[1]
Poema 2
A borboleta que voa hesitante, linda
tão colorida e embriagada de pólen
de sol, de cores, de luz, de pétalas
não tem entre as colunas
da varanda onde adeja
um espelho pra se mirar
Um dia desses,
essa borboleta
− quem diria! –
era apenas uma larva
em hibernação
no canto escuro da parede
Uma crisálida
dentro da qual
dormia um inseto
− que se tornaria
após longo sono
uma fada
coberta de purpurinas
[2]
Poema 4
Naquela rua
Ninguém
era mais triste
que a moça do 56
Uma moça
que chorava
como os cinamomos
E a sua dor
era enorme
− maior do que
a de Maria
Porque
havia um rei
− um rei de Ruão –
que iria levar
um lenço
nem de seda
nem de algodão
mas do mais fino tecido
feito com as folhas
de chá do Sri Lanka
Se esse rei
chegasse logo
agora mesmo
amanhã cedinho
a sua tristeza
terminaria
Mas
como muitos reis
esse de Ruão
também não chega não
[3]
Poema 29
Todos os dias
no Cerrado
árvores
são derrubadas
por serras
de dentes afiados
assim como
outrora
os búfalos
das pradarias
norte-americanas
foram abatidos
um depois dois
por rifles
de mira
calibrada
[4]
Poema 31
Da janela do meu quarto
vejo o jardim entardecer
A goiabeira, a buganvília
o coqueiro, as bromélias
− plantas que esperam
os insetos da noite,
e os sonhos que chegam
entre as sombras
pisando leves, leves
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Poema 34
Toda vez
que penso
em Paris
a Poesia
abre uma garrafa
de Pommery
(Extraídos do livro Garatujas, 2016)
Ouça quatro poemas do livro Garatujas, de Luís Araujo Pereira, na voz do ator Newton Murce:
Perfil
Luís Araujo Pereira publicou Ofício Fixo (1968, Editora Oió, Prêmio da Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos), Linhas (1994, Coleção Vertentes, Editora UFG), Minigrafias (2009, Cânone Editorial) e Poésie Pour Dire Moins (2013, Coleção Levée d’Ancre, Editora L’Harmattan). Escreveu ainda os seguintes livros, todos inéditos: Pererê: Une Bande Dessinée Brésilienne ? Quelques Propositions sur les Codes Graphique, Analogique et Narratif (dissertação de mestrado, EHESS, Paris, 1976), Naquela Noite (contos), Entre as Folhas do Jardim (crônicas), Adeus, Dog (contos) e rasoquasefundo (poemas).
Leio e releio todas e ainda não sei de qual gosto mais
Querido Luis,
Do pouco que li,bateu a vontade do relógio pular as horas para devorar Garatujas!!!muito lindo!!!