Por Luís Araujo Pereira e Rosângela Chaves
A anatomia feminina sempre o fascinou. Mas a visão daquela mulher alta, de olhos verdes, descendo as escadas como uma diva, foi como uma epifania.
Naquele dia distante do início da década de 1970, enquanto fumava um cigarro no térreo do Instituto Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, depois de ministrar mais uma de suas aulas de História da Arte, o artista plástico José Vasconcellos teria encontrado a sua musa definitiva?
Reais ou imaginárias, as mulheres são uma presença constante na obra desse mineiro nascido em Passos (MG) há 79 anos, radicado na Europa há mais de quatro décadas e que hoje tem seus trabalhos expostos em galerias e museus de vários países. “Para mim, a mulher sempre foi a expressão da beleza na arte, seja ela a Vênus de Botticelli, sejam elas as Demoiselles d’Avignon do Picasso. A figura da mulher sempre foi uma imagem central na minha obra”, garante o artista.
Mas se uma boa parte dos tipos femininos que habitam as suas telas não exibe exatamente os traços de Valéria Zanini − a goiana que se mudara para o Rio à época para estudar piano com Arnaldo Estrella e que deixara Vasconcellos tão maravilhado quando a viu pela primeira vez na escadaria do Instituto Villa-Lobos −, o fato é que ela tornou-se não só uma inspiração permanente para o artista, como também a sua companheira por mais de 40 anos. Um relacionamento que só terminou com a morte da pianista, aos 65 anos, vítima de câncer, em fevereiro de 2016.
O luto pela morte da mulher representou um momento de inflexão na trajetória de Vasconcellos. No universo particular que ele delineia em suas pinturas – povoadas pelos objetos que remetem à sua infância em Minas, ao sótão da fazenda do avô, onde passava horas como um arqueólogo vasculhando a memória familiar, em meio a móveis, brinquedos, roupas, chapéus e retratos antigos −, a figura feminina deixou de reinar soberana para dividir espaço com outras formas de expressão corporal. O artista passou a se interessar também pela anatomia masculina, embora os jovens efebos que surgem nos seus quadros mais recentes exibam uma beleza antes andrógina do que propriamente viril.
Se as formas humanas que costuma retratar se diversificaram, Vasconcellos, no entanto, continua fiel a seu repertório, que os críticos classificam dentro da corrente pertencente ao realismo mágico. Esse repertório é repleto de símbolos e arquétipos, os quais o artista denomina como manifestações dos seus sonhos, dos seus “relicários”.
Uma boa incursão pela obra do pintor mineiro pode ser feita até o dia 17 de agosto, na mostra Arquétipos – Relicários da Memória, na Potrich Galeria de Arte, no Jardim Goiás. Ao lado das bonecas, dos carrinhos de bebê, dos vestidos e de outros objetos desconcertantes que parecem extraídos de uma arca fantástica e imemorial, passeiam pelas telas figuras masculinas e femininas enigmáticas e sedutoras, seres de um mundo onírico que nos perturbam e encantam.
Medicina, não! Arte!
As suas telas parecem evocar histórias que se entrelaçam umas às outras, como nos contos das Mil e uma Noites, uma semelhança que Vasconcellos também exprime emaranhando os episódios de sua longa trajetória de artista plástico e exilado político com momentos da vida pessoal. É tarde de uma quarta-feira do mês de julho e ele recebe a reportagem de ERMIRA, na ampla sede da Potrich Galeria, para uma conversa que se estende por quase duas horas.
Começa contando da sua meninice em Passos, das férias na fazenda do avô e das aventuras no já citado sótão. O gosto pelo desenho manifestou-se aos 11 anos com tal intensidade, que não foram raras as vezes que ficou de castigo na escola porque preferia rabiscar rinocerontes e elefantes no caderno a prestar atenção às aulas de matemática.
Também data dessa época a fixação pelo corpo feminino – esmerava-se em desenhar mulheres nuas. Mas a consciência do garoto de rígida formação católica pesava e, com remorsos, volta e meia ia se confessar com o padre da paróquia local. Em uma dessas sessões no confessionário – diverte-se, ao rememorar –, o padre, curioso, pediu-lhe para ver os desenhos sob a alegação que iria avaliar “se aquilo era pecado ou não”.
