Desde meados dos anos 90, justamente quando tais leis começaram a ser aplicadas, o cinema brasileiro recomeçou a andar, após um período de seca e estagnação quase absoluta. Não por acaso, o hiato de produção que se deu entre a segunda metade da década de 80 e o início dos anos 90 tem como principais causas o fim da Embrafilme e a era Collor. Somado a essas variáveis estatais, o mercado contribui para essa depressão com o fechamento de centenas de salas de cinema de rua em todo o país.
Após a criação das leis de incentivo, primeiro em nível federal, depois estadual e municipal, o que se viu foi uma efervescência que reanimou dinossauros a entrar mais uma vez na aventura de fazer cinema e, ao mesmo tempo, inspirou toda uma nova geração. O resultado foram vários prêmios e destaque no cenário internacional, algumas bilheterias realmente grandes, na casa dos milhões de espectadores, e um número que deixa a desejar quando se fala nos chamados filmes médios ? algo em torno de 500 mil espectadores.
Uma fatia considerável das produções brasileiras tem tido como principal ? quando não a única ? janela de exibição as telas dos festivais e mostras que também se espalharam por todo o país, quase todos com patrocínio do Estado. A partir de meados dos anos 90, o aumento do parque exibidor nas capitais se deu nos shoppings, e neste caso o lucro rápido da lógica dos blockbusters resultou em roteiros pouco animadores para o cinema brasileiro, com exceções como Cidade de Deus, Tropa de Elite e 2 Filhos de Francisco, que foram seguidas pela febre das comédias.
Repetindo um enredo já conhecido, boa parte dos incentivos, recursos e programas de fomento cultural concentrou-se no Sudeste e só recentemente começaram a ser efetivadas estratégias para a produção regional. Essas distorções têm sido parcialmente mitigadas por iniciativas de governos estaduais e municipais, cobrados pela classe artística de regiões tradicionalmente esquecidas como Goiás.
Porém, além de recursos bem mais modestos, em relação ao cinema o que se observa por aqui é a descontinuidade de projetos que vão além da exibição de filmes, como editais para a produção e projetos de qualificação profissional. Exemplos como o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental de Goiás (Fica) e a Goiânia Mostra Curtas, o primeiro produzido pelo governo estadual e o segundo pelo Instituto de Cultura e Meio Ambiente, só reafirmam o quanto políticas e iniciativas locais são importantes e ainda têm o poder de incentivar ainda mais a produção, a discussão e a formação de público.
Hoje Goiás conta também com outros festivais, inclusive de menor porte que os já citados, mas com objetivos bem definidos, como o Fronteira e o Perro Loco. As universidades passaram a oferecer cursos de cinema e audiovisual, num passo essencial para a qualificação profissional nas principais etapas da produção, com o auxílio providencial de uma tecnologia de custo mais acessível que na era da película. Para este ano são esperados a filmagem e a finalização de pelo menos cinco longas goianos de ficção.
Imagine tudo isso sem uma política cultural pública, qualquer que seja a origem ou o partido. Obviamente a existência de uma pasta específica para a cultura não é garantia de bons projetos, nem assegura a disponibilidade de recursos e muito menos impede distorções como o sotaque carioca ou paulista na grande maioria das produções da indústria cultural brasileira consumida no país. Porém, o que ficou mais claro ainda com esse episódio de termos ou não o MinC é que o tema cultura não é luxo, principalmente quando se tem em vista, ao menos a longo prazo, uma independência maior do segmento, financeira e ideológica.