A beleza pictórica, a singeleza dos traços, as cores alegres e vibrantes da obra de Fé Córdula sempre me encantaram. Tenho dois quadros do artista na parede do meu pequeno apartamento e os vejo de todos os ângulos. Portanto, a magia do artista potiguar, morto aos 83 anos, no último dia 12 de agosto, estará para sempre na minha memória, e de todos os que possuem suas obras. Um dos símbolos mais marcantes da sua criação, o galinho colorido de fundo prateado ganhei dele com dedicatória carinhosa pela matéria especial de uma de suas inúmeras exposições, publicada no caderno Magazine do jornal O Popular, onde trabalhei por muitos anos.
Fé Córdula era um homem interessante. Apesar da fisionomia enérgica, forte, gostava de conversar. Falava de si, da arte que ocupava todo o seu tempo. Em sua chácara, nos arredores da capital, vivia como um ermitão, praticamente isolado da civilização, cercado da família, em uma casa simples repleta de quadros, das peças artesanais que fabricava. Às vezes o sorriso era triste, o olhar se perdia em pensamentos. Anos atrás, amputara uma perna devido a complicações do diabetes, o que muito o entristecia, tirara o brilho da alma, mas não afetara a criatividade e o gosto pela pintura. Movimentava-se pela casa numa cadeira de rodas, sem desgarrar das telas e dos pincéis.
No ateliê, que se confundia com a própria casa, pintava todos os dias, quase sempre animais, São Francisco de Assis, aves, pássaros, borboletas, figuras do povo, folclore goiano, folguedos e festas populares. Uma profusão de tons enchiam a tela toda. Sua obra é inconfundível, espontânea, fantasiosa. Emergia da alma. Via beleza nas coisas mais simples, captando a essência de cada elemento.
Considerado naïf ou primitivista pela crítica especializada, assim como Antônio Poteiro, Fé nunca frequentou escola de arte. Começou a carreira como artesão fazendo objetos de barro, brinquedos em madeira, lamparinas, ofício que ainda exercia para ajudar nas despesas. Vivia com muita simplicidade, enfrentando dificuldades muitas vezes.
Nordestino de traços fortes, pele morena, barba e cabelos muito brancos, Francisco de Assis Córdula, mais conhecido por Fé Córdula, era natural do Rio Grande do Norte. Mudou-se para Goiás em 1974 em busca de novos horizontes, mas trouxe na bagagem as raízes do sertão do Seridó onde nasceu há 83 anos.
Morreu o homem Francisco de Assis. Ficou para sempre Fé Córdula, nome impresso em sua extensa e colorida obra de arte.
Bela matéria, Valbene. Só uma boa amiga, como vc, para pintá-lo tão humanamente singelo, com sua arte. Me emocionei. Seu velório, com tão poucas pessoas, foi melancólico. Parabéns.
Fé Córdula era uma figura encantadora, daquelas pessoas que a gente tem vontade de levar para viver perto da gente! parabéns pelo texto que descreve com precisão o artista , quem o visitou em vida com certeza vivenciou cada momento que você descreveu!
Não sabia de seu falecimento. Eu tenho uma pintura dele, em casa. É minha predileta. As cores me encantam. Viva Fé.