Junto à família, o destino do garoto José Vasconcellos já estava traçado. Como neto mais velho, ele herdaria a biblioteca de medicina do avô e seguiria uma bem-sucedida carreira médica. Quando revelou aos pais que o seu desejo era fazer “arte”, estes não esconderam a decepção. Porém, resignaram-se, pensando que se tratava de “arquitetura”. Mas quando explicou que a sua pretensão era cursar “Belas Artes”, a família ficou chocada. “Foi um baque, um escândalo danado”, recorda-se. “Mas não dei bola, e fui para Belo Horizonte”, conta.
Na capital mineira, o jovem artista estudou com Guignard e conviveu com grandes nomes do cenário artístico local, como Wilde Lacerda e Álvaro Apocalypse. O próximo passo foi o Rio de Janeiro, onde se matriculou na Escola Nacional de Belas Artes e foi aluno de Thales Memória – “uma pessoa maravilhosa, uma grande influência na minha vida”.
Nessa fase inicial da carreira, Vasconcellos dedicava-se exclusivamente ao desenho, em bico-de-pena, e fez a sua primeira exposição em 1962, na galeria da Livraria Carlitos. Não vendeu um trabalho sequer, mas achou a experiência “engraçada”.
Uma aliança no caminho
Transitando pelo efervescente cenário cultural do Rio de Janeiro dos anos 60 e início dos 70 e desfrutando a convivência de artistas já renomados como Waltercio Caldas, de quem se tornou amigo, Vasconcellos foi admitido como professor de História da Arte e Arte e Criatividade do Instituto Villa-Lobos, onde viria a conhecer a sua futura mulher, a pianista goiana Valéria Zanini. O casamento, no entanto, seria precedido por alguns percalços.
Naquele dia inesquecível em que viu Valéria Zanini pela primeira vez, Vasconcellos ostentava uma aliança de noivado. Há três anos, pedira a mão de uma linda moça – cujo nome prefere não revelar – que morava em Belo Horizonte. O casamento estava marcado para breve, com os convites já expedidos e o enxoval inteiramente pronto.
Entretanto, assim que descobriu, para a sua surpresa, que a bela estudante de piano que o fascinara frequentava suas aulas de História da Arte havia dois meses − e passou a conhecê-la melhor −, a aliança no anelar direito começou a incomodar. Valéria, por sua vez, refutou peremptoriamente as propostas de relacionamento por parte de Vasconcellos enquanto ele estivesse com aquele “ouro na mão”.
“Estremecido”, o artista rumou para Belo Horizonte e rompeu o noivado, protagonizando outro escândalo junto à sua família. Em 1972, ele e Valéria Zanini casaram-se no Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, sob as bênçãos de dom Clemente Isnard.
Magia propiciatória
Intituitivamente, ao preencher os cadernos escolares com os seus desenhos, o menino travesso de Passos, em Minas Gerais, já enveredava pelos caminhos do realismo mágico. O embasamento teórico-estético veio só mais tarde, quando, já dedicado à carreira artística, Vasconcellos se interessou pela obra de Ernst Fuchs, criador da vertente do realismo mágico nas artes plásticas, também chamada de new symbolism, em 1955, na Áustria. As leituras de Jung também contribuíram para o artista refletir sobre o seu próprio ofício, que traduz uma expressão ao mesmo tempo muito pessoal e universal, com relação aos símbolos e arquétipos que poeticamente retrata.
Lançando mão do exemplo das paredes das cavernas de Lascaux, na França, Vasconcellos emprega uma metáfora que ajuda a compreender a visão que ele tem da sua arte. Como os homens pré-históricos que primeiro desenhavam a caça ao bisonte nas paredes da caverna, para que depois um outro grupo de homens saísse efetivamente para caçar orientados por aquilo que os desenhos sinalizavam, Vasconcellos diz que os seus quadros desvelam uma espécie de “magia propriciatória”.
“O meu trabalho não é o de caçar, mas o de proporcionar a possibilidade da caça. Os meus sonhos são todos os sonhos, não são os meus, pessoais. Se você entrar num quadro meu, verá algo que o marcou em determinado momento, uma boneca, um carrinho de bebê, um vestido antigo. Esses símbolos são símbolos comuns. É a universalidade das imagens”, explicita.
