Harvey Dent, ou Duas-Caras, inimigo de Batman, certa vez disse: “Ou você morre como um herói, ou vive o bastante para tornar-se um vilão”. Não sabemos, mas Lionel Messi poderia até ter pensado nessa frase ao dizer que nunca mais joga pela Argentina, após a derrota nos pênaltis contra o Chile na final da Copa América. Só que, nesse caso, já é tarde. Ele, aos 29 anos, parece ter vivido o bastante para se tornar um vilão. Uma triste constatação para um atleta inigualável e que, por conta de seguidos fracassos da seleção de futebol de seu país, parece carregar, sozinho, todas essas seguidas decepções apenas em seus ombros.
A Argentina está há 23 anos sem ganhar um título. Durante esse tempo, montou grandes times. O mais recente é um dos melhores do mundo. Foi derrotado na última Copa do Mundo pela Alemanha, mas poderia ter vencido, caso o atacante Higuaín tivesse feito um gol quando estava sozinho em frente ao goleiro. Assim como na última final contra o Chile, se o mesmo Higuaín não tivesse perdido outro gol sozinho, cara a cara com o goleiro. Alguém se lembra de Higuaín? Poucos. E a história se repete.
O futebol é um jogo coletivo. Quando um craque coleciona muitos títulos na carreira, é glorificado e o jogo coletivo é deixado de lado. O mesmo acontece quando um craque coleciona derrotas. Nesse caso, ele é depreciado. Já aconteceu com outros. A história agora só se repete. No caso da Argentina, a seleção parece não saber vencer mais. Faz campeonatos belíssimos, joga bem, decide. Mas na hora de decidir, falha. Outro inimigo de Batman, o Scarecrow, diria que “não há nada a temer, a não ser seu próprio medo”. E é justamente esse sentimento que a Argentina parece ter em decisões.
E Messi está no meio disso tudo. Ou melhor, estava. Decidiu deixar a derrota de lado, o medo do medo. Deve ser duro. Quando se fala em seleção argentina, é um vilão. Decidiu ser vilão. As duas caras do mesmo jogador. É vilão mesmo sendo o maior artilheiro de seu país em todos os tempos. Um absurdo! Se eu pudesse dar um conselho a Messi seria para continuar. Vilão ele já é. O que pode vir depois disso? Tornar-se herói novamente, talvez. Daqui a dois anos teremos outra Copa do Mundo. A Argentina continuará com um grande time. Ele deveria pensar em tentar de novo. Daria uma demonstração de que o esporte não é apenas para vencer, mas para disputar, tentar alcançar aquilo que não conseguiu. Sem desistir. Do início ao fim.
A hora agora é de tristeza, a mais profunda que certamente Messi sentiu jogando pela Argentina. Mas tudo tem dois lados. Uma hora a moeda cai com a face inédita para cima e Messi pode ser campeão pela Argentina. Isso me faz lembrar outra frase de Harvey Dent, o Duas-Caras: “A noite é mais escura um pouco antes do amanhecer”.
Análise curiosa. Gostei!