Em Benzinho, uma dona de casa, mãe de quatro filhos, divide-se em mil para cuidar da família, que inclui um marido sonhador e uma irmã cheia de problemas. Desdobrar-se para manter a felicidade de todos, porém, não a preparou para um baque inesperado e que a deixa fora de si: o filho mais velho, de 16 anos, recebe um convite para jogar handebol na Alemanha dentro de poucas semanas. O longa-metragem está em cartaz em Goiânia e integra a mostra competitiva do Festival de Gramado.
Dirigido por Gustavo Pizzi, de Riscado, o filme é protagonizado por Karine Teles, de Que Horas Ela Volta?, Adriana Esteves, Otávio Müller e Konstantinos Sarris. Na trama, que se passa nos arredores do Rio de Janeiro, Irene (Karine Teles) aguarda a própria formatura tardia de 2º grau, e cuida da casa e dos quatro meninos, equilibrando-se na contabilidade doméstica cada vez mais apertada.
Na sua rotina de classe média baixa, que inclui venda de bugigangas na Kombi velha da família, Irene vive uma atmosfera feliz. Poder-se-ia até dizer que a crise econômica bate em sua porta – mas onde ela mora a porta emperrou e a entrada é pelas janelas –, situação provisória enquanto a nova casa não fica pronta.
No longa, não há grandes tragédias, atos extremos de heroísmo, redenções exemplares. O roteiro se constrói em cima de elementos e fatos do dia a dia e banais, como uma porta emperrada, infiltrações ou um termômetro perdido em um armário desorganizado. O que não significa que Benzinho seja ordinário em sua dramaturgia. Pelo contrário: com uma destreza rara, a trama surpreende o espectador, que, desavisado, pode-se emocionar com as crianças numa piscina de plástico ou quando Irene convida todos os vizinhos para a sua modesta formatura de supletivo.
O longa foi rodado em Petrópolis e Arancaduva, e o Rio de Janeiro mostrado não é o do cartão-postal nem do mundo cão. A fotografia acolhe os personagens com simplicidade e discrição, como na cena do crepúsculo, quando o marido tenta convencer a mulher a investir numa propriedade em ruínas.
O comentário social, no entanto, não deixa de estar presente. Da irmã que sobrevive da venda de marmitas e é ameaçada pelo ex-marido à papelaria de periferia que será fechada porque os clientes sumiram, tudo se integra ao contexto na medida certa, sem brigar com a narrativa principal.
O elenco, sem dúvida, contribui bastante para a singularidade de Benzinho. Karine Teles, a protagonista, beira à perfeição ao mesclar simplicidade e altivez para essa mãe em momento de vulnerabilidade com a partida próxima do primogênito. Ela assina o roteiro ao lado do diretor e ex-marido – juntos eles tecem uma narrativa delicada, pinçadas pela comédia e que se desenvolve ao longo de menos de um mês na vida dos personagens.
O talento e o protagonismo de Karine não sacrificam os outros elementos e personagens de Benzinho. É o caso de Adriana Esteves, que surpreende pela fragilidade de sua personagem, que tenta não ceder às tentativas de reconciliação do ex-marido violento e é amparada pela irmã. Otávio Müller, o marido bonachão e compreensivo, com seus projetos fracassados, brilha com discrição no elenco adulto, ancorado pelas crianças e pelos adolescentes desta produção que, de trivial, não tem nada.
Benzinho: Brasil/Uruguai, 2018
Direção: Gustavo Pizzi
Elenco: Karine Teles, Otávio Müller, Adriana Esteves, Konstantinos Sarris
Cines: Lumière Bougainville 4 (neste domingo, dia 26 de agosto, às 16h30, na Mostra Psi) e a partir do dia 29 de agosto no Cine Cultura