Se Fuchs e Jung figuram para Vasconcellos como o referencial mais conceitual, os três grandes nomes da história da arte com quem mais dialoga, que representam uma fonte de inspiração perene sobre seu trabalho, são Velázquez, Da Vinci (a quem ele chama, como se fosse um amigo íntimo, de Leonardo) e Tolouse-Lautrec. A ascendência do primeiro é mais nítida nas suas telas – vide a série Velazqueanas, uma homenagem à obra do pintor espanhol da qual o artista mineiro separou alguns exemplares que podem ser vistos na exposição da Potrich. Na composição das telas que compõem a série, Vasconcellos teve o cuidado de desenhar as suas próprias “meninas” com os olhos vendados, em respeito a Velázquez. “Ninguém nunca conseguiu pintar os olhos das mulheres como ele, nem o Leonardo. É uma coisa fantástica”, justifica o artista.
Na sua galeria particular de influências, há espaço também para os impressionistas e Picasso – por quem tem “um fascínio muito grande, inexplicável”. Diferentemente do que se poderia esperar de quem explora com tanta riqueza a fantasia e a imaginação, os surrealistas não dizem muito à sua sensibilidade artística. Todavia, Vasconcellos expressa uma visão muito particular a respeito da obra de Salvador Dalí: “A concepção de mundo de Dalí era extraordinária, mas ele é um clássico. Dalí não é moderno nem pós-moderno. A pintura dele é uma pintura clássica. Se você retirar toda aquela estrutura que a compõe, tem-se um classicismo”.
Do Brasil, o autor aponta dois elementos que o inspiram muito na cultura brasileira: a arte popular e a arquitetura colonial das cidades históricas de Minas e Goiás. No próximo ano, pretende fazer uma excursão pela Ilha de Marajó, no Pará, para realizar uma pesquisa sobre a cerâmica marajoara. “Vou pela Universidade de Copenhague, que vai arcar com todas as despesas. Infelizmente, a arte marajoara não é muito valorizada no Brasil.”
No exílio
A lembrança de dom Clement Isnard é cara a Vasconcelos não apenas pelo fato de ele ter celebrado o seu casamento com Valéria Zanini em 1972. Em um dos momentos mais turbulentos da vida do artista, o bispo também teve um papel essencial.
Depois de casados, Valéria e Vasconcellos foram morar em Friburgo – ele continuava dando aulas no Instituto Villa-Lobos, ela ainda prosseguia com a sua formação na Escola de Música. Nesse mesmo período, a ditadura fechava o cerco sobre as instituições culturais consideradas “subversivas”, e a instituição onde Vasconcellos lecionava era particularmente visada. Quando o artista se recusou a assinar um documento em apoio à “política cultural” dos militares, subitamente, caiu em desgraça. “Me deram uma semana para sair do país”, conta.
Foi dom Isnard quem ajudou o jovem casal a deixar o Brasil, dando-lhes uma carta para que o bispo de Santiago os acolhesse no Chile, além de uma soma em dinheiro para auxiliar na viagem. Também colocou à disposição deles o carro da cúria para levá-los até São Paulo, de onde tomariam o ônibus que os conduziria até Assunção, no Paraguai. Dali, partiriam para o território chileno.
A temporada no Chile não durou um ano – o golpe militar contra Allende, em setembro de 1973, obrigou-os a deixar o país. Na época, cinco embaixadas aceitaram o pedido de asilo político de Vasconcellos e Valéria: a da Holanda, a da Dinamarca, a da Suécia, a da França e a da Itália. A opção pela Dinamarca se deu porque foi o único país a oferecer condições para que Valéria conseguisse concluir o curso de Música, no Conservatório Real de Copenhague, e Vasconcellos pudesse ministrar aulas e prosseguir com a sua carreira artística.
“Fui na condição de exilado político, pelo ACNUDH [Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos]. Até que a Dinamarca adotou a gente e nos deu o passaporte”, relata. Quando chegaram à Europa, um dos poucos contatos que tinham eram os pianistas goianos Clóvis Alessandri e Eliane Rahal, que moravam na Alemanha. As poucos, o país de acolhida foi abrindo as portas ao casal para que cada um pudesse mostrar e aprimorar o seu talento. Valéria começou a apresentar recitais e a ser convidada para tocar em outros países da Europa, como Suécia, Noruega, Itália e Alemanha, dando início a uma bem-sucedida carreira internacional, incluindo a gravação de cinco CDs, que se prolongaria até sua morte. Vasconcellos, por seu turno, participou de exposições em Copenhague e Paris, além de ter se estabelecido como professor de arte na Dinamarca.
