Para quem – como esta repórter – já anda cansado dos exageros visuais das superproduções em 3D do cinema norte-americano, é um respiro ver um diretor talentoso como Wim Wenders explorar de um modo tão criativo e inovador as potencialidades oferecidas por essa tecnologia. Se o cineasta já tinha surpreendido nas filmagens em 3D com o excepcional Pina (2011), sobre a coreógrafa Pina Bausch, agora, no lugar dos movimentos vigorosos da dança contemporânea, é a natureza que ganha relevo e textura pelas suas lentes em Os Belos Dias de Aranjuez, em cartaz na 10ª Mostra O Amor, a Morte e as Paixões neste domingo, dia 26, às 10h30.
O filme é uma adaptação da peça de mesmo nome, de autoria de Peter Handke, um velho parceiro de Wim Wenders – ambos já trabalharam juntos em outras produções do diretor, entre eles o celebrado Asas do Desejo. Em cena, um escritor (Jens Harzer) às voltas com seu processo de criação imagina um diálogo entre um homem e uma mulher, no qual eles falam sobre desejos, memórias, sensações. À medida que vai escrevendo o texto, suas palavras se materializam na tela e o casal da ficção ganha vida.
O cenário idílico – o terraço de um jardim esplêndido, num belo e ensolarado dia de verão – faz com que os personagens criados pelo autor, interpretados por Reda Kateb e Sophie Semin, pareçam estar situados fora do tempo. A sequência inicial com imagens de uma Paris completamente despovoada, ao som de A Perfect World, na voz de Nick Cave, já dá o indício irônico e melancólico dessa fantasia utópica por um refúgio no qual se possa pairar acima das vicissitudes da vida ordinária.
Tendo como base um texto literário, é claro que esta adaptação feita por Wenders confere um peso extra às palavras. A longa conversa entre o homem e a mulher, na forma de perguntas e respostas, lembra os diálogos platônicos, em especial O Banquete, que versa sobre o amor, mas aqui as palavras trocadas no esforço de desvelar e relevar não buscam propriamente a verdade, mas o sentido de situações vividas, verdadeiras ou imaginadas.
Um quarto personagem – além do casal e do escritor – também surge em cena. E este personagem é a natureza, tão magnificamente filmada em 3D por Wenders. As folhas roçadas pelo vento, a luz cálida do sol, o vermelho intenso da maçã (aqui sem dúvida também funcionando como uma menção à passagem do Gênesis sobre o fruto proibido do Éden), entre outros elementos naturais captados pela câmera do diretor, não apenas compõem o cenário, mas ganham uma força expressiva própria.
A já citada música de Nick Cave – com direito a uma aparição etérea do cantor interpretando God is in the House – complementa essa experimentação extraordinária entre palavras e imagem. Assistir a Os Belos Dias de Aranjuez é uma experiência estética gratificante, daquelas que só o melhor cinema pode nos oferecer.
Confira o trailer do filme abaixo:
Serviço
Evento: 10ª Mostra O Amor, A Morte e As Paixões
Atração: 100 filmes de 33 países
Período: Até 1º de março
Local: Cinemas Lumière (Shopping Bougainville) – Rua 9, Setor Marista
Ingressos: R$ 13,00 (valor único para compra unitária); Passaporte Bronze, com 10 ingressos (R$ 120,00); Passaporte Prata, com 20 ingressos (R$ 220,00); Passaporte Ouro, com 30 ingressos (R$ 300,00); Filiados ao Sindicato dos Professores (Sinpro) e à Associação dos Docentes da UFG. (ADUFG) pagam R$ 10,00.
Importante: Os passaportes são individuas e intransferíveis
Informações: cinemaslumiere.com.br/mostra