O novo Secretário Municipal de Cultura de Goiânia, Kleber Branquinho Adorno, que volta ao cargo pela segunda vez – ele já foi titular da pasta nos mandatos anteriores de Iris Rezende (2005-2010) e no início da primeira gestão de Paulo Garcia (2010-2012) – é um nome conhecido na área, mas que tem um histórico de polêmicas.
Reempossado nesta segunda-feira (02) pelo prefeito Iris Rezende, Kleber responde a uma ação penal na 7ª Vara Criminal de Goiânia, acusado de dispensa ilegal de licitação. A ação foi proposta pelo Ministério Público em 1º de janeiro de 2014 e acatada pelo juiz José Carlos Duarte. A audiência de instrução e julgamento está marcada para 22 de junho de 2017.
A denúnica é fruto de uma longa investigação contra Kleber Adorno, o também ex-secretário Doracino Naves e mais sete pessoas, a maior ex-funcionários da Secult. A Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra a Administração Pública (Decarp) começou as investigações no início de 2012 para apurar dispensa e inexigibilidade de licitação para celebrar contratos com a secretaria no período de 2007 a 2012. O inquérito tinha 27 volumes e mais de sete mil páginas.
De acordo com a denúncia do Ministério Público nos autos, Wilson Ribeiro da Costa, diretor administrativo-financeiro da Secult na época, sua secretária Teísa Vaz Sampaio Rosa, João Batista Cordeiro, que era procurador jurídico da pasta, entre outros, teriam participado do esquema.
Em razão do cargo, Wilson era responsável pelas contratações da Secult e impunha que os artistas firmassem contratos de exclusividade com as empresas por ele indicadas para que fossem contratados, supostamente com conhecimento dos denunciados que foram secretários de Cultura (Kleber e Doracino).
Segundo os autos, Wilson era dono da Mega Stars, que estava em nome de um laranja. Ele também comandava a empresa Arte Anônima Comunicação e Marketing Promoções e Eventos Ltda., que teria como objetivo a locação de equipamentos para eventos, de propriedade de Dário Ferreira de Andrade, Cleuza Marques Oliveira Andrade. O assessor jurídico era proprietário da Terra Postas e Agenda Comunicação, que também participaram do esquema, segundo os autos.
De acordo com as denúncias, as empresas envolvidas cobravam cachês de R$ 8 mil da Secult, mas pagava bem menos aos músicos. A Decarp apurou que os cachês variavam de R$ 300 a R$ 1,5 mil. O esquema teria desviado R$ 1,3 milhão. Outra ação contra Kleber Adorno por improbidade foi arquivada pela Justiça. O então secretário foi acusado pela servidora Deolinda Taveira de tê-la demitido do Museu de Arte por perseguição política, mas foi julgada improcedente pelo Tribunal de Justiça em 30 de junho de 2016.
Kleber Adorno tem bom trânsito em parte do meio artístico e cultural de Goiânia, que frequenta desde os anos 1980, quando foi Secretário de Cultura do Governo Henrique Santillo. Foi neste período que transformou o antigo reservatório de água da Saneago, no Setor Sul, no Centro Cultural Martim Cererê. Já à frente da pasta na Prefeitura, revitalizou locais do Centro de Goiânia, com projetos como a reforma do Mercado da 74, shows em frente ao Grande Hotel e a criação do Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro, que abrigou várias iniciativas nas áreas da música, teatro e cinema.
O episódio da tese
Rogério Borges
Em 2005, o nome de Kleber Adorno foi envolvido em outro caso ruidoso. Em junho daquele ano, estava marcada a defesa de sua tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da UFG. O trabalho, intitulado A Constituição da Cidadania de Goiânia: Alguns Aspectos da Legislação que se Consubstanciam no Direito à Cidade passou por qualificação, mas foi barrada na fase final.
A banca avaliadora da tese encontrou “muitos” e “gravíssimos” problemas no trabalho, sobretudo quanto a trechos que pertenciam a outros autores e que estavam reproduzidos no texto sem as devidas referências. Os professores consideraram que havia indícios fortes de plágio em partes da pesquisa, o que acarretaria sua reprovação. No dia da defesa, Kleber Adorno, então secretário municipal de Cultura, enviou seu chefe de gabinete com um atestado médico justificando sua ausência.
Dias antes, Kleber havia enviado ao Programa de Pós-Graduação um pedido de cancelamento da defesa e do trabalho entregue, alegando que os exemplares da tese distribuídos à banca não eram os corretos. Ele pedia um prazo para fazer novo depósito do texto. Os avaliadores negaram o pedido. Kleber afirmou então que não cometera plágio, como se suspeitava, e sim que havia ocorrido um equívoco por parte de um digitador contratado para formatar o trabalho.
Segundo Kleber, este digitador recebera instruções de acrescentar trechos de artigos indicados por ele, com as devidas referenciações, o que não teria feito. O então secretário admitiu, entretanto, que só percebeu o equívoco nas vésperas da defesa. Seus argumentos foram rejeitados. Depois de várias reuniões na UFG, chegou-se a marcar novas datas para resolver a questão, mas a situação continuou desfavorável a Kleber, que já admitia na época a possibilidade de desistir do doutorado.
Isso, de fato, veio a acontecer. No currículo Lattes de Kleber Adorno, plataforma acadêmica em que consta a produção intelectual de todos os pesquisadores brasileiros, o novo secretário de Cultura de Goiânia continua a ter o título de Mestrado, não de Doutorado. No site do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da UFG – que, aliás, é bastante conceituado nacionalmente – o nome de Kleber consta como egresso, mas não como tendo defendido seu trabalho.
Só para complementar, o Sr Kleber Adorno foi também Secretário Municipal de Cultura na gestão do prefeito Darci Accorsi.
Gostaria que Kleber Adorno fosse lembrado pelo que fez e ñ pelo q poderia ter feito…
Cara Cileide, se houvesse me perguntado, entenderia que a denuncia foi apresentada pelo MPGO, e por improbidade administrativa, e não apenas teve como réu o cidadão citado. E que fato, da minha parte houve uma ação de mandado de segurança, tendo em vista os abusos e evidente assédio moral contra minha pessoa, sendo deferida a liminar a meu favor, não cabendo mais nenhum recurso por parte da Prefeitura. E neste momento, essa viagem ao passado serve para entender como o Brasil chegou ao fundo do poço e prova que ainda tem muito para afundar.