Em cartaz no Cine Cultura juntamente com outros 20 cinemas no País, o documentário goiano Taego Ãwa, de Henrique Borela e Marcela Borela, resgata um dos capítulos mais traumáticos na história da colonização do Brasil Central. O filme contrapõe o processo de desterro do grupo Avá-Canoeiro do Araguaia no início dos anos 1970 com as condições de vida atuais dos indígenas. O longa foi exibido em vários festivais brasileiros, entre eles o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental de Goiás (FICA) e o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, e sua chegada ao circuito nacional está sendo realizada pela distribuidora Vitrine, no projeto Sessão Vitrine Petrobras.
A narrativa tem como ponto de partida algumas fitas VHS que foram encontradas por Marcela Borela na Universidade Federal de Goiás. Em 2014, a equipe do filme foi até à aldeia na Ilha do Bananal, guiada por Tutawa Tuagaèk Jamagaèk Ãwa, líder xamã falecido em junho de 2015. O líder e seus familiares que sobreviveram ao contato forçado com a FUNAI nos anos 1970 recordam as atrocidades vividas – ele mesmo perdeu o pai, assassinado por outros homens brancos, ainda na primeira metade do século 20. Essas perdas remontam a um passado repleto de perseguições desde os séculos 18 e 19, às quais os Avá-Canoeiro resistiram bravamente e justificam sua fama de povo arredio.
Materiais de arquivo da época ajudam a entender o processo violento e sistemático que quase levou os Avá-Canoeiro à extinção, como nas cenas que mostram os índios num cercado e expostos para visitação pública. Coincidindo com as ações governamentais de 40 anos atrás, há o avanço veloz das fronteira s da atividade agropecuária no Centro-Oeste, de forma legal ou ilegal, enquanto a imprensa do período ainda tratava a questão indígena com bastante preconceito, justificando as ações autoritárias e etnocêntricas, muitas de cunho criminoso e de claro interesse econômico.
Porém, o filme vai além dos clichês do cinema etnográfico. As ricas entrevistas da equipe e a própria estética do documentário acabam trazendo à tona outros elementos da cultura do povo Avá-Canoeiro, sua religião, seus códigos sociais, a arte e sua maneira de se relacionar com o meio ambiente. Embora suas terras tenham sido demarcadas recentemente, é difícil não lamentar o processo de degradação da tribo ao longo de séculos de colonização.
Entrevista / Irmãos Borela
Anos de trabalho e registro único
Vocês disseram que a ideia do filme partiu de um material em VHS encontrado na Universidade Federal de Goiás. Antes disso vocês já tinha interesse na temática indígena? Porque decidiram se aprofundar no tema?
Henrique Borela: Quando encontramos as imagens não tínhamos uma relação direta com a questão indígena brasileira, a não ser pelo fato de viver num país cuja formação é fruto do genocídio e do estupro de seus povos originários. Quando Marcela encontrou essas imagens ela tinha 20 anos e eu 14. Ela ainda nem trabalhava com cinema. Depois, eu fiz Ciências Sociais e me envolvi com Antropologia, ao passo que Marcela vivia experiências de comunicação comunitária em aldeias, sítios quilombolas e periferias. O filme, na verdade, não tem motivação na pesquisa de um tema. Taego Ãwa é um gesto que perpassa nossa vida, nossa compreensão do outro e do cinema. É a afirmação para nós de que é possível viver e filmar ao mesmo tempo e que o cinema como encontro e invenção do mundo é possível. Então, o filme reúne um conjunto bem maior de imagens de arquivo que fomos juntando entre 2006 e 2011, quando fomos ao encontro da família Avá-canoeiro do Araguaia. Levamos essas imagens até Tutawa, Kaukama, seus fillhos e netos. Compartilhamos com eles nossa visão sobre as imagens: elas formularam o centro do argumento que lhes negou o direito à sua terra tradicional nos últimos 40 anos. Em meio a luta por Taego Ãwa, fizemos o filme.
Como foi a produção, em especial o período na Ilha do Bananal? Quais foram as principais dificuldades?
Marcela Borela: O filme foi feito ao longo de muitos anos, como relatamos. As dificuldades de realização foram várias. Entre 2009 e 2013 escrevemos muitos projetos para muitos editais e não fomos aprovados, acredito que pelo caráter aberto do filme, de uma mise-èn-scène que seria compartilhada com os índios. Em 2013, finalmente, ganhamos o LONGA.DOC da SAV/MinC. Precisávamos do recurso porque era complicado reunir por um tempo todos os Avá-Canoeiro do Araguaia, que vivem entre várias aldeias na Ilha do Bananal e suas proximidades. Um fato de dificuldade específico era o transporte de canoa até a aldeia Boto Velho, por conta da seca do Rio Formoso, causada pela extração ilegal da água de seu leito para irrigação em larga escala. Mas, depois que começamos a filmar, tudo foi como tinha de ser, intenso, contraditório, humano e transformador.
Fala-se muito em imparcialidade na narrativa documental. Você defende este discurso?
Henrique Borela: A imparcialidade não é uma questão pra nós. Nos engajamos inteiramente em nossos filmes. Usamos nosso corpo, nossa subjetividade para interpretar e viver. Nossos filmes fazem parte de nós. Filmar pra nós não é um gesto imparcial. Aliás, a imparcialidade não existe em caso algum, nem na ciência, nem no jornalismo, em nada.
Filme: Taego Ãwa
Direção: Marcela Borela e Henrique Borela
Local: Cine Cultura (Praça Cívica, Goiânia)
Sessões: Domingo (19h30); Segunda a Sexta (20h30)
Amei o filme porque aprofunda num tema forte, histórico e atual que é a questão indígena no Brasil. Adorei a fotografia e a direção espetacular. Parabéns Marcela e Henrique. Orgulho dessa velha amiga que sempre admirou muito voces.
Boa tarde gostaria muito de saber como eu Fasso pra saber como eu posso saber sobre a genealogia dos índios Ava canoeiro pois a minha mãe e descendente de índio da parte de pai ela parece muito com os Ava canoeiro ela é a família dela muitos deles são vivos pelo o que ela. Conta ela é índios Ava canoeiro eles são muito parecido