O casal só retornaria ao Brasil na década de 1980, depois da Lei da Anistia. Desde então, as vindas ao país se tornaram constantes, sobretudo a Goiânia e a Belo Horizonte, onde vivem os seus familiares, mas eles preferiram continuar morando na Dinamarca. Lá nasceu a única filha, Bianca, hoje uma jornalista de 32 anos que atua como correspondente internacional de uma rede de TV em Israel. Com seus direitos políticos recuperados no Brasil, Vasconcellos optou pela dupla cidadania. “Se acontecer um golpe militar de novo aqui”, diz, com ironia, “eu tenho passaporte dinamarquês, estou protegido.”
Segredos do ateliê
Até a sua chegada à Dinamarca, como exilado político, na década de 1970, Vasconcellos dedicava-se exclusivamente ao desenho. Foi lá que começou a experimentar outras técnicas, como aquarela e gravuras aguadas; porém, não gostou do resultado. “Mas aquilo me deu uma visão da pintura. Comecei lentamente e fui pouco a pouco abandonando o desenho.”
Nessa incursão pela pintura, Vasconcellos também foi desenvolvendo e aprimorando a sua técnica e criando o seu próprio método de trabalho. Um passo fundamental foi a opção de utilizar basicamente pigmentos para fabricar as suas próprias cores, no lugar das tintas já preparadas em tubo. Aperfeiçoou de tal forma essa técnica, que hoje orgulha-se em dizer que conseguiu chegar a duas cores exclusivas dele. “É o sépia claro e o azul-cobalto. São coisas minhas. Eu mesmo desenvolvi. Não conheço nenhum artista atual que faça o mesmo”, assegura.
Atualmente, Vasconcellos manipula pigmentos adquiridos na Espanha. E nas margens do Rio Araguaia, encontra – nas temporadas que passa por lá anualmente – um elemento essencial para a sua pintura: o ocre da terra. “Quando o rio desce, tem um dos melhores ocres do mundo. Quando vou para lá, trago um saco de ocre.” Esse material é misturado com resina vegetal e com verniz de jacarandá, outro produto genuinamente brasileiro, cuja qualidade, garante, é única e não existe outro semelhante no mercado mundial.
Além dos pigmentos, que lhe proporcionam os tons básicos da sua pintura – o azul, o vermelho e o ocre –, outro material que o auxilia a imprimir um estilo tão único à sua obra é a espátula. O instrumento tem sido cada vez mais utilizado pelo artista, que aos poucos foi abandonando os pincéis e hoje os emprega basicamente para trabalhar detalhes das telas. Vasconcellos prefere a espátula de borracha, porque é mais flexível. Por conta disso, quando dá aulas no Brasil, os seus alunos são obrigados a improvisar. “Aqui é muito difícil encontrar espátula de borracha, só a de metal. Os alunos, então, correm para essas borracharias para pegar um pedaço de borracha, que eles mesmo cortam a partir do desenho que faço, e improvisam.”
Ele revela ainda que ninguém consegue imitá-lo ou falsificá-lo. “A minha técnica é muito pessoal. Tem certos detalhes que eu faço com a espátula, sobretudo os de fundo, que ninguém é capaz de fazer igual. Isso eu não transmito, nem para os ‘aprendizes’ que frequentam o meu ateliê. Outra coisa que é segredo: a dosagem da resina e do pigmento eu não revelo para ninguém. A fórmula não revelo. Ensino como fazer, como misturar os pigmentos, mas não revelo a medida. Isso é meu, pessoal.”
Um artista do mundo
Depois que o piano de Valéria se calou no estúdio que ela mantinha na parte superior do apartamento onde o casal morava em Copenhague, Vasconcellos resolveu mudar-se, depois de 44 anos vivendo na Dinamarca. Vendeu o apartamento, mas conservou o seu ateliê, que fica no piso inferior. Ainda passa períodos em Copenhague, mas eles estão se tornando cada vez mais reduzidos.
