[Tradução de Luís Araujo Pereira e Rosângela Chaves]
Segunda-feira, dia 17 de setembro, a Orquestra Neojiba está na Filarmônica de Paris. Ela já veio ao local em 2016, mas esta nova visita é uma versão nova, em suma, com novos músicos, dos quais o mais jovem tem 13 anos. Ricardo Castro, o maestro, informa que a orquestra foi fundada no estado da Bahia, em 2017. O modelo é El Systema, vindo da Venezuela e cujo representante mais famoso é Gustavo Dudamel. E esses jovens músicos, dos quais muitos provêm de ambientes carentes, vão começar o concerto com um “pedaço de bravura”, a abertura dos Mestres Cantores, de Wagner.
Para dizer a verdade, eles ainda não estão prontos para a execução, uma vez que a obra exige virtuosismo e perfeição. Alguns músicos acompanham com dificuldade. Mas é tocando abaixo do seu próprio nível que se pode alcançar, um dia, a excelência.
Em seguida, surge a lenda viva do piano, Martha Argerich, com um de seus “cavalos de batalha”, o concerto de Schumann. A orquestra se coloca a serviço desta artista que reinventa sempre a obra que ela interpreta, com o mesmo soturno e brilhante toque, a mesma linha de inspiração, quase improvisada, em que a profundeza do pensamento aflora sobre o teclado sem omitir potência e energia, nem mesmo uma malignidade ainda infantil. O seu triunfo é visível e o reconhecimento é pleno, tanto do público quando da orquestra: viva Martha! É belo escutar uma personalidade de tal envergadura, que já entrou na história da interpretação e da música, tocando com jovens músicos, animados, é verdade, pela mesma paixão. No bis, Castro, discípulo de Dominique Merlet, toca com Argerich, a quatro mãos, Mamãe gansa, de Ravel, cintilando infinitas memórias de infância.
A segunda parte inicia-se com a Abertura festiva, de Camargo Guarnieri. E a Orquestra Neojiba, imediatamente, mergulha no som da obra e na sua articulação. O que confirma Sensemayá, a obra-prima de Silvestre Revueltas, obra sagrada que remete a Stravinsky, mas dentro do seu próprio mundo e de sua própria primitividade sofisticada. A festa começa, verdadeiramente, com a abertura cubana de Gershwin e o Mambo (de West Side Story) irresistível de Bernstein. Depois, Ricardo Castro deixa a orquestra sozinha, assegurando com um humor vindo de um humanismo profundo, a ponto de parecer indicar que o maestro é “uma profissão em vias de desaparecimento”.
É o momento final do famoso Danzon 2, de Arturo Marquez, a apoteose bem-vinda do concerto. Essa obra galvanizadora transcende a orquestra e os músicos fazem rodopiar violinos e violoncelos de acordo com as ondulações de um ritmo que mistura melancolia e fúria salvadora. Dois bis brasileiros à escolha, Tico-tico no fubá, reviram músicos e público juntos, a duas mãos, para uma “sinfonia de adeus” irreverente, em que os músicos da orquestra saem de cena aos poucos, deixando a Filarmônica sob encantamento e na alegria compartilhada que tem o nome de Fraternidade.