A carreira de fotógrafo não é fácil. A maior parte do tempo, diferente do que muitos pensam, não passamos atrás da câmera produzindo imagens e viajando pelo mundo. Tarefas mais mundanas, mas também importantes, como planejamento de marketing, elaboração de orçamentos, reuniões de briefing, gestão de marca e gerenciamento de website e redes sociais, ocupam a maior parte de nossas responsabilidades diárias. Por isso, ensaios fotográficos como o que produzi na Avenida Goiás, no Centro de Goiânia, devem estar sempre na lista de prioridades do profissional.
Projetos pessoais como este servem, inclusive, para manter a sanidade do artista, que não precisa esperar por uma inspiração divina para manter seu processo criativo fluindo. Basta sair de casa e pôr a cabeça e a câmera para funcionar. Na verdade, é possível fazer isso até mesmo em casa. Não me entenda mal, não menosprezo a necessidade de um bom planejamento e do desenvolvimento de projetos de longo prazo, mas, às vezes, tudo que precisamos é apenas manter a espontaneidade e nutrir o gosto instintivo que num primeiro momento nos despertou para a fotografia como meio de expressão.
No dia que resolvi sair para produzir estas fotos era uma segunda-feira, sem nada programado para acontecer. Não havia sessão de fotos agendada, reunião com cliente marcada ou imagens a serem tratadas. Nada. Isso mesmo, tem dias que o fotógrafo não tem nada pra fotografar ou algo urgente ou importante para fazer e, infelizmente, esses momentos são mais corriqueiros do que gostaríamos. Trabalhos burocráticos, como disse, não faltam. Mas há coisas que podem ser adiadas em nome de um bem maior, a tal sanidade, por exemplo.
Mesmo ainda não sabendo ao certo o que fazer naquele dia, peguei minha câmera e fui pra rua. Como meu itinerário previa uma parada rápida na Praça Cívica, decidi que até chegar lá eu já teria definido pelo menos um tema pra explorar. Optei pelo mais óbvio que minha posição geográfica e o contexto me mostraram. Resolvi estacionar perto da praça e caminhar pela Avenida Goiás e registrar o início da semana de quem trabalha ou mora na região.
Enquanto andava, meu olhar foi sendo atraído pelas cores e pelos padrões que as pessoas e os objetos criavam a minha frente. Fotografei a fome do trabalhador, flagrado em sua admiração pelos salgados da vitrine, a dúvida do senhor que avaliava a lista de periódicos na banca de revista, a calma do homem que optou por ler seu jornal no banco do canteiro central da avenida, a esperança preguiçosa do comprador de ouro esperando sentado pelo primeiro negócio do dia e ainda a espera atenta das senhoras que aguardavam o melhor momento para atravessar a larga via de pistas duplas e fluxo constante de carros e ônibus.
A pretensão naquela segunda-feira de manhã não foi ser genial ou visionário, foi apenas ser. As fotos estão aí e, independentemente de o espectador ter achado o resultado prosaico, superficial ou fantástico, minha expectativa inicial foi atingida. Mantive-me são, me diverti, exercitei minha fotografia e, subvertendo o destino de uma segunda-feira típica, saí de lá feliz com pelo menos uma pequena história pra contar.
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Siga com seus cliques, Enio. E eu, admiradora dos seus ensaios, fico à espera do próximo.
Parabéns!
Trabalho com um belo olhar! Amei a narrativa, me identifiquei!