Distante cerca de 480 quilômetros de Paris e quase mil de Nice, palco do atentando terrorista da última quinta-feira, dia 14, e que deixou pelo menos 84 mortos, La Rochelle viveu uma sexta-feira normal de uma cidade turística e universitária em início do verão no Hemisfério Norte. O porto milenar das duas torres, conhecido também como La Rebelle, não se deixou abater pelo atentado que manchou de sangue a comemoração da Revolução Francesa.
Com pouco mais de 80 mil habitantes, La Rochelle costuma perder boa parte de seus moradores durante o verão. Por outro lado, no entanto, ganha milhares de turistas, principalmente da França e de outros países da Europa. Em La Rochelle, o “day after” de mais uma ação terrorista na França não retrata o que aconteceu horas antes no país.
Exceto pelas bandeiras hasteadas a meio-pau, as pessoas foram às ruas, lotando a Quai Duperré, avenida que beira o porto antigo e é a hospedeira de restaurantes, hotéis e espaço para performances culturais quando escurece (no verão, lá pelas 22 horas). Nem mesmo o policiamento ostensivo inibiu esse movimento.
Pessoas descansavam no gramado no canal de entrada da torre antiga, enquanto famílias passeavam de bicicleta. Outros pegavam uma carona nos últimos ensaios e na passagem de som para mais um dia de Franco Folies, tradicional espetáculo musical que acontece há mais de 30 verões na cidade e reúne artistas e público de toda a França. Em sua abertura, no dia 13, quinta-feira, tive a oportunidade de presenciar um ambiente de tranquilidade. Pais e filhos juntos, sem medo do terrorismo, como mostra este breve vídeo de uma das apresentações culturais do festival.
La Rochelle está longe de Nice, isso poderia servir de argumento para explicar um clima não muito condizente com o luto na cidade. Todavia, mesmo longe de mais um epicentro do terror, é possível traduzir que o sentimento dos franceses é espelhado um pouco pelo que se vê nesta cidade portuária. O francês não se deixar intimidar pelo terror.
Willian Léger, parisiense e professor universitário que mora em La Rochelle, é um exemplo. Dividido entre a sala de aula do curso de verão e a paternidade eminente – sua mulher está para dar à luz o segundo filho do casal –, Willian conversou com Ermira sobre o atentado. “É um acontecimento dramático para todos nós, seja de Paris, de Nice ou de La Rochelle. É triste, é dramático, mas a vida vai continuar. Não é um ataque terrorista que vai abalar os valores da igualdade, liberdade e fraternidade que são os valores da França. Esses ideias permanecem importantes, são um legado da Revolução Francesa, do Iluminismo”, reafirma.
Willian tem consciência de que o 14 de Julho de Nice não vai ser o último. “Sabemos que o terrorismo não vai acabar, mas, mesmo assim, não vamos deixar o medo tomar conta até porque é triste, dolorido, mas nós nos habituamos a isso, já passamos por coisa pior e não vamos deixar de sair nas ruas. Eles não vão nos deixar com medo. Vamos continuar a viver normalmente, vamos ao festival Franco Folies, a vida continua.”
Se cara e nome revelam nacionalidade, a professora Isabella Queyroux é um exemplo de francesa. Alta (quase 1,80m), magra, olhos claros, elegante com seus cabelos brancos, ela é diretora da Faculdade de Letras da Universidade de La Rochelle. O ano todo, e principalmente nos cursos de verão, convive com estudantes de diversos países, brasileiros, norte-americanos, ingleses, chineses, indonésios e vietnamitas, dentre outros. “É muito difícil conviver com o terrorismo, sem dúvida alguma, mas não é a primeira vez que isso acontece”, afirma ela, que ratifica o pensamento de William ao lembrar que o povo francês não vai deixar que os princípios iluministas sejam destruídos.
Os atentados são um risco cotidiano, assim como os acidentes de carros nas ruas. É a vida moderna.” Sobre o acirramento da xenofobia, Isabelle não titubeia. “Os estrangeiros vão continuar sendo recebidos aqui, a França é um país que acolhe. Sabemos que estas coisas terríveis são executadas por grupos minoritários, pequenos, e nós não vamos nos deixar levar por isso e nem deixarmos de professar os princípios que tanto preservamos”, promete.
A França que estou tendo a oportunidade de conhecer em La Rochelle, em cidades vizinhas e também em Paris, é uma França branca, negra e mestiça. Continua iluminista e laica, mas também guarda em seu interior católicos, protestantes e muçulmanos.
