(Curadoria de Luís Araujo Pereira)
[ma non troppo]
i
negras
nos cargos de liderança
no sistema financeiro
não representam um por cento
dentro do contingente
: no horário de brazilia
duas e quarenta e
dois
ii
de acordo com o relatório
duas em ca-
da três mulheres presas são
negras
: du-
as e cinquenta e três
iii
a condição ali tava clara
a preta negra, não preta, mas negra
(nigor)
passeava o sorriso de alegria e plenaurora
nem tanto, mas
(nigor)
brilhando seus dentes pela praça às
dezessete e quarenta e dois
segundo o horário de brazilia.
iv
ela inda tá com fome
há mais d uma hora e há
uma hora atrás tava ela
ali procedendo sobre
e tava com fome e c
achou q ela tava d olho
na sua comida mais
tarde enquanto vc come
a sua comida agora
mas ela só tinha fome.
a fome dela vem d
tem tanto tempo já q
ela nem sente essa fome
ulcerando seu ventre. já
perdeu as contas das contas
q fazia sobre fome
isso é um problema (grande).
v
ma non troppo nem tanto
não muito
bem pouco mesmo
às vezes de vez em quando quando
não percebo e falo sem
ver sem querer quase
falo sem perceber quase falei e
queria mas não deu e
inda bem q não falei
ou quase falei o q queria não queria
(o q foi, o q foi!)
quase
quase
quasi
ma non troppo
Perfil
miguel jubé é natural de Goiânia. Concentra seus estudos em poesia luso-brasileira, literatura goiana e estética e filosofia da arte. É professor de Língua Portuguesa e Literatura para os ensinos básico e superior. É editor de livros pela martelo casa editorial. Recebeu, em 2014, o Prêmio Literário Açorianidade, da Associação Internacional de Colóquios da Lusofonia, por seus poemas de minimemórias (Calendário de Letras, 2015/Caminhos, 2015), obra vencedora com unanimidade pelo júri.
Dileto Luís: excelente seleta das “minimemórias” do miguel – um que definitivamente adiciona muito ao “espólio dos jubés” – depois, naturalmente de A.G. Ramos Jubé, um dos maiores católicos poetas do Brasil