• Sobre Ermira
  • Colunas
    • Aboios
    • Arlequim
    • Arranca-toco
    • Chapadão
    • Chispas
    • Dedo de prosa
    • Errâncias
    • Especial
    • Espirais
    • Florações
    • Margem
    • Maria faz angu
    • Matutações
    • Miradas
    • Mulherzinhas
    • Projeto Ensaios
    • NoNaDa
    • Pomar
    • Rupestre
    • Tabelinha
    • Terra do sol
    • Veredas
  • Contribua
  • Colunistas
  • Contato
  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter

ERMIRA

  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter
  • Sobre Ermira
  • Colunas
    • Aboios
    • Arlequim
    • Arranca-toco
    • Chapadão
    • Chispas
    • Dedo de prosa
    • Errâncias
    • Especial
    • Espirais
    • Florações
    • Margem
    • Maria faz angu
    • Matutações
    • Miradas
    • Mulherzinhas
    • Projeto Ensaios
    • NoNaDa
    • Pomar
    • Rupestre
    • Tabelinha
    • Terra do sol
    • Veredas
  • Contribua
  • Colunistas
  • Contato

Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 27 de maio de 2018

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
27/05/2018 em Florações

  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Google +
  • Compartilhar no WhatsApp
← Voltar

Cinco poemas de José Godoy Garcia

(Curadoria de Luís Araujo Pereira)

 

[1]

Poesia pequena

Para falar a verdade

gostaria de uma poesia

como se madeira.

 

E que deixasse saudade

como as viagens nos caminhos da infância.

E também fosse igual aos chapéus

dos velhos palhaços.

Os cabelos da mulher amada.

 

E que a minha poesia fosse forte, valente,

como um caminhão carregado de madeira ou saco de sal,

como os sentimentos que o meu coração guarda,

e pudesse derreter, como o fogo, o ferro,

a espada dos tiranos.

 

Poesia pequena como uma estrela

e grande e forte como um cavalo.

E grande e forte como uma locomotiva.

E grande e forte como uma rosa vermelha.

 

̻ ̻ ̻

 

[2]

A manhã está sendo feita

 

Há uma paixão no silêncio da terra.

 

Querem cegar a vida,

                 matar a esperança.

 

Mas é inútil.

Agora os homens estão silenciosos.

Por isso a terra é silenciosa.

Mas é no silêncio que os homens pensam.

 

Tudo que está paralisado

será posto novamente em movimento,

porque em verdade não parou.

É quando se pensa que mais se avança.

 

E com a mesma pontualidade com que o sol

faz a manhã,

uma outra manhã é feita nas mãos do homem.

̻ ̻

 

[3]

Pequena coisa imóvel

Há um ar de vida em flor

na pequena coisa imóvel

que se chama ovo. É manhã?

Montanha? Nuvem? Porco?

Oh Senhora dos Mares e Oceanos

um ovo nunca foi propriamente

algo que tivesse parentesco

consigo mesmo, lembra morada,

lago de água vermelha, sol.

Um ovo é igual à música

que se descobre no dia

ensolarado.

É começo da morte

de qualquer coisa

que vai nascer.

E será vida de qualquer luz

que o trabalho da morte

vai merejar aurora

até vencer.

É suave e sem tristeza

e sua arquitetura lembra

os sóis das origens do mundo

e recorda a pureza da terra.

̻ ̻ ̻

 

[4]

Longe, muito longe

Os ciganos não vieram no estio,

as suas lembranças estavam gravadas nas mentes

dos negros que ceifavam as pragas

naqueles meses de maio e junho.

O frio das madrugadas fustigava os velhos

ladrões e os novos, cínicos, procuravam

os sítios emprestados de transeuntes distraídos.

As mulheres dos negros e os seus rebentos

seguiam aos campos para ajudar seus maridos

e ainda para acalentarem-se do tempo

que endurecia seus nervos e as cegava.

Podia-se ver longe, muito longe,

nas montanhas, lá onde os últimos raios do sol

incendiavam-lhes o corpo de uma ternura

terrestre invencível.

̻ ̻ ̻

 

[5]

Espécie de balada da moça de Goiatuba

Em Goiatuba

tem uma moça

que coração

grande ela tem

 

Em Goiatuba

tem uma moça

que coração

grande ela tem.

