Primeiro e mais antigo festival de cinema goiano, o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental de Goiás (Fica) chega à maturidade com o início de sua 18ª edição, que começa nesta terça-feira (16) e segue até domingo (20), na antiga capital do Estado. Com várias mostras de filmes – a principal delas dedicada ao cinema ambiental –, oficinas, encontros e debates, além de shows musicais, o evento produzido pelo governo estadual tem entrada franca em todas as atividades, concentradas no charmoso centro histórico na cidade de Goiás.
Depois de várias mudanças em sua estrutura ao longo dos anos, o festival mantém a sua espinha dorsal: o caráter ambiental na mostra principal. A mostra, com 22 filmes, entre curtas, médias e longas-metragens, é definida a partir de uma comissão formada por representantes do governo e entidades ligadas ao audiovisual e ao meio ambiente.
As obras, vindas de várias partes do Brasil e do mundo, tratam de questões diversas como as mudanças climáticas, o consumismo, a relação entre o homem e o ambiente urbano, e a pressão do chamado desenvolvimento e progresso da civilização sobre os limites dos recursos naturais do planeta. São 12 produções estrangeiras e 10 brasileiras. Entre os brasileiros, 4 filmes são goianos. Além de Goiás, participam filmes de São Paulo, Maranhão, Paraná, Pernambuco e Ceará. Ao todo, a mostra competitiva principal, que tem um júri internacional, oferece neste ano R$ 280 mil em prêmios, R$ 40 mil a mais que no ano passado.
O que ver
Apesar da temática e de a maioria das produções ser documental, a seleção de filmes da mostra competitiva do Fica, que começa nesta quarta-feira, dia 17, no Cinemão, contempla outros gêneros como a ficção e a animação. Num primeiro olhar, quem busca o entretenimento descompromissado do cinema comercial pode se assustar com o conteúdo das obras. Porém, quem ficar de olhos bem abertos e se arriscar com algo que vá além das aventuras de super-heróis pode se surpreender, afinal o poder do cinema inclui também o de nos encantar através da reflexão, da denúncia e da poesia.
O longa-metragem Brasil S/A, que será exibido na quarta-feira à tarde, é mais um exemplo da boa safra do cinema pernambucano – de onde vieram Acquarius, destaque no último Festival de Cannes, e O Som ao Redor, ambos de Kleber Mendonça. Brasil S/A, dirigido por Marcelo Pedroso, não tem uma narrativa comum e mistura com ousadia ficção e documentário para questionar os modelos de exploração e desenvolvimento do Brasil desde a era da colônia, passando pelas mudanças tecnológicas do século 20 e chegando até os dias atuais.
Inicialmente considerada uma forma limpa de obtenção de energia, a energia nuclear nunca mais foi encarada da mesma forma depois do desastre de Chernobyl, tema do documentário La Supplication, de Luxemburgo, programado para a sessão noturna da quinta-feira, dia 18. Baseado no livro da bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, Prêmio Nobel de Literatura, o filme retrata como vivem os sobreviventes de Chernobyl através de relatos de seu cotidiano antes e depois do desastre.
Outro destaque é o longa-metragem goiano Taego Ãwa, dirigido pelos irmãos Marcela Borela e Henrique Borela, que será apresentado na sexta-feira, dia 19, à tarde. O documentário, que já foi selecionado para outros festivais brasileiros, teve como ponto de partida cinco fitas VHS sobre o povo Ãwa, mais conhecidos como Avá-Canoeiros do Araguaia, que foram encontradas na antiga Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Goiás.
A partir daí os jovens diretores decidiram levar essas imagens de volta aos índios, na Ilha do Bananal. Confrontados com o seu passado, os indígenas têm a chance de relembrar passagens de sua luta pela demarcação de suas terras, que prossegue até hoje, os confrontos com os latifundiários e a reorganização de sua comunidade para uma atuação política junto ao governo e à sociedade brasileira. Confira a lista dos filmes selecionados e a sinopses no link http://ermiracultura.com.br/2016/08/16/na-telona-do-fica/.
