Negócio de música digital já é maior do que de música “física”. Já vinha sendo no mundo, agora é realidade também no Brasil. O novo Global Music Report, relatório da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI, sigla em inglês), mostra que mundialmente as vendas físicas de música caíram 4,5% em 2015, enquanto as receitas da área digital cresceram 10,2%, e já representam mais da metade do faturamento com música gravada em 19 países, incluindo o Brasil. O setor fechou o ano passado com faturamento de US$ 15 bilhões (alta de 3,2%). Alguém pode objetar: mas e o vinil, cujas vendas também crescem? Sim, é o melhor nicho do setor, apenas isso, nicho. Até uma nova fábrica do gênero será aberta em São Paulo, no segundo semestre, para explorar o nicho. E deve continuar assim, coisa para tarados audiófilos, porque, basta lembrar, um vinil custa, em média, R$ 100.
Culpa do streaming
Mais do que reverter uma expectativa (muitos achavam que a internet mataria o comércio de música), o azul das planilhas aponta uma tendência. E tudo por causa do streaming, esse novo jeito de consumir música. Ele é o formato que cresce mais rápido, já representando 19% do total das receitas fonográficas. O total de assinantes de serviços tipo “premium” (não ouve propaganda, só música) de streaming cresceu 65,8% em 2015, somando 68 milhões de assinantes em todo o mundo. O download, por ora, segue com a maior fatia do mercado fonográfico (20%), mas ninguém do meio aposta que vá se manter assim, a continuidade da queda é líquida e certa.
No Brasil
Já o mercado nacional (digital + físico) aumentou suas receitas em 10,6% em 2015, também puxado pela área digital (45,1%). O Brasil também é disparado o lugar onde o streaming mais tem crescido. As receitas de assinatura desse serviço subiram nada menos do que 192,4% no ano passado, comparado com 2014. Ganhos com distribuição de música digital no Brasil representaram 61% de tudo que se vendeu nessa seara no país ano passado (contra 48% em 2014). Enquanto isso, vendas físicas seguem ladeira abaixo (-19,3%). Todos esses percentuais referem-se ao valor total de R$ 519,2 milhões apurados ano passado, sendo que R$ 207,7 milhões vieram só do serviço de pagar para ouvir. A ABPD (associação nacional do setor) não sabe informar quantos assinantes de streaming existem no Brasil.
Nem tudo são flores
Os números são animadores para quem vive de música, mas há muitos problemas no horizonte. Primeiro que a máxima de que “ninguém ganha dinheiro na internet” ainda assombra. Já melhora um pouco, porque os números mostram que “alguém já está ganhando dinheiro na internet”. Isso vale para música e outros serviços intangíveis cambiados na grande rede digital. O desafio é fazer com que essa grana chegue no bolso do artista, outro grande gargalo. A forma de distribuição de direitos, que sempre foi problemática no meio físico, ainda está longe de ser equacionada no meio digital. Não à toa, o rapper Jay Z lançou sua própria empresa (Tidal) prometendo melhor remuneração (aos artistas) e mais qualidade de áudio (aos usuários). Outro desafio é a universalização da internet banda larga com qualidade suficiente para garantir a expansão do negócio. Esse desafio ganhou contornos no Brasil de contratempo, com a vontade das empresas de telefonia de limitar a banda larga dos usuários. A conferir.
Morte e vida do MinC
Tal como ocorre no fla-flu partidário que tomou conta da discussão política no Brasil, o novelão promovido pelo governo interino de Michel Temer com a pasta da Cultura jogou o ministério no mesmo caldeirão. Sem propor nada novo, apenas sua (abortada a fórceps) extinção e anexação à pasta da Educação, o governo interino colocou gasolina no já incendiado debate em torno de temas de interesse público. Sobrou um festival de desinformação a alimentar a moenda do preconceito e da histeria vazia. A resenha passou longe de apontar a serventia do ministério, o que tem sido feito de suas políticas, que balanço pode ser feito da gestão Gilberto Gil/Juca Ferreira (gestão esta que Dilma afogou), qual o norte do Fundo Nacional de Cultura e se a sociedade brasileira quer mesmo continuar deixando os departamentos de marketing das empresas definirem quem merece ou não receber dinheiro público via incentivo fiscal (Lei Rouanet) para fazer propaganda travestida de arte. Foi até interessante ver tanta gente defendendo o MinC, mesmo sem saber exatamente para quê, o que colocou no mesmo balaio quem perderia e quem ganharia com a coisa. No final, o MinC voltou redivivo nas mãos de um representante de Ipanema, para regozijo geral dos de sempre.
Baile perfumado
Os bailes chiques da classe média brasileira seguem cultivando a música do “baixo clero”, ma non troppo. O hit funkeiro Baile de Favela (MC João) tem aparecido remixado nos salões abastados, dando uma higienizada na letra. À certa altura, os coloquiais versos originais são substituídos por “e os menó preparado [sic] pra dançar com ela…”.
Epílogo
“Antigamente no Brasil, pouca gente lia e menos ainda escrevia. Hoje, ninguém lê e todo mundo escreve”, Celso Unzelte, jornalista da TV ESPN