De Brasília – Numa edição marcada pelo viés político, o grande vencedor do Festival de Brasília foi o drama mineiro A Cidade Onde Envelheço, da diretora Marília Rocha, goiana radicada em Belo Horizonte, que levou os troféus de melhor longa-metragem, direção, atriz (para as portuguesas Elisabete Francisca e Francisca Manoel) e ator coadjuvante (Wederson Neguinho). A produção estava entre os favoritos da mostra competitiva de longas, que teve nove concorrentes, ao lado do documentário Martírio, do cineasta e indigenista Vincent Carelli.
O longa-metragem sobre o genocídio do povo Guarani-Kaiowá levou os troféus de melhor longa pelo júri popular e o prêmio especial do júri. O Candango de melhor roteiro foi para a produção gaúcha Rifle, ficção sobre os conflitos no campo, que levou também o prêmio da crítica de melhor longa (Abraccine).
Na categoria de curtas, os principais vencedores foram a animação paulista Quando os Dias Eram Eternos (melhor filme e trilha sonora), o drama pernambucano O Delírio é a Redenção dos Aflitos (direção, roteiro e direção de arte) e o drama Estado Itinerante, de Minas Gerais, sobre violência doméstica, que ganhou os troféus de atriz (Lira Ribas), prêmio especial do júri e prêmio da crítica. O documentário Procura-se Irenice (RJ) ganhou o troféu de melhor curta pelo júri popular.
Embora os dois prêmios principais tenham ido para um drama de perfil mais intimista – A Cidade Onde Envelheço fala sobre duas jovens imigrantes portuguesas que tentam a sorte em Belo Horizonte –, as premiações em categorias importantes de Martírio e Rifle só reforçam a coerência de uma edição pautada por um cinema como um espaço de pensamento, reflexão e resistência de questões urgentes ao País.
O cinema como um ato político, um preceito que guiou o Cinema Novo, também o título do filme de Erik Rocha que abriu o festival (fora de competição), foi um lema evocado durante todo o evento, da curadoria da mostra competitiva a homenageados como o crítico, escritor e ator Jean-Claude Bernardet. Também na fala dos realizadores, convidados, imprensa e público, imperou absoluto o clima de protesto contra o impeachment de Dilma, o governo Temer e as mudanças na política cultural. A sensação de quem participou do festival é que esta edição, mais do que uma mera entrega de prêmios, entrou para a história como um possível início de uma resistência política do segmento cultural ao atual governo e ao pensamento conservador.
OS PREMIADOS
FILME DE LONGA-METRAGEM
Melhor Filme de Longa-metragem – R$ 100 mil
A Cidade Onde Envelheço, de Marília Rocha
Melhor Direção – R$ 20 mil
Marília Rocha, por A Cidade Onde Envelheço
Melhor Ator ? R$ 10 mil
Rômulo Braga, por Elon Não Acredita na Morte
Melhor Atriz ? R$ 10 mil
Elisabete Francisca e Francisca Manuel, por A Cidade Onde Envelheço
Melhor Ator Coadjuvante ? R$ 5 mil
Wederson Neguinho, por A Cidade Onde Envelheço
Melhor Atriz Coadjuvante ? R$ 5 mil
Samya de Lavor, por O Último Trago
Melhor Roteiro ? R$ 10 mil
Davi Pretto e Richard Tavares, por Rifle
Melhor Fotografia ? R$ 10 mil
Ivo Lopes, por O Último Trago
Melhor Direção de Arte ? R$ 10 mil
Renata Pinheiro, por Deserto
Melhor Trilha Sonora ? R$ 10 mil
Pedro Cintra, por Vinte Anos
Melhor Som ? R$ 10 mil
Marcos Lopes e Tiago Bello, por Rifle
Melhor Montagem ? R$ 10 mil
Clarissa Campolina, por O Último Trago
Prêmio Especial do Júri Oficial
Martírio, de Vincent Carelli em colaboração com Ernesto de Carvalho e Tita
FILME DE CURTA OU MÉDIA-METRAGEM
Melhor Filme de Curta ou Média-metragem ? R$ 30 mil
Quando os Dias Eram Eternos, de Marcus Vinicius Vasconcelos
Melhor Direção ? R$ 10 mil
Fellipe Fernandes, por O Delírio é a Redenção dos Aflitos
Melhor Ator ? R$ 5 mil
Renato Novais Oliveira, por Constelações
Melhor Atriz ? R$ 5 mil
Lira Ribas, por Estado Itinerante
Melhor Roteiro ? R$ 5 mil
Fellipe Fernandes, por O Delírio é a Redenção dos Aflitos
Melhor Fotografia ? R$ 5 mil
Ivo Lopes Araújo, por Solon
Melhor Direção de Arte ? R$ 5 mil
Thales Junqueira, por O Delírio é a Redenção dos Aflitos
Melhor Trilha Sonora ? R$ 5 mil
Dudu Tsuda, por Quando os Dias Eram Eternos
Melhor Som ? R$ 5 mil
Bernardo Uzeda, por Confidente
Melhor Montagem ? R$ 5 mil
Allan Ribeiro e Thiago Ricarte, por Demônia ? Melodrama em 3 Atos
Premio Especial do Júri
Estado Itinerante, de Ana Carolina Soares
PRÊMIO DO JÚRI POPULAR
Melhor Filme de longa-metragem ? R$ 40 mil
Martírio, de Vincent Carelli em colaboração com Ernesto de Carvalho e Tita
Melhor Filme de Curta ou Média-metragem ? R$ 10 mil
Procura-se Irenice, de Marco Escrivão e Thiago Mendonça
A colunista de ERMIRA viajou a convite do Festival de Brasília