Desde 2014, quando teve início, a Manga de Vento – Mostra de Dança Expandida trouxe para Goiânia dezenas de espetáculos de alto nível. Bailarinos brasileiros e estrangeiros têm tido oportunidade de mostrar todo seu potencial criativo em palcos convencionais e alternativos , e os espectadores de assistirem a espetáculos que dificilmente chegariam por aqui. A experimentação tem sido uma das marcas das coreografias de dança contemporânea, levantando questionamentos e muita admiração.
Por trás da Manga de Vento, há produtores antenados com tudo o que ocorre na dança no Brasil e no mundo. Professor, coreógrafo e bailarino, Kleber Damaso é um desses produtores, que estão sempre em busca do novo. A edição 2016 que começou em abril estreou com Anatomia do Cavalo, solo inquietante de Marcos Moraes, agora em cartaz em São Paulo. Em junho vieram Desmonte, de Juliana Moraes, e Ouriço, de Leo França. Sucesso total no Sesc Centro e no Centro Cultural UFG.
Nesta quinta-feira, dia 21, a Cia. Daniel Abreu, de Madri (Espanha), apresenta Cabeza, no Teatro Sesc Centro, cujo enfoque principal é a construção-destruição. Um lugar de começo e ao mesmo tempo de fim. Criada em 2004, a companhia tem amplo repertório de coreografias. Conquistou as mais importantes premiações em festivais e participou de mostras na Espanha e no exterior.
Na sexta-feira, dia 22, o grupo espanhol apresenta ao público a coreografia Animal, no Teatro Sesi. Elaborado por Daniel Abreu, o espetáculo explora situações primitivas e animalescas.
A Manga de Vento – Mostra de Dança Expandida nasceu dentro da Escola de Música e Artes Cênicas da UFG, onde Kleber Damaso é professor. Patrocinada pelo Fundo de Arte e Cultura de Goiás, Lei Goyazes de Incentivo à Cultura e Lei Municipal de Incentivo à Cultura, prima pela diversidade de propostas na área da dança contemporânea, e oferece espetáculos de qualidade a um público ávido pelas novidades, pelo diferente. Até novembro, estarão em cartaz 8 dos 13 espetáculos convidados de 2016.
No começo do mês, no dia 7 de julho, a Cia. Vidança, do bailarino e coreógrafo Marcos Abranches, de São Paulo, ocupou o palco do Teatro Sesc Centro com um solo arrebatador. Inspirado no artista plástico irlandês Francis Bacon, o espetáculo mescla dança e artes plásticas. Portador de coreoatetose, doença rara decorrente de uma lesão cerebral, que se manifesta a partir de movimentos involuntários, intermitentes e irregulares da face e dos membros, Abranches usa o corpo inteiro para fazer belas-artes. Na verdade, uma imensa tela com tinta guache sobre papel em cores vibrantes.
O bailarino já está em cena quando os espectadores entram no teatro. Move os braços descontroladamente, as pernas, a cabeça sem parar. A música é intensa, agita todo o ambiente como se seguisse cada movimento do bailarino, que fuma agitado como se esperasse alguém. Em uma pequena pausa, senta-se em uma mesa, onde há uma taça e uma garrafa de vinho. Pressupõe-se que vai beber.
De repente, o artista derrama o líquido sobre a camisa branca, a calça do terno escuro que vestia. O aroma do vinho recende em toda a sala, misturado ao tabaco. O cavalete o espera a um canto. Tintas de variados tons o aguardam em pequenos potes prontas para serem usadas. Como se fosse um enorme pincel, o bailarino vai se lambuzando de tinta no chão em movimentos descontrolados, dramáticos, formando enormes manchas coloridas na grande tela que é o palco. Puro encantamento.
Apesar das limitações, Marcos Abranches, 39 anos, mostra grande sensibilidade artística. Sente-se inteiramente livre no palco. “Sou livre para o silêncio das formas, das cores na riqueza de pintar uma obra. As cores são vida. Podemos ser mais coloridos na forma de pensar”, afirma o artista, que se expressa com dificuldade. Em coprodução com a Associação Paulista dos Amigos da Arte, elaborou o espetáculo que estreou em São Paulo em 2014.
Marcos Abranches iniciou a carreira incentivado pelo coreógrafo e diretor Sandro Borelli. Com a companhia de Borelli dançou várias coreografias. Participou de festivais no Brasil e no exterior, ganhou premiações importantes. Corpo Sobre Tela foi considerado pelo jornal Folha de S. Paulo um dos melhores de 2014. Merece muito ser visto.
Programa
21/7 – Cabeza, Cia. Daniel Abreu (Madri/Esp), Teatro Sesc Centro
22/7 – Animal, Cia. Daniel Abreu (Madri/Esp), Teatro Sesi
11/8 – OE, Eduardo Okamoto (SP), Teatro Sesc Centro
14/9 – Debarías Quedarte, Provisional Danza, Teatro Basileu França
15/9 – Uma Mirada Sutil, Provisional Danza, Teatro Basileu França
12 e 13/10 – Buraco, Elizabeth Finger, Teatro Sesc Centro
27 e 28/10 – Danse Étoffeé Sur Musique Déguisée, Zoo-Thomas Hauert, Centro Cultural UFG
24/11 – Side Effects, Anton Lachky Company, Teatro Sesc Centro