 

A moça de lá

é só chamar vem

 

De Goiatuba

eu guardo

muitas recordações

 

De lá eu guardo

muitas recordações

 

Lá tem rua

que parece bicho

querendo se esconder

por detrás do mato

 

Lá tem homem

que lutou na revolução

 

Lá tem farmacêutico

que sabe latim

 

Lá tem padre que mora

com mulher na rua de cima

e de tarde sobe de lanterna na mão

 

Lá tem cadeia

assombrada

e tem louco nas grades rindo feito

bicho com fome

 

Em Goiatuba

tem uma moça

que coração

bom ela tem

 

A moça de lá

desde menina

serve aos homens

com sabedoria

 

Toda moça no mundo

aprende que o corpo

não se pode mostrar

vestido deve vestir

vergonha deve sentir

amor deve esconder

sonho pode sonhar

 

A moça de lá

não aprendeu a sonhar

 

A moça de Goiatuba

é como a fonte

que dá de beber

é como a árvore

que dá os frutos

é como a noite

que dá as estrelas

Ela só não compreende por que os homens

têm tanta coisa com ela

 

Um dia indagou:

̶  “Por que ôceis me mandam

deitar no chão?”

 

̶ “Eu visto meu vestido,

eu ponho colar bonito,

eu enfeito os meus cabelos

com flor

Eu estou bonita

com o meu vestido

eu estou bonita

com esta flor

vocês me mandam tirar vestido,

vocês são bobos?”

 

Lá em Goiatuba

tem uma moça

que coração

grande ela tem.

 

A moça de lá

é só chamar vem.

Perfil

José Godoy Garcia nasceu em Jataí (GO) no dia 3 de junho de 1918 e faleceu em Brasília (DF) no dia 20 de junho de 2001. Em Goiânia, concluiu em 1948 o curso de Direito. Transferiu-se para Brasília no ano de 1957, onde desenvolve as suas principais atividades, profissionais e intelectuais. Durante 12 anos, esteve filiado ao Partido Comunista. Publicou os seguintes livros de poemas: Rio do Sono (1948, Prêmio da Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos), Araguaia Mansidão (1972), A Casa do Viramundo (1980), Aqui É a Terra (1980), Entre Hinos e Bandeiras (1985), Os Morcegos (1987), Os Dinossauros dos Sete Mares (1988), O Flautista e o Mundo Sol Verde e Vermelho (1994), A Última Nova Estrela (1999) e Poesia (1999). Publicou ainda o romance Caminho de Trombas (1966), o livro de contos Florismundo Periquito (1990) e Aprendiz de Feiticeiro (1997), livro de crítica literária. Em prefácio à coletânea Poesia, edição comemorativa de 50 anos de poesia do autor, Salomão Sousa, poeta goiano radicado em Brasília, chama a atenção para aspectos sociais, culturais e políticos de sua produção, destacando a importância de sua obra para a literatura brasileira. Diz ele que “A sua lição de poesia é a de inventar o mundo que já existe”.

Tag's: centenário de nascimento, José Godoy Garcia, poesia, poesia goiana

  • Certo bar

    por Luís Araujo Pereira em Espirais

  • Águas femininas

    por Da Reportagem/Ermira em Veredas

  • Inúmeros, numerosos, infinitos números

    por Marília Fleury em Pomar

  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Google +
  • Compartilhar no WhatsApp

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.

3 comentários em “Cinco poemas de José Godoy Garcia”

  1. Isabela godoy garcia disse:
    30 de maio de 2018 às 08:32

    Maravilhosa homenagem, ele, de onde estiver comemora junto; sempre amou destruir suas poesias. Obrigada, muito obrigado

    Responder
  2. Andrea Godoy Garcia disse:
    2 de junho de 2018 às 08:44

    meu tio querido,
    o tio da boina empoeirada
    da mente arejada
    do olhar orofundo
    e de uma tal gargalhada
    que mais parecia
    um gole de água gelada
    num dia de sequidão.
    Saudades
    de seu amor pela natureza,
    de sua honestidade.
    Lá estava,
    Meu tio de boina empoeirada…
    no quintal com a meninada….
    fazendo nascer pra sempre,
    as memórias de minha infância
    que os anos não apagaram,
    nem apagarão.
    Tio Ze,
    obrigada…

    Responder
  3. Aparecida Meireles disse:
    5 de novembro de 2018 às 11:09

    Conheci José Godoy Garcia através do poema “Namorada Morta”. “Hoje, Rosa, depois do seu enterro choveu…” Inicia- se assim o poema. Quando perdi minha mãezinha, que se chamava Rosa, me apeguei a esse poema como se fosse uma oração. Amei conhecer esse grande poeta goiano

    Responder

Deixe um comentário (cancelar resposta)

O seu endereço de e-mail não será publicado. Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

ERMIRA
  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter