Muitos não sabem, mas meu primeiro nome é mesmo Maria. E sou também uma Maria que ama fazer angu, não o angu tradicional feito de milho, pois desde criança eu cantava e entendia que angu era uma invenção, uma comida intimista, bem feitinha, caseira mesmo, gostosa, enfim! Engraçado que hoje canto essa música para uma princesinha que adora mexer panelinhas de brinquedo e, quando começo a cantar, ela se alegra e percebo que a música dá mais sentido ao movimento circular na panelinha de cobre, sempre ela, no mexer.
Nestes momentos, os afetos e as artes − a musical e a culinária − embalam movimentos, invenções e o prazer em brincar de comidinhas, de faz de conta.
Será neste tempo que a cozinheira nasce?
Não ouso responder, mas o certo é que hoje faço profissionalmente muitos “angus”, sendo a culinária tradicional portuguesa minha especialidade. Mas sobre este assunto, trataremos no próximo momento, pois nesse angu tem uma pitada especial de novos afetos de além-mar.
Como já disse, sempre gostei de fazer angu. Mas fazer angu de verdade, profissionalmente, só veio a acontecer com a chegada do meu grande amor de além-mar. E com ele veio o vinho do Velho Mundo, bem como a cozinha tradicional portuguesa. Hummmm, que tal harmonizar vinho e angu? Há 15 anos no Porto Cave, “um Porto onde se ancora a amizade” (Sinval Martins, 2003), esse desafio foi um desafio aceito e com ele as confrarias. Mas esse assunto fica também para uma próximo coluna.
Segundo Rubem Alves, toda experiência de aprendizagem se inicia com uma experiência afetiva. “É a fome que põe em funcionamento o aparelho pensador. Fome é afeto. O pensamento nasce do afeto, nasce da fome. Não confundir afeto com beijinhos e carinhos”, escreve ele. Conforme lembra o escritor, afeto, do latim “affetare”, quer dizer “ir atrás”. Significa que é o movimento da alma na busca do objeto de sua fome. “É o Eros platônico, a fome que faz a alma voar em busca do fruto sonhado.”
Esse grande pensador brasileiro, que sempre teve a educação como o principal tema de suas reflexões, sugeriu, certa vez, que, antes de entrar numa escola, alunos e professores deveriam passar por uma cozinha. “Os cozinheiros bem que podem dar lições aos professores. Foi na cozinha que as feiticeiras Babette e Tita realizaram suas magias […] e elas sabiam que os banquetes não começam com a comida que se serve. Eles se iniciam com a fome. A verdadeira cozinheira é aquela que sabe a arte de produzir fome […]”. A fome não é só de comida, mas também de cultura, de arte, de conhecimento.
Esta Maria que faz angu não só construiu sua história em meio às panelas, mas também no ambiente de sala de aula. E neste espaço em Ermira, a partir de agora, vai compartilhar com os leitores suas reflexões sobres os saberes e os sabores vivenciados em sua trajetