Tão sensual quanto Gabriela, tão misteriosa quanto Capitu – e por vezes uma figura tão fugidia e onírica, como se fosse apenas fruto do desvario de uma mente perturbada, quanto a Dulcineia de Quixote. Como Jorge Amado, Machado de Assis e Cervantes, Carmo Bernardes criou uma personagem feminina inesquecível. Ermira, a fogosa morena do romance Jurubatuba, é uma espécie de femme fatale do sertão goiano.
Seu corpo é sinônimo de deleite, mas também de perdição. Entre Eros e Tanatos, Ermira – esta mulher que leva o vaqueiro Ramiro a perder a independência e o juízo – é uma promessa de prazer permanente, mas também a vereda que pode conduzir à morte.
Ermira nunca se revela completamente, desafia-nos como um enigma. Também pudera. Tudo que sabemos dela é por intermédio da mais inconfiável das fontes: o peão Ramiro, narrador da trama. Será que Ermira era mesmo essa força descomum de sedução? – o próprio Ramiro duvida, ao evocar a lembrança da “senhora-dona” da Fazenda Jurubatuba. Memórias turvas de um tempo que esse peão de temperamento agreste vivia, como ele mesmo admite, em um estado de semiembriaguez constante – culpa da cachaça e do “xodó desesperado” com aquela moça dengosa de braços bonitos e requebrar de onça suçuarana.
“Ermira era toda muito bonita e, nela, o que mais me encantava eram os braços. Não sei se porque meio rouca e sempre descansada no pronunciar certas palavras, sua fala, também, me cativava um pouco. Trecho do romance Jurubatuba, de Carmo Bernardes”
Ora meiga e delicada, uma “boneca de mimosa”, de cabelos perfumados e voz meio rouca que enche a casa de alegria com o seu cantar. Ora a amante dominadora e doidivanas, cujo olhar morteiro tira Ramiro do prumo e cujos beiços carnudos se esmeram em renovar o chupão-de-amor no peito do peão, a marca de propriedade da patroa. Ermira é doçura e mansidão, e é também desespero e flagelo.
A mulher que faz juras de amor a Ramiro é a mesma que o leva a abrir mão da autonomia da vida errante para se tornar o que o peão mais desprezava: um pau-mandado na Fazenda Jurubatuba, servil à ordem do latifúndio.
Mas talvez todo o mistério em torno desse caráter ambíguo de Ermira não passe de uma fabulação do próprio Ramiro, cujo juízo perturbado pelo álcool, pelo rancor e pela paixão o impede de aceitar – embora ele algumas vezes até consiga raciocinar com mais sensatez nesse sentido – algo muito mais simples. Ermira não é nenhuma tirana ingrata, como ele a acusa, mas uma fêmea em sua plenitude que só quer aproveitar o melhor da vida.
E o melhor da vida, para ela, é ter um amante jovem e ardente, como Ramiro, sempre à disposição, sem abdicar da fachada respeitável de “senhora-dona” casada, ao lado do marido mais velho. Quem poderia censurá-la, tendo em vista que até seo-Simeão,o marido sonso de Ermira, parece não se incomodar com as escapadas da mulher?
No ambiente machista do meio rural, Ermira inverte os códigos e por isso causa tanta perplexidade. Fiel apenas a si mesma e a seus desejos, o que essa morena quer é simplesmente… gozar.
Parabens ! Muito sucesso!
Parabéns! Muito sucesso em seu novo projeto.
Muito sucesso à nova plataforma do Jornalismo Cultural. Adorei o nome Ermira, que homenageia nosso amado Carmo Bernardes, e o conceito da página. Sucesso e vida longa…. longa…
Parabéns, ao redatores – ex-POP’s ou não.
Evoé, caríssima Rosângela & cia. – equipe Ermira!
Prof. Rogério com quem estive uma vez é um competente articulista e soube que também ótimo professor.
Abraços e longa vida à ERMIRA.
Beto.
Seu texto é um convite à leitura de Jurubatuba. Acaba de entrar na minha lista!
Vida longa a Ermira!
Maravilhosa! Não conhecia!