No dia 26 de dezembro de 2004, um terremoto de 9,1 graus na Escala Richter, ocorrido na costa da Ilha de Sumatra, na Indonésia, provocou um dos maiores desastres naturais de que se tem notícia. Bilhões de toneladas de água foram deslocadas violentamente pelo Oceano Índico a velocidades de quase mil quilômetros por hora. As ondas gigantes do maior tsunami já registrado na História Moderna varreram as costas de 12 países da Ásia e até do leste da África, em um fenômeno de tal magnitude que chegou a mudar o eixo de rotação da Terra. Ao todo, 230 mil pessoas perderam a vida naquele dia.
No caminho da devastação estava o balneário de Phi Phi, no sul da Tailândia, uma pequena concentração urbana localizada nas ilhas de mesmo nome e próxima a Maya Bay, lugar que ficou mundialmente famoso por ter sido o cenário do filme A Praia, com o astro Leonardo DiCaprio. O tsunami foi especialmente destruidor ali, já que a maior parte do vilarejo foi construída em uma estreita faixa de terra, com menos de um quilômetro de largura e que separa o pier por onde chegam as embarcações e uma praia paradisíaca de águas mornas. As ondas gigantes chegaram ao mesmo tempo dos dois lados, não deixando nada em pé.
Doze anos se passaram desde aquela tragédia e as marcas do maremoto estão em todas as partes. Ainda há sinais da potência das ondas em ruínas de prédios e homenagens a quem perdeu a vida para a violência do mar. A parte mais alta da ilha, para onde os sobreviventes conseguiram fugir e se salvar naquele final de ano, foi rebatizada de Vila Tsunami. Os tailandeses, porém, não abaixaram a cabeça e deram uma incrível volta por cima. Phi Phi reconquistou os turistas, foi totalmente reconstruída – dizem que até com uma infraestrutura melhor – e os barcos voltaram a circular pelas ilhas dos arquipélagos próximos, onde há cenários inacreditavelmente lindos.
Para chegar a Phi Phi, você deve pegar um barco de grande porte que sai de Krabi, a maior cidade turística da região. A viagem é um pouco longa, durando cerca de duas horas navegando pelo Mar de Andama e passando ao largo de outras ilhas turísticas famosas, como Ko Pu e Ko Jum. Trata-se de uma rota bem movimentada. Phi Phi fica no caminho para outros centros de grande atração, as belas e badaladas Phuket e Coconut Island (também arrasadas pelo tsunami de 2004). Por ali circulam ainda muitos barcos que fazem o trajeto regular para localidades da Indonésia e da Malásia, mais ao sul. Entre elas, há passeios turísticos para pontos desses dois países.
Em Phi Phi há uma grande quantidade de restaurantes à beira-mar, com cardápios variados que incluem pratos típicos e opções mais familiares aos ocidentais. É também um lugar onde podem ser encontradas hospedagens para todos os gostos. Existem muitos albergues e hotéis mais modestos, assim como um número expressivo de resorts, alguns de alto luxo. Condomínios de chalés e vilas exclusivas compõem a paisagem com as montanhas em torno, aproveitando as vistas de praias de águas azuis e areias brancas. É uma espécie de Caribe tailandês.
Lojas com miçangas, roupas, apetrechos para todos os gostos e bolsos deixam Phi Phi com um clima muito aconchegante e tornam o passeio muito prático. Se precisar de algo, está na mão, sem dificuldades. O mesmo vale para os passeios paras as ilhas próximas. Há agências de turismo em cada esquina e vale a pena negociar um pouco, uma vez que descontos podem ser obtidos. Os guias da região são muito experientes, mesmo quando parecem jovens demais. São pessoas que nasceram e cresceram ali e têm total conhecimento sobre onde ir e os cuidados a tomar.
Uma outra possibilidade é alugar os chamados táxis marítimos, barqueiros munidos de longas canoas de madeira maciça, ricamente enfeitadas e que podem ser encontradas em toda a região do Golfo da Tailândia. Essas embarcações fazem parte da cultura e do imaginário locais, usadas desde tempos imemoriais, fabricadas artesanalmente e que já se transformaram em uma espécie de cartão-postal local. Para ir à belíssima praia de Loh Moo Dee, que fica do outro lado da ilha, contratar um desses táxis é uma boa pedida. Para os mais aventureiros e que têm preparo físico melhor, é possível fazer uma trilha pela montanha. Pegar o táxi tem a vantagem de se poder parar em outras pequenas praias pelo caminho. É necessário combinar o preço com o barqueiro antes.
Phi Phi tem seus traumas e um passado recente de destruição. Isso não impediu que o lugar recuperasse o clima solar e agradável que o fez tão atrativo a turistas de todo o mundo. O local é uma espécie de contraponto a Phuket, para onde vão as pessoas em busca de noites mais agitadas, de festas sem hora para acabar, de amores menos compromissados. Phi Phi é mais pacífica e calma, ideal para famílias, casais e grupos de amigos em busca de sossego, sem abrir mão de diversão e passeios inesquecíveis. É longe, mas vale o esforço.
Cenários de cinema
Pegue um barco no Pier Tonsai e comece a navegar por um conjunto de ilhas próximas a Phi Phi. A primeira parada é Loh Samaya Bay, também conhecida como Ilha dos Macacos. O nome se deve a uma população de símios que vivem no local e que adoram pegar uma praia. Isso mesmo, eles vivem zanzando no litoral, aguardando as visitas dos turistas. É proibido dar comida aos bichos, mas sempre tem alguém que não respeita as regras e os macacos sabem disso. O habitat é apropriado aos primatas porque a ilha é formada por uma grande montanha coberta de vegetação e com várias pequenas grutas onde eles se abrigam.
Um pouco mais adiante, o barco volta a dar um stop e todos podem tomar banho em uma baía deliciosa, de águas calmas, transparentes e mornas. Para os mais dispostos, há caiaques que podem ser alugados. Poucos minutos depois, os remadores já estão no Pileh Lagoon, uma lagoa interna da ilha de águas azuis. Toda ela é contornada por montanhas altas e os peixes podem ser vistos a grandes distâncias dada a translucidez do mar. Neste ponto, os visitantes ficam cerca de 1 hora e meia aproveitando para nadar e apreciar a paisagem.
Em seguida chega-se a Maya Bay, o lugar mais famoso da região. Foi ali que Leonardo DiCaprio passou sérios apuros no filme de suspense A Praia. O movimento das marés obriga os visitantes a descer dos barcos e nadar um pouco pela baía até chegar à praia, que é, de fato, muito bonita. Ela, porém, está longe de ser deserta, como aparece na produção de Hollywood. O local conserva um ar selvagem, mas há infraestrutura, havendo opção de trilhas por uma mata vizinha, aquela em que DiCaprio se embrenha e encontra encrencas. Na vida real, este paraíso escondido entre pedras gigantescas encravadas no mar é bem menos hostil. As únicas ameaças de verdade são as pedras de pequenos arrecifes. Cuidado ao andar por elas.