Diversidade
Além da mostra competitiva principal, a programação conta também com a Mostra ABD Cine Goiás, a 8ª Mostra Infantil – Fica Animado, a Mostra Paralela do Cinema Brasileiro e a Mostra de Vídeo Escolar – Se Liga no Fica. Já em sua 14ª edição, a Mostra ABD Cine Goiás, promovida pela Associação Brasileira de Documentaristas – seção Goiás (ABD-GO), também é competitiva, mas com temática livre e restrita à produção goiana, e oferece R$ 18 mil em prêmios. De coadjuvante do festival, a mostra da ABD tem se tornado uma grande vitrine do audiovisual regional e suas potencialidades, com filmes de diversos estilos e linguagens.
A Mostra Paralela do Cinema Brasileiro, que não é competitiva nem temática, tem como destaque nesta edição a exibição da comédia romântica Entre Idas e Vindas, com Fábio Assunção e a goiana Ingrid Guimarães no elenco. A produção teve várias locações, entre elas Goiânia. Os atores e o diretor José Eduardo Belmonte virão ao festival.
O recente desastre em Mariana, Minas Gerais, é o tema do documentário Rio de Lama, que mostra o que restou da vila de Bento Rodrigues após o rompimento da barragem da Samarco em Minas Gerais. O diretor Tadeu Jungle vai à cidade de Goiás para apresentar o filme, um curta-metragem.
A animação está em primeiro plano em várias atividades da programação, seja na exibição de filmes, nos encontros ou nas oficinas. Além da tradicional mostra Fica Animado e das mostras competitivas principal e da ABD, a animação O Menino e o Mundo, grande vencedora do Fica de 2014 e indicada brasileira ao Oscar de animação, também integra a Mostra Paralela de Cinema Brasileiro, ao lado de Uma História de Amor e Fúria, de Luiz Bolognese, outro convidado do festival.
Debate
Como espaço de discussão, o festival vai sediar um dos debates mais importantes do audiovisual no Fórum de Cinema com a mesa-redonda A Implementação da Lei 13.006/2014 – O Cinema Brasileiro nas Escolas, com Carlos Eduardo Albuquerque Miranda (Rede Kino/SP) e Aline Veríssimo Monteiro (Rede Kino/RJ). Essa lei obriga a exibição de filmes de produção nacional nas escolas de ensino básico por, no mínimo, duas horas mensais.
Pela terceira vez o Fica vai sediar o Encontro de Cineclubes de Goiás, que vai reunir cineclubistas de todo o Brasil. Com o tema Cineclubes Goianos: o que Somos, o que nos Move, o que nos Une, o que Queremos, o encontro será dos dias 19 a 21 e é aberto não só aos cineclubistas, mas ao público em geral.
No Fórum Ambiental, o Cerrado está em evidência com o tema O Caminho para um Futuro Sustentável: Governança Territorial, Proteção Ambiental e Segurança Alimentar. Para esse debate, especialistas da área se reúnem na cidade de Goiás, como Paul West, diretor da Global Landscape Iniciative, Tasso Azevedo, do Observatório do Clima, deputado federal Daniel Vilela, presidente da Comissão Mista de Mudanças Climáticas do Congresso Nacional, e Pedro Arraes, presidente da Emater Goiás, entre outros.
Música
Alvo de polêmica em praticamente toda a história do festival, a programação musical foi reduzida no ano passado, quando os shows ficaram restritos a artistas locais e não a nomes famosos e de grande apelo popular como antes. Para o Fica 2016, além de apresentação de orquestras e shows de pequeno porte de artistas regionais, estava previsto apenas um show do pianista e cantor carioca Daniel Jobim, neto de Tom Jobim. Porém, às vésperas do início do festival, foi anunciado como evento de encerramento do Fica , no domingo (21) à noite, um show de Elba Ramalho e Geraldo Azevedo.
Confira a programação completa do festival no site http://fica.art.br/.