Da cidade de Goiás – A primeira sessão da mostra competitiva do Fica 2016, exibida na tarde da quarta-feira, 17, na cidade de Goiás, surpreendeu por uma seleção de filmes cativantes por, dentre outras qualidades, abordar a temática ambiental de uma forma nada óbvia, uma ousadia bem-vinda do festival. A maratona de 22 obras que concorrem na mostra principal começou em clima de aventura com a exibição do filme francês Planet Sigma, dirigido pela japonesa Momoko Seto.
Uma animação em curta-metragem repleta de efeitos especiais, o filme brinca com os clichês da ficção científica para falar sobre a diversidade da vida e a interdependência entre as espécies, tendo como ponto de partida uma explosão de um submarino nuclear. Exibido no Festival de Berlim do ano passado, o filme agradou em cheio à plateia do Fica, principalmente às dezenas de estudantes do ensino fundamental que estavam na sessão.
Na mesma sessão foi exibido um dos quatro filmes goianos da mostra competitiva principal, a ficção Ensaio Sobre Um Fim de Mundo. Dirigido por Samuel Peregrino, o curta-metragem tem como cenário Goiânia e uma trama com uma atmosfera de tragicomédia, pois, como diz o título, a narrativa se passa às vésperas do fim do mundo.
O humor se traduz na homenagem à irreverência do cinema marginal no filme, que aposta ainda na conexão inusitada com a linguagem dos desenhos animados. Macacos telepatas são outro elemento de estranheza da produção goiana, uma crítica à alienação do povo diante dos meios de comunicação de massa.
Em Angústia, curta-metragem do Maranhão, o clima é bem mais pesado e enigmático. Com uma narrativa repleta de elementos do realismo fantástico, a obra, uma ficção, tem como protagonista um peixeiro que acaba de perder o filho, mas mesmo assim continua trabalhando no mercado da cidade. O diretor Frederico Machado é o mesmo do premiado longa-metragem O Exercício do Caos, de 2013.
Outro destaque do primeiro dia de mostra competitiva foi a exibição de Brasil S/A, longa-metragem de Marcelo Pedroso que mistura ficção e documentário. A produção, mais um exemplo da excelente safra do cinema pernambucano contemporâneo, é uma crítica aos modelos de desenvolvimento do Brasil ao longo de seus 500 anos de história com uma linguagem sustentada por diversas alegorias aos estereótipos culturais do Nordeste e dos clichês da publicidade.
A exploração predatória dos recursos naturais e as desigualdades sociais, uma constante ao longo de séculos no País, são o eixo narrativo do filme, já premiado em diversos festivais. Confira a programação da Mostra Competitiva no link http://ermiracultura.com.br/2016/08/16/na-telona-do-fica/.
A colunista de ERMIRA viajou a convite da organização do festival