Sim, 2016 foi um ano pesado. Teve impeachment, crise financeira e política, escândalos de baciada, violência desmedida, um grande número de fatos trágicos. Pessoalmente, foi o pior ano de minha vida. Sei que datas são apenas isso, meras datas, mas como dizia Drummond, o Ano Novo tem o poder de renovar nossas esperanças e é a elas que me apego para desejar – ou quase implorar – o início de um período menos sombrio para todos nós.
As perspectivas não são das melhores, sei disso. A crise continua aí com tudo, desempregando milhares de pessoas todos os dias, ceifando sonhos de uma juventude para a qual está mais difícil estudar, planejar os próximos passos, empreender. O governo carece da mínima legitimidade para dar respostas efetivas a esse cenário desastroso, apostando até na beleza da primeira-dama para recuperar a popularidade que nunca teve – e possivelmente nunca terá. Para completar, temos um Congresso na berlinda, comprometido em investigações de corrupção e que, mesmo assim, tem o poder de mexer na nossa aposentadoria, em direitos trabalhistas, no que vamos investir em saúde, educação, segurança, pesquisa, infraestrutura, cultura nos próximos vinte anos.
No Brasil, à crise financeira e política soma-se um vácuo ético que nos faz desacreditar em quase tudo e em quase todos. Mas precisamos, ainda que contrariando certa racionalidade, nos apegar a esse quase, porque é nele que o Ano Novo deposita uma luz, mesmo que tênue. Necessitamos, para não submergirmos de vez, de um vestígio de credulidade em que tenhamos condições de lastrear a construção de algo melhor. Os problemas se avolumam e 2016 demonstrou que eles podem ser pérfidos, massacrantes, impiedosos. Justamente por isso não devemos nos entregar porque, caso façamos isso, não haverá mais nada a não ser a derrota.
“Os problemas se avolumam e 2016 demonstrou que eles podem ser pérfidos, massacrantes, impiedosos. Justamente por isso não devemos nos entregar porque, caso façamos isso, não haverá mais nada a não ser a derrota.”
2017 abre com um ser histriônico de topete laranja na condução da maior potência do mundo, com a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial, com a ameaça terrorista ampliada e com as mudanças climáticas a pleno vapor, mas temos de manter a fé de que nem tudo está perdido. Ainda temos manifestações de solidariedade, expressões de humanidade, atitudes engrandecedoras que nos apontam um caminho menos pedregoso. Ainda dá tempo, ainda tem jeito.
Esse texto pode parecer a alguns uma mera auto-ajuda, uma visão Poliana da vida, das coisas, do mundo. 2016, como disse, foi muito duro para mim e nele eu descobri, no meio de uma dor intensa, que as pessoas continuam capazes de abraçar, de chorar junto, de se emocionar com a emoção alheia. Ainda há bondade, amizades sinceras, capacidade e se solidarizar verdadeiramente. Ainda há a preocupação genuína com o próximo, a tentativa tenaz de ajudar o semelhante, de compartilhar os problemas e encontrar junto as soluções.
“Ainda há bondade, amizades sinceras, capacidade e se solidarizar verdadeiramente. Ainda há a preocupação genuína com o próximo, a tentativa tenaz de ajudar o semelhante, de compartilhar os problemas e encontrar junto as soluções.”
Não desanime com o que foi 2016. Não desanime com o promete ser 2017. Faça deste ano que começa um Ano Novo de verdade. Saiba que se há maldade, crueldade, insensibilidade, ganância e arrogância de sobra por aí, é preciso ter em mente que os antídotos a todos esses venenos também estão à disposição – e acreditem, em doses generosas. Feliz Esperança Nova! Feliz Atitude Nova! Feliz Ano Novo!