King Kong não merecia isso! O macacão mais famoso do cinema, que em outras versões morreu romanticamente estatelado em plena Quinta Avenida, em Nova York, como uma espécie de herói incompreendido, agora foi estraçalhado sem piedade pela lente do diretor Jordan Vogt-Roberts (em uma condução abaixo da crítica) e pelo roteiro absolutamente infeliz de Jon Gatins, Dan Gilroy, Max Borenstein e Derek Connolly Muito maior do que normalmente é, em Kong – A Ilha da Caveira, o primata gigantesco, com toda a sua mística, é usado para levar à telona um blockbuster deplorável em numerosos sentidos.
Desta vez, um grupo de cientistas que pesquisam aparições de seres gigantescos em ilhas remotas do Pacífico convence um senador a enviá-los, juntamente com um uma equipe militar, para, a pretexto de observações geológicas, desvendar os mistérios que cercam o lugar. Bombas atômicas já foram disparadas ali e navios desaparecem misteriosamente na região, fazendo com que um segredo terrível seja guardado por autoridades (a associação com o cenário de outro monstro famoso, Godzilla, que também surge num arquipélago asiático após testes nucleares, não é mera coincidência). A esta turma une-se um rastreador de pistas e uma jornalista.
A história se passa em 1973, quando os Estados Unidos resolvem se retirar do Vietnã humilhados por uma guerra que perderam. Pouco a pouco – e num didatismo irritante – o elenco, formado por nomes de peso, vai sendo apresentado. O chefe dos cientistas é o excelente John Goodman, totalmente subaproveitado. O rastreador é vivido por Tom Hiddleston, mais conhecido por interpretar o irmão mala do herói Thor na franquia dos Vingadores. A jornalista é a talentosa Brie Larson, que ganhou o Oscar de Melhor Atriz em 2016 por seu papel em O Quarto de Jack. E o coronel que comanda os soldados enviados para a missão é o onipresente Samuel L. Jackson. Bom, vendo os créditos, até temos a esperança de que há algo aproveitável à nossa frente, não é? Não, não é! Essa constelação está lá para passar vergonha, todos juntos, perdidos na selva de um filme vergonhoso.
O fato de os atores serem experimentados e carismáticos não os salva de interpretações sofríveis. Não escapa ninguém. Sequer o macacão digital rouba a cena, como geralmente acontece nesses casos. Ele também é caricato, exagerado, carecendo daquela empatia que os King Kongs anteriores causaram nas plateias. Mas o campeão do escorregão é mesmo Samuel L. Jackson, que tenta nos convencer que é um daqueles militares surtados que fazem loucuras no meio da floresta. Não cometam a heresia de associá-lo ao personagem aterrador de Marlon Brando em Apocalipse Now, por favor! Nem em sonhos! Jackson, que altera bons e maus trabalhos, está no ápice de sua canastrice. Chega a ser constrangedor vê-lo cuspir clichês de um texto sem inspiração e mecânico.
Já Tom Hiddleston, que seria o durão da história, é outra retumbante decepção. Ficamos cientes, o tempo todo, de que ele está atuando com uma parede verde, onde os efeitos visuais serão colocados na pós-produção. Não há um fio sequer de verdade em suas cenas, todas muito coreografadas, marcadas demais para que a câmera possa pegar uma paisagem que também soa totalmente fake. Sua função na trama não tem tanta relevância e seus atos de heroísmo são pífios. O máximo que consegue fazer é quebrar um taco de sinuca na cabeça de dois vietcongues desavisados que perderam uma aposta em um boteco mal frequentado de Saigon. Mais nada. Ele passa o restante do filme lançando olhares para o horizonte como se estivesse no controle da situação, tentando esconder o fato de que não sabe sequer como foi parar ali. Como caçador – ou amigo – de gorilas descomunais, Tom prova-se um ótimo vilão da Marvel.
