Do Rio de Janeiro – O Brasil como um todo (e o Rio de Janeiro em particular) se vê em um momento difícil, às voltas com crises para todos os gostos. Mas quem chega à capital olímpica até se esquece um pouco deste contexto triste em que acabaram sendo realizados os jogos, que atraem a atenção de todo o mundo. E o mundo todo veio para cá.
Além de arenas, estádios e pistas de competição, os amplos espaços para reunião e convivência de pessoas de todo o planeta caíram no gosto de turistas e moradores locais. No Boulevard Olímpico, construído na até pouco tempo degradada zona portuária; nos arredores do Museu do Amanhã, às margens da Baía de Guanabara; no Parque Olímpico da Barra da Tijuca; nas areias de Copacabana; nas ruas estreitas do Centro; no Parque de Madureira; seja onde for, basta que ações ligadas às Olimpíadas se realizem, o público eclético se faz presente.
Não importa que o camarada ao lado vista a camisa da seleção argentina ou que as duas moças loiras conversem em uma língua incompreensível, o que conta é que saíram de seus países para se encontrarem aqui. A pira olímpica que arde em frente à Igreja da Candelária é um marco obrigatório para todos esses visitantes.
Eles, porém, lotam a cidade como um todo. Na famosa região de comércio popular conhecida como Sahara, um vendedor comenta com outro: “Isso aqui está cheio pra caramba hoje.” A Prefeitura do Rio decretou um feriadão prolongado nos últimos dias dos jogos, aliviando o transporte público e lotando as ruas de gente. A Av. Rio Branco, interditada para o tráfego de veículos, virou um calçadão. A Presidente Vargas é cenário de disputas por palmos de asfalto.
Dois palcos foram montados na zona portuária – um no antigo Paço Imperial e outro na Praça Mauá –, onde, todos os dias, nomes de peso da música brasileira fazem shows. No ancoradouro ao lado podem ser contemplados o imenso transatlântico que hospeda parte da delegação de atletas dos EUA e um dos iates mais suntuosos e caros do mundo, pertencente a um figurão do Oriente Médio que veio ao Rio ver de perto seus cavalos de raça competirem. Não muito longe, uma autêntica caravela portuguesa atrai pessoas dispostas a ficar até quatro horas na fila para conhecê-la por dentro.
A batucada que ecoa no meio da multidão e a roda de capoeira que cria uma clareira entre o público lembram: a Olimpíada é no Brasil. Expressões que podem até reforçar certos estereótipos do País lá fora, mas que também denotam riquezas culturais singulares, um gingado todo nosso que deve ser valorizado.
Nem o reforço visível da segurança – há até homens com granadas a tiracolo em estações do metrô – subtrai a informalidade do brasileiro, sobretudo do carioca. Ela está no atendimento nos bares lotados, nas instruções dadas pelos voluntários, na criatividade dos ambulantes.
Dessa forma, o Rio de Janeiro faz sua Olimpíada, com sua cara, seu ritmo, seu jeito sedutor. E mostra que tem motivos de sobra para ser chamado de Cidade Maravilhosa.