma surda harmonia

 

permeada de razão, na verdade o poder

todo o poder tem lógica, corrompe

qualquer visão vulgar. veja o perfume

rendilhado dos cravos a matéria vegetal

 

contudo algumas coisas são sombrias

eu chamo a isso o íntimo da forma

o entrecortar das palavras vozes vozes

que os sentidos recuperam

 

superaremos a indicibilidade?

Ivanka stoianova escreve que

• • •

 

 

[3]

os rostos comunicantes

mas, de tantas solidões da arte,

como escrever sobre uma, não a partir dela,

cabeça de rapariga, um perugino

sobre papel cinzento?

 

como falar de retratos, da sua reverberação anímica,

daqueles que precisam da quase obscuridade,

luz velada que os preserve? sua mina, de chumbo,

crayon branco, papel de desbotar?

 

como falar de sua neutral beleza, seus ovais sugeridos

ou delindo-se? como das metamorfoses, do tempo,

de antónio quarateni

que miguel ângelo desenhou, captando-lhe

 

na juventude oblíqua, o seu olhar ambíguo, feminino,

cerca de 1530? ou de um

dos quatro desenhos de filippino lippi

e de raffaellino

 

do libro de’ disegni? como captar

em palavras escassas, com hipálages graves, seu aquele

interior sossego de modelo   ̶   nada a ver

com a indiferença mas a pura

 

transfiguração do lápis? ou como, se quiserdes,

transpor o vício quase entreaberto

de um burne-jones no estudo

para uma das graças de vénus manlia,

 

o seu olhar velando

promessas indiferentes?

ou ainda  uma

mulher deitada de klimt,

de bruços, sua ausência

sensual de olhar em arabesco? ou aquela

cabeça de rapaz, de lupi,

hoje na capa de um livro, o meio sorriso

 

que ignora a morte e a tem presente?

questões, questões,

inodoras, sem música, mentais melancolias indizíveis,

que têm a ver com uma verdade da arte

 

ou com a sua mentira (a mais grave da nossa condição),

no mais fundo de aceitarmos uma ou outra, o

simulacro de um conhecimento, de tantas nossas

inquietações, esperanças; tempos outros? morte?

• • •

 

[4]

jardins do séc. xvi, hypnerotomachia

2

as relações entre os lamentos do saber

e a realidade são mais súbitas

e subtis nos jardins do renascimento: aqui

passeou isabella d’este, meditando

 

a sua divisa do silêncio

e outras simetrias disciplinadoras

da natureza. o plano mostra

como foi esquadriado o sonho e batem

 

certos os lugares da água. os pássaros

descuidar-se-iam na folhagem

do desconcerto do mundo. de bronze

o jovem fauno de braço levantado

 

faz um convite: eamus ad nymphas. a fonte

fica ao fundo da biblioteca.

• • •

 

[5]

os usos da adversidade

de repente, é este o uso da adversidade:

as crianças que ficam aprenderam a matar,

no brasil, em angola, na bósnia, em moçambique,

usam a adversidade como uma faca assassina,

 

de repente uma urgência, um rebate de sinos,

cidades destruídas casa a casa e corpos

e armas abandonadas e incêndios e

silêncios no silêncio, rumores de pó, mais corpos.

 

usam a adversidade como uma carabina.

de repente os motores de um avião que parte

a sua sombra pousa como a asa do destino

nas oliveiras feridas de ruína em ruína

 

e o ruído que faz nestes montões a morte

como se morrer fosse uma cava rotina.

Perfil

Vasco Navarro da Graça Moura nasceu em Foz do Douro (Porto) em 2 de janeiro de 1942 e morreu em Lisboa em 27 de abril de 2014. Poeta, romancista, cronista, ensaísta, tradutor e político, publicou Modo Mudando, o seu primeiro livro de poemas, em 1963. A ele seguiram-se: Semana Inglesa (1965), Quatro Sextinas (1973), O Mês de Setembro e Outros Poemas (1976), Recitativos (1977), Instrumentos para a Melancolia (1980), A Variação dos Semestres deste Ano; 365 Versos Seguido de a Escola de Frankfurt (1981), Nó Cego, o Regresso 1982), Os Rostos Comunicantes (1984), A Sombra das Figuras (1985), A Furiosa Paixão pelo Tangível (1987), O Concerto Campestre (1993), Sonetos Familiares (1995), Regresso de Camões a Lisboa  (1996), Uma Carta no Inverno (1997), Testamento de VGM (2001), Letras do Fado Vulgar (2001), Antologia dos Sessenta Anos (2002) Variações Metálicas (2004), Mais Fados & Companhia (2004), Os Nossos Tristes Assuntos (2006), O Caderno da Casa das Nuvens (2010), Poesia Reunida vol. 1 (2016), Poesia Reunida vol. 2 (2016), A Puxar ao Sentimento   ̶   31 Fadinhos de Autor (2018, póstumo). No campo do ensaio, publicou cerca de 21 títulos, além de 13 romances, duas novelas e dois livros de crônicas. Realizou ainda um trabalho notável como tradutor de Dante, Petrarca, Ronsard,  François Villon,  Molière, Corneille, Racine, Voltaire, Shakespeare e Rilke. Dirigiu o Serviço de Bibliotecas e Apoio à Leitura da Fundação Calouste Gulbenkian. Foi deputado do Parlamento Europeu de 1999 a 2009. Em 2012, assumiu a presidência da Fundação Centro Cultural de Belém. Foi distinguido com inúmeros prêmios literários, entre os quais destacam-se: Prêmio de Poesia do Pen Clube (1940), Prêmio Pessoa (1995), Grande Prêmio de Poesia da APE (1998), Grande Prêmio de Romance e Novela APE/IPLB (2004), Prêmio Vergílio Ferreira (2007), Max Jacob de poesia estrangeira (2007) e Prêmio de Tradução do Ministério da Cultura italiano por suas traduções de Dante e Petrarca.

Tag's: Literatura Portuguesa, poesia, poesia portuguesa, Vasco Graça Moura

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