Brie Larson também pisa em falso neste seu primeiro papel de destaque após o Oscar – será que a tal maldição da estatueta dada a atrizes e atores jovens, levando-os a limbos terríveis, voltará a acontecer com ela? Sua personagem é extremamente mal construída. Ela deveria ser uma jornalista de guerra que estava no Vietnã mostrando os horrores do conflito e denunciando-os para a opinião pública norte-americana. Ao ir para a ilha, com sua câmera analógica vintage em punho, parece mais uma turista perdida na alameda em frente ao Museu do Louvre. Helicópteros caem, ataques de monstros acontecem, explosões a jogam no chão, na água, a fazem voar pelos ares, mas a tal da câmera continua firme e forte em seu pescoço. E ela com a mão delicada sobre o equipamento, talvez tentando denotar o alerta do jornalista em busca de um flagrante. Sobrou ensaio, faltou verdade.
Além das péssimas atuações, o cenário político em que a história é inserida é puro fetichismo do roteiro, já que não tem maiores justificativas no enredo. Situar a aparição do macacão e de outros bichos esquisitos no fim da Guerra do Vietnã e no auge da Guerra Fria pode explicar, no máximo, os rádios enormes usados pelos personagens ou o fato de a ilha não ter sido “descoberta” antes, pela ausência de uma tecnologia de satélites mais avançada. O bonequinho do odiado presidente Nixon que aparece em cenas de ação, por exemplo, metaforiza mais este engano. O brinquedo parece rir de toda a situação, tirando sarro das ideias de gerico levadas à tela.
A edição maluca que o filme ganha – ora picotada, ora se arvorando grandiosa – ajuda a levar a vaca para um brejo ainda mais profundo. As cenas dos helicópteros chegando à ilha, com uma trilha sonora boa mas deslocada, remetem aos excelentes filmes de guerra que Hollywood sabe produzir tão bem. Mas apenas remetem, porque o resultado final é um pastiche de Platoon. Numa linguagem muito mais próxima da TV (da mexicana, talvez), a câmera acompanha os personagens insistentemente enquanto preparam suas armas, fumam com expressões de durões, escrevem bilhetes para os filhos. Tudo muito gratuito e sem sentido. O mesmo acontece com a tribo muda da tal ilha. Um bando de figurantes pintados que não fazem diferença alguma.
Como se tudo isso não bastasse, o filme, a cada segundo que passa, vai se perdendo, estereotipando, distribuindo piadas sem graça que só nos trazem a nítida sensação de estarmos desperdiçando duas horas de nossas vidas assistindo aquilo. O final é patético e não amarra uma ponta solta sequer da história, não lhe dá o mínimo sentido. Os efeitos visuais não são a oitava maravilha do mundo e houve uma opção estranha em criar monstros que não sabemos exatamente o que são. Há umas lagartixas linguarudas e histéricas que não metem medo e mais parecem bonecos articulados. Isso faz de Kong um arremedo de filmes do gênero, bem abaixo das sequências mais equivocadas de Parque dos Dinossauros. Se King Kong pudesse conferir este filme que fizeram sobre ele, talvez voltasse a escalar o Empire State, mas só para poder se jogar lá de cima.
Mano,QUAL FOI O FILME QUE VOCÊ VIU??
1° O filme é de ação,então pra que ter empatia com o Kong?ele no início é um “vilão” que depois ganha o título de “herói”.
2°As atuações de Jackson estão medianas,as de Brie ótimas e as de Tom estão impecáveis.
3°O filme me prende em todas as cenas.
4°O filme tem lutas bem articuladas,e impressiona em efeitos especiais.
5°O filme foi filmado em ilhas do Havaí,Austrália e no Norte do Vietnã,
apenas acrescentaram coisas para dá um ar mais “mágico” pras ilhas.
Resumo:Se você quer passar 2 horas vendo um filme de ação sem ligar muito pro enredo…Kong é uma ótima opção.