Há duas décadas, estreava em Goiânia a comédia Concessa Tecendo Prosa, com a atriz mineira Cida Mendes, no palco do Teatro Zabriskie, no Setor Marista. Cida estava disposta a fazer uma temporada de meses da peça que ela mesma escrevera, inspirada numa vizinha que criava galinha no quintal. Convidara a amiga Iolene de Stéfano para dirigi-la e Consuelo Ulhoa para fazer a produção. Ambas toparam. Diretora do Zabriskie, Ana Cristina Evangelista abriu as portas para Concessa. Após conquistar o público da cidade, Cida e Consuelo pegaram a estrada. Deram-se muito bem. Cida Mendes desempenha tão bem o seu papel que, passados 20 anos, sua personagem Concessa se confunde com a atriz, e vice versa.
Quase nada mudou no espetáculo que estreou em abril de 1998, e retorna ao palco para apresentação única no Teatro Sesi, neste 10 de abril, às 20 horas. Apenas o fogão, onde a personagem coa um cafezinho e assa um bolo enquanto conversa com as comadres da plateia, diminuiu de tamanho para facilitar o transporte nas incontáveis viagens da atriz. O humor da personagem − que já passou dos 50 anos, é avó, e padece com os incômodos da menopausa − continua o mesmo. Milhares de pessoas já se divertiram com a simpática caipira que não se acanha em comentar os assuntos mais diversos do cotidiano de sua família. Contestadora, irreverente, bem-humorada, para ela não há assunto proibido. Concessa circulou pelo País com e sem patrocínio das leis de incentivo à cultura. A divertida personagem firmou-se como comunicadora através do seu humor e da sua prosa.
Cida Mendes e Consuelo Ulhoa têm seu porto seguro em Paracatu (MG), onde comandam juntas a Casa de Concessa, misto de restaurante e espaço cultural, às margens da rodovia Minas-Brasília. No cardápio servido na casa, a típica comida mineira mistura-se às gargalhadas certas com a irreverente Concessa, seu marido Vicente e os filhos Anderson Clayton, Marcilene, Marluce e Robert Carlos . “E aí, coisinha, tudo bem?” − é a abordagem bem mineira que ela faz aos clientes e visitantes do local.
Atriz e produtora viajam de carro. No porta-malas, carregam o cenário, figurino e objetos cênicos. “Fazemos uma média de 40 mil quilômetros por ano”, conta a atriz, que já viajou de Minas ao interior de Rondônia. Elas calculam terem rodado cerca de 800 mil de quilômetros nas estradas do País. Foram para Frankfurt, na Alemanha, em 2016, a convite de brasileiros.“O Brasil é o País dos sotaques. O mineirês de Concessa é um dialeto apreciado no Brasil inteiro. O mineiro recebe bem. Por onde passa é bem recebido”, garante Cida.
Personagem
Desde os tempos de Pará de Minas (PA), terra natal de Cida Mendes, a atriz lapidava o jeito de ser da personagem Concessa, inspirada na vizinha de Paracatu e nas caipiras do interior, cheias de sabedoria. Hábitos, costumes, o palavrório típico, o sotaque (seria mineirês ou goianês?) foram traçando o perfil da personagem. Nas suas andanças, não falta quem diga a Cida que conhece gente muito parecida com Concessa.
Cida Mendes deixou Pará de Minas rumo a Belo Horizonte aos 12 anos. Cursou Educação Física e o Conservatório de Música, mas abandonou tudo pelo teatro. Em 1993, de volta à cidade natal, fundou junto com Consuelo Ulhoa a Cantina Real, espaço cultural que abrigava o Grupo de Teatro Maracutaia. “Na própria Cantina Real foi acontecendo um movimento teatral com esquetes, experimentos, estudos trazidos pela diretora Iolene de Stéfano, que foi dando um suporte de repertório e técnica de teatro. Ali nasceu Concessa. Como uma brincadeira no meio das pessoas, como gosto de fazer até hoje na Casa de Concessa em Paracatu”, conta a artista.
Cida Mendes e Consuelo Ulhoa vieram para Goiânia em 1995. No Zabriskie, Cida estrelou as peças Rainha Megera e Luas e Luas, sob a direção de Ana Cristina Evangelista. Integrou também o elenco de Banheiro Feminino, dirigido por Júlio Vilela, e O Pétala e seus Contos de Escárnio, baseado na obra de Hilda Hilst, com Duda Paiva. O diretor Marcos Fayad a convidou para viver no palco a Nhá Teórfa, no musical Na Carrera do Divino, de Carlos Alberto Sofredini. A personagem sertaneja foi, segundo a atriz, a semente da sua Concessa.
Concessa Tecendo Prosa foi também um marco na carreira de Iolene de Stéfano na direção. Atualmente, ela atua com as irmãs atrizes Débora e Cinthia Falabella. Quando Iolene retornou para Belo Horizonte, os ensaios de Concessa foram acompanhados pela bailarina, professora e diretora Luciana Caetano. Fernando Cândido pintou à mão os tecidos do cenário (que ainda são os mesmos) no quintal da casa de Cida. Consuelo Ulhoa cuidou da produção. Tudo continua igual. A peça consagrou a atriz, que tem uma agenda concorrida de apresentações.
Prêmio Multishow de Humor (1997), com um monólogo da personagem Concessa, Cida Mendes teve participações no Programa do Didi, na TV Globo, Escolinha do Barulho, Boa Noite Brasil e Programa do Gugu, na TV Record. Encenou ainda os espetáculos Adelaide Pinta e Borda, Concessa em Pendura e Cai e Defeito Estufa. Em tudo, está sempre tecendo prosa.”Concessa não para de tecer porque a linha nunca acaba. É a vida dizendo: Vai, Concessa. E ela continua a tecer”, sublinha a atriz.
Serviço
Espetáculo: Concessa Tecendo Prosa
Direção: Iolene de Stéfano
Elenco: Cida Mendes
Data: 10 de abril (terça-feira)
Horário: 20 horas
Local: Teatro Sesi (Av. João Leite, nº 1.013, Setor Santa Genoveva). Telefone: 3269-0800
Ingressos: Dois quilos de alimento não perecível ou um livro