Mourad e Manal Alnatour são casados, têm três filhos e moram na França há um ano e sete meses. Eles são alguns dos milhões de muçulmanos que vivem no país. Jornalista, Mourad foi jurado de morte pelo governo de seu país natal, a Síria. Perguntados como se sentiam tendo que fugir de sua pátria devido ao terrorismo de Estado e agora vivendo em um país que é um dos alvos prediletos do terrorismo, Mourad é categórico: “Nós saímos da Síria devido ao terrorismo de Bashar Al Assad (ditador que governa o país) e por causa dos outros grupos terroristas. São dois tipos de terrorismo. Mas Bashar criou o terrorismo na Síria.”
Ele explica que, depois do fracasso da revolução na Síria, brutalmente reprimida pelo governo, começaram a surgir grupos terroristas dentro do país, não apenas sírios, mas da Tunísia, Argélia, Arábia Saudita, da Europa, das Américas. Segundo ele, todos estes grupos fazem de fato a guerra contra a população síria. E por isso os sírios estão fugindo devido a essas ameaças vindas de toda a parte. “Nós saímos da Síria vítimas do terrorismo. E aqui na França o terrorismo pratica outro tipo de crime, agora contra a liberdade, contra nós sírios, contra os franceses e contra todo o mundo, seja o islâmico, da Rússia, do Irã, são todos contra a liberdade, portanto, são todos terroristas.”
Questionado se tem medo de sofrer preconceito, o casal rememora a noite do atentado em Nice. “Nós fomos com a nossa família ver os fogos, junto com todas as pessoas nas ruas, com os franceses, e por isso nos sentimos vítimas do que aconteceu assim como os franceses. Portanto, nos sentimos integrados.”
A França recebe milhões de estrangeiros todos os anos, para fazer turismo, negócios ou estudar. O advogado goiano Geraldo Santana Xavier Nunes Neto está fazendo um curso de verão. Tem 35 anos e é a sua primeira viagem ao exterior. Indagado se o episódio ocorrido em Nice abala seu desejo de fazer outras viagens, Geraldo é enfático.
“Não pensaria duas vezes em viajar novamente para a França. A situação que se mostra aqui é bem distinta. Eu enxergo um país seguro, mas que precisa de cuidados porque durante muito tempo a entrada de pessoas não teve o controle e o zelo que se vê em outros países, como os Estados Unidos, por exemplo, e talvez também muito por conta de problemas históricos, mas que devem ser controlados. No dia a dia do francês, o que eu observo é a não presença de medo. Para lhe falar a verdade, não sei por que a França foi escolhida como alvo”, observa.
Willian, Isabelle, Mourad, Manal, Geraldo compõem apenas cinco visões de pessoas longe do que aconteceu no dia 14 de julho em Nice. São depoimentos que talvez não tenham valor metodológico para mostrar como a França reagiu no dia seguinte a mais um atentando terrorista. Nem mesmo La Rochelle, com seus quase 80 mil habitantes, pode representar um país inteiro. Todavia, eles expressaram o que se vê, o que se sente, o que se respira nas ruas: a França não está acuada pelo terror. Seu povo sabe que o terror é um perigo real, mas continua a viver normalmente., é dramático, mas a vida vai continuar.
O título dessa reportagem trai a verdade – o jornalismo que caracteriza (ou deveria) os talentos reunidos em torno de Ermira.
A França se apequena a cada dia com a islamização permanente, o desvio dos ideais judaico-cristãos de sua cultura ancestral, via inércia de um governo viciado e vicioso. Incompetente e avesso à ação preventiva, o governo francês é competente em dourar a pílula e em elaborar uma narrativa. Coisa que o repórter Lisita parece também se destacar. Vals-Hollande são incompetentes. Um país que se curva com tal “tolerância” mostra partes podres de seu corpo em decomposição.
https://www.youtube.com/watch?v=zrK89Ht7sKI
O que esclarece ainda mais o que eu disse antes…”“A experiência radical de estar certo e desejar que todos estejam igualmente certos a partir dessas nossas crenças radicalizadas constitui a chave de compreensão das sangrentas catástrofes políticas – o último estágio das grandes certezas ideológicas, a exclusão completa de todo aquele que atrapalha efetivamente nossas realizações. (…) O fato é que nenhum terrorista nutre algum sentimento de dúvida acerca de suas mais nobres convicções. Todos, sem exceção, partiram, pelo menos no nível do apego sentimental a uma crença, da experiência de que valeria muito a pena lutar e, acima de tudo, matar e morrer por uma grande verdade”. O trecho, atualíssimo depois do atentado terrorista na França, é do livro “A imaginação totalitária – Os perigos da política como esperança”, do professor de Filosofia Francisco Razzo (Ed. Record, 336 pgs., em lançamento, julho/16).