De Inhotim (MG) – Não, você não ficou louco. Em plena obra de arte há um casal deitado juntinho, aninhado nos colchões espalhados na sala escura. Há ainda alguns jovens tomando banho na piscina de água azul no cômodo ao lado, com direito a monitor que cuida dos vestiários da… da… como é mesmo o nome disso? Essa pergunta acompanha cada passo dos visitantes dos quase 100 hectares de uma antiga fazenda que se transformou no Instituto Inhotim, nas cercanias da cidade de Brumadinho, a 60 km de Belo Horizonte. Em cada alameda, em cada galeria que surge em perfeita integração com a natureza, o desafio está posto. É quase impossível desvendar todos os deliciosos mistérios que as centenas de obras nos oferecem.
A Galeria Cosmococa – esta da piscina e dos colchões – é uma das mais instigantes. Concebida pelo artista plástico Hélio Oiticica e pelo cineasta Neville D’Almeida, seus ambientes foram montados em um grande edifício de pedra, de aspecto solene, mas que surpreende em seu interior. A intenção é atiçar os sentidos da audição, da visão, do tato. Para isso, videoinstalações são as atrações para o público se acomodar em um piso irregular (equilibre-se, se puder) ou em confortáveis redes convidativas a um sesta (por que não?). A Cosmococa é apenas uma das 23 galerias fixas deste que é o maior centro de arte contemporânea da América Latina.
Conseguir cumprir os três grandes circuitos que Inhotim oferece requer tempo e fôlego. O terreno tem trechos de ladeiras, mas a paisagem em torno é tão deslumbrante que até nos esquecemos de que estamos andando há horas. Afinal, há muitas obras para ver, concebidas pelo homem e pela natureza. Ou pelos dois juntos. Ao longo da trilhas, estão espalhados 93 bancos em madeira de autoria do design Hugo França, esculpidos em descomunais toras de árvores gigantescas ou em suas não menos impressionantes raízes. O material foi obtido vasculhando as árvores que caíram naturalmente nos 140 hectares de reserva de Mata Atlântica da propriedade ou cedido de apreensões em operações contra desmatamentos na região. O mais fabuloso deles é um banco que fica à sombra de um majestoso tamboril, no coração de Inhotim, com suas dezenas de metros de comprimento. A árvore é uma das grandes vedetes do lugar e estima-se que tenha mais de 100 anos de vida, alcançando mais de 30 metros de altura.
Além de ser um centro de arte contemporânea, a preocupação com a preservação ambiental é outro pilar que fundamenta o conceito do instituto cultural mineiro. Em Inhotim há um Jardim Botânico onde são cultivadas 4.300 espécies de plantas, de bromélias raras ao pau-brasil. Todas as obras precisam estar em interação com esse cenário paradisíaco. É o que se vê nas galerias True Ruge e Mata, emolduradas por um bosque denso e um lago digno de cartão-postal. Por ali, em seus jardins, há esculturas de artistas renomados, como Amilcar de Castro, que servem até para compor o book de noivos que, trajados a caráter, escolhem o local para ensaios fotográficos.
Uma das galerias mais bonitas é a dedicada à artista plástica Adriana Varejão. Nada mais justo, uma vez que Inhotim só existe porque ela trabalhou por sua criação. No início dos anos 2000, a ideia do instituto cultural ganhava forma. Na época, Varejão era casada com o empresário Bernardo Paz, milionário dos ramos da mineração e siderurgia. Ele sempre se interessou por arte e tinha uma valiosa coleção de modernistas, como Candido Portinari e Di Cavalcanti. O casal resolveu, então, transformar uma antiga fazenda em um museu a céu aberto, contando com a doação do terreno e de parte do acervo de Paz. O próximo passo foi adquirir mais obras de arte contemporânea e convidar nomes da área a criar suas instalações para ficarem em Inhotim, de forma definitiva.
Para Varejão, foi erguido um prédio de curvas ousadas, ladeado por um espelho d’água de cor azul. Sua entrada é uma ponte sobre a natureza. Dentro, obras como a perturbadora Linda do Rosário, uma parede que simula ser feita de carne, e o belo mural em azulejos Celacanto Provoca Maremoto. Hoje, Inhotim conta com cerca de 450 obras de artistas de todo o mundo. Algumas delas exigiram a construção de estruturas específicas para acolhê-las, como a chamada Folly, de autoria de Valeska Soares, instalada na beira de um dos lagos do museu em uma espécie de cabana envidraçada. Dentro, uma sala de espelhos redimensiona as percepções do visitante que, de repente, se vê em uma pista de dança interagindo com imagens de bailarinos projetadas nas paredes.
Inhotim oferece completa estrutura e muito conforto aos seus visitantes. Carrinhos elétricos percorrem pequenos trechos levando os turistas de uma galeria a outra. Ao comprar o ingresso (R$ 25 nos dias de semana e R$ 40 nos domingos e feriados), já está incluído este serviço. Quem quiser um tratamento mais vip, pode contratar um veículo particular, ao preço de R$ 480 a diária. O instituto cultural conta com dois restaurantes (com menus mais salgados ou com valores mais em conta) e um agradável café. Quiosques espalhados em pontos estratégicos servem água e lanches rápidos. O estacionamento, cujo tamanho é digno de um estádio de futebol, é gratuito.
Para além desses espaços mais tradicionais de encontro e relaxamento, Inhotim tem milhares de metros quadrados e incontáveis sombras para apreciação da natureza e da arte. Prova maior disso é a instalação Invenção da Cor, de Hélio Oiticica, plantada nas margens do principal lago do complexo e que é um colírio por sua beleza. Enormes biombos coloridos chamam para uma brincadeira de esconde-esconde ou para se sentar na grama e tirar as fotos da paisagem única. Os matizes da arte se mesclam à perfeição com as tonalidades da natureza. Essa associação de pura beleza é a que melhor define Inhotim.
COMO CHEGAR
Saindo de Belo Horizonte de carro, a viagem dura cerca de 1h20, transitando pela MG-050 e depois pela BR-381 (Rodovia Fernão Dias). Após passar por Contagem e Betim, pega-se uma saída à esquerda para ter acesso à MG 040 até Brumadinho. Quem sai diretamente do Aeroporto de Confins deve pegar a MG-010 até chegar a Belo Horizonte, fazendo a rota entre a capital mineira e Inhotim. Neste caso, a viagem dura cerca de 1h40.
Mais informações em http://www.inhotim.org.br/
Excelente matéria. Me incentivou a planejar uma viagem para conhecer inhotim.