A Cia. de Teatro Sala 3 comemora 15 anos de existência produzindo três peças da trilogia rural do espanhol Federico García Lorca. Yerma, a primeira encenação, foi levada ao palco em 2016, abrindo as comemorações, organizadas pelo diretor Altair de Souza. A segunda, A Casa de Bernarda Alba, estreou dia 17 de fevereiro, no Teatro Goiânia. A peça ficou três dias em cartaz, e agora retorna ao palco para uma apresentação, nesta terça-feira, dia 7, às 20 horas, no Teatro Goiânia, nos festejos do Dia da Mulher. Obra-prima do grande poeta e dramaturgo, morto pela ditadura de Francisco Franco, em 1936, Bodas de Sangue, ainda sem data fixada, deverá encerrar o ciclo.
Altair de Souza cuidou de cada detalhe, a fim de fazer do espetáculo um grande momento da sua companhia. Para a montagem de A Casa de Bernarda Alba, captou recursos das Leis Municipal e Goyazes de Incentivo à Cultura. A esmerada produção exigiu ampla pesquisa, muito estudo de texto e extensa ficha técnica, que incluiu preparação vocal, aulas de canto, dança flamenca e confecção de adereços cênicos.
O diretor convidou o ator Bruno Peixoto para preparar o elenco feminino, formado por Lívia Vergara, Graciela de Paula, Ana C. Amanda Constantino, Malu Nunes e Camila Borges. As aulas de canto foram ministradas pela professora Sheila de Paiva. A iluminação ficou por conta de Rodrigo Assis e a cenografia com Daniel Herrero. Dieferson Gomes cuidou do figurino e do visagismo. O musicista e professor Sérgio de Paiva selecionou a trilha sonora baseada nas canções espanholas. Dançarina de flamenco e professora, Renata Paolucci deu aulas de dança para o elenco e desenhou as coreografias. Paulinho Pessoa fez a preparação visual.
Clássico da dramaturgia, encenada no mundo inteiro, A Casa de Bernarda Alba ganhou uma produção goiana à altura da sua importância. O diretor captou com a máxima fidelidade o universo sombrio e opressivo da Espanha franquista, conservadora, rural e subdesenvolvida no início do século XX. Escrita em 1936, A Casa de Bernarda Alba é uma metáfora dos anos de repressão, fome e miséria da Espanha, quando a Igreja exercia uma enorme influência sobre a população. Pouco depois, o dramaturgo seria fuzilado devido a suas posições políticas.
Mãe de Angústias, Martírio, Madalena e Adele, a matriarca Bernarda Alba exerce grande poder sobre as moças com idades entre 20 e 39 anos, todas solteiras. Orgulhosa e rabugenta, ela considera que não há homem no povoado à altura das filhas. Logo após o enterro do marido, a tirana tranca as moças dentro de casa e as proíbe de sair, manter contato com o mundo exterior, incluindo também a mãe velha e louca. Impõe luto fechado de oito anos. Acorrentadas, amordaçadas, sem chances de viver a própria vida, os conflitos não tardam a aparecer.
Bernarda mantém a casa sob estreita vigilância. Filha do primeiro casamento da mãe, Angústias é a única que possui bens herdados do pai. Considerada velha e feia, é noiva de Pepe Romano, rapaz bem mais jovem que ela. As irmãs não se conformam com a possibilidade de vê-la casada. Pepe Romano acaba sendo o pivô da confusão que se arma dentro da família, passando a ser disputado pelas três outras irmãs. A caçula Adele tem sede de amor, de liberdade. Não demora a revoltar-se com a situação em que vive. Acaba seduzida por Pepe Romano, sua paixão alucinada. O rapaz também não perde tempo. Envolve-se também com Martírio. Mesmo debaixo do olhar repressor da mãe, o confronto entre as irmãs é inevitável. Mas a arrogante Bernarda não percebe a tensão entre as filhas até ser alertada pela criada, que tudo vê, e sabe bem o que se passa dentro do quarto de cada uma delas.
Beleza visual
A encenação de Altair de Souza enche os olhos de tão bonita: figurino em tons negro e vermelho, correntes, adereços escuros, direção focada, iluminação que dá ao ambiente um clima sombrio como o coração das moças subjugadas pela mãe. Um pequeno retrato da Espanha no tempo de Lorca. Altamente criativo, Altair ousa nas suas produções. Mas diferentemente da carpintaria, não conseguiu extrair do elenco a intensidade dramática exigida pelo texto. O mesmo acontecera com Yerma, a produção caprichada do diretor, que abriu a trilogia.
Ex-garoto revelação do teatro nos anos 1990, Altair de Souza estudou Artes Cênicas na UniRio e, desde suas primeiras produções, demonstrou talento para os espetáculos de impacto e preferência pela dramaturgia clássica. Pelo elogiável esforço do diretor, a beleza visual e musical da produção e a fidelidade ao texto de Lorca, o espetáculo A Casa de Bernarda Alba merece ser visto.
Serviço
Espetáculo: A Casa de Bernarda Alba
Texto: Federico Garcia Lorca
Direção: Altair de Souza Jr.
Elenco: Cia. de Teatro Sala 3
Data: 7 de março (terça-feira)
Horário: 20 horas
Local: Teatro Goiânia (Av. Tocantins, esq. c/ Rua 23, Centro. Telefone: 3201-4685)
Entrada fraca
Classificação etária: 10 anos