A pergunta é corriqueira, quase inevitável: “O que você vai ser quando crescer?”. Sei lá, pode ser médico, engenheiro, dentista, veterinário, jogador de futebol, astronauta… As respostas são tantas e ainda tão vagas em determinada fase da vida para a criança que ouve esse questionamento. Mas para muitos pais, não. Eles sonham com os filhos no topo, fazendo sucesso, ganhando dinheiro. Querem assistir suas crias pegarem o canudo e virarem doutores, profissionais respeitados em suas áreas de atuação, elogiados, reverenciados, comandando e não sendo comandados.
A sociedade em que vivemos nos leva a ter essa tendência quase natural. Importa o sucesso para o público externo, não necessariamente para seu espírito interno. “Mãe, pai, quero sair por este mundo sem rumo, sem lastro, sem compromissos fixos. Quero viajar e conhecer pessoas, ter experiências que não prevejo, vivências inesperadas, encontrar novas maneiras de encarar a vida.” “Ok, menino, mas precisa ter uma profissão, garantir o futuro, ora essa!” Ora essa, como condenar essa preocupação amorosa? Mas como não se submeter a ela, adotando uma linha de vida que não traçamos?
“Mas é preciso também levar em conta que esses objetivos podem ser sonhos, e não grana; podem ser realizações pessoais, e não prêmios; podem ser a liberdade de criação, e não cargos.”
E tudo passa pela ambição, que pode ser positiva ou negativa. Perseguir seus objetivos é mais que salutar: é imprescindível. Mas é preciso também levar em conta que esses objetivos podem ser sonhos, e não grana; podem ser realizações pessoais, e não prêmios; podem ser a liberdade de criação, e não cargos. Os objetivos podem custar pouco dinheiro, mas muito esforço espiritual e o desafio de fazer algo que lhe recompense. O lucro passa a não ser medido em dígitos, mas em aprendizado, em enriquecimento espiritual, em algo que não dá para calcular.
O mundo nos cobra sempre a vitória, o sucesso, o topo. Quem abdica dessa lógica logo é visto como um fracassado que, por não conseguir brilhar, desistiu. Um fraco, um “loser”, um pária. Este outsider não tem espaço, perde o respeito de muita gente, sente-se preterido e deslocado. Mas será que deveria ser assim? Será que fugir das amarras que nos impõem e procurar outros horizontes é algo que deva ser tão malvisto? Escapar dos modelos pré-fabricados, do previsível, da roda-viva que não para nunca é mesmo esse crime contra as expectativas alheias?
Em determinada fase da vida começamos a pensar mais nessas questões. A caminhada já foi longa e as conquistas vieram, mas elas representam o que você pensa, o que você é, o que você quer? As ambições mudam com os anos – graças a Deus –, mas às vezes tenho a impressão de que elas nem sempre surgem espontaneamente em nossas almas, não são acalentadas por nossos sonhos, mas sim nos são incutidas, introjetadas em nosso espírito meio que na marra. Andamos por caminhos que quase nunca planejamos, perdendo nossa autonomia do desejo.
“O mundo nos cobra sempre a vitória, o sucesso, o topo. Quem abdica dessa lógica logo é visto como um fracassado que, por não conseguir brilhar, desistiu. Um fraco, um “loser”, um pária.”
Como anda, portanto, sua ambição? Ela é sua de verdade ou é fruto de uma concorrência surda com outra pessoa, rescaldo de alguma frustração mal resolvida ou de uma inveja não admitida? Ele retrata seu ser, seus afãs, ou apenas atendem o que esperam que você queira? Já pensou em dar guinadas inesperadas, recusar promoções em nome de uma maior qualidade de vida, aceitar ganhar menos dinheiro e, assim, adquirir mais tempo para viver, para se divertir, para ter prazer com o seu mundo particular? Minhas ambições estão em mutação, afastando-se dia a dia do que outras pessoas acreditam que devo pensar, querer, possuir. E as suas ambições, como estão?