Há cinco meses, o artista inaugurou o seu ateliê em Málaga, na Espanha. A escolha pela costa espanhola não é de se espantar nesse velazqueano que confessa ter sido sempre “fascinado pela Espanha, pela Andaluzia”. A nova etapa da sua vida também coincide com uma fase surpreendente na carreira. Até 1917, Vasconcellos trabalhava basicamente com três galerias: uma em Copenhague, outra em Paris e a Potrich, em Goiânia, que o representa há 14 anos no Brasil, embora, ao longo de sua trajetória, tenha participado de exposições em diversos países. Mas depois que expôs na Bienal de Málaga, em 2017, a sua carreira ganhou um forte impulso, divulgando seu nome em importantes centros de arte em muitas partes do mundo.
Desde então, Vasconcellos já teve suas obras expostas na Suíça, na Espanha, na Itália, nos Estados Unidos, no México, no Japão e na Finlândia. Também participou da Bienal de Brasília, em 2017, na qual ganhou o prêmio de aquisição. Hoje, já são 12 galerias na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina que comercializam os seus trabalhos, enquanto três museus têm obras suas no acervo: o The International Museum of Erotic Arts, de São Francisco (EUA), o Kalundborg Museum, em Copenhague (Dinamarca), e a Accademia di Danimarca, em Roma (Itália). No próximo ano, ele já tem exposições agendadas em Dublin, Berlim, Madri, Grenoble, México e Dubai. Para esta última cidade, vai expor trabalhos de grandes formatos, de 100 x 100 cm.
Para dar conta da grande demanda por suas obras, o artista mantém um ritmo intenso, mesmo com quase 80 anos de idade. Além dos ateliês em Málaga e em Copenhague, conserva um pequeno ateliê em Goiânia, num apartamento alugado no Setor Oeste, e usa uma sala especialmente destinada para ele na Potrich Galeria quando, nas suas temporadas na capital, precisa de ambiente espaçoso para trabalhar grandes formatos. O artista gosta de pintar à noite, das 23 até as 4 horas da madrugada, e normalmente trabalha de seis a sete telas por semana. “Vou trabalhando ao poucos, porque a resina demora a secar. Chega no final do mês, tenho de seis a sete trabalhos prontos”, revela.
Vasconcellos, que também tem experiência como ilustrador – já fez capas de livros de autores como Vargas-Lhosa, García Márquez e Jorge Amado para edições dinamarquesas –, ainda encontra fôlego para desenhar rótulos de edições especiais de vinhos, a serviço da Martelli, uma grande produtora e distribuidora italiana. As garrafas com rótulos ilustrados por Vasconcellos e mais outros nove artistas da Europa são produzidas como brindes para sommeliers e colecionadores. “Assim, em vez de ter a arte na parede, eles têm na adega”, graceja.
Ouvinte apaixonado de ópera e de música clássica, Vasconcellos adora também música caipira autêntica, não essa sertaneja comercial e descartável. É um aficcionado da leitura, mas daquela que ajuda a descansar a cabeça depois de uma jornada dura no ateliê. É aí que entram Poirot e Miss Marple, os detetives de Agatha Cristhie, com as suas deduções brilhantes e imprevisíveis na elucidação de um crime misterioso.
Com vários projetos em curso, convites que não param de chegar para expor em muitos lugares, até onde vai a força criativa desse artista que sempre está se superando e se impondo cada vez mais desafios que sua mente não para de conceber? É ele mesmo quem responde: “De uns tempos para cá, comecei a abrir um pouco mais o meu universo.” Universo temático, universo figurativo, universo pessoal, universo onírico, não importa o nome (ele não gosta de rotulações), a arte de José Vasconcellos vai continuar nos surpreendendo durante muitos anos ainda com os seus três tons básicos e o seu modo bastante peculiar de escrever o mundo ̶ e traduzi-lo.
Serviço
Exposição: Arquétipos – Relicários da Memória
Local: Potrich Galeria de Arte. Rua 52, 689, Jd. Goiás
Data: até 17 de agosto de 2018 (as visitas devem ser agendadas)
Mais informações: 3945-0450 ou pelo site www.potrichgaleria.com
Adorei conhecer o trabalho e estilo do artista plástico, José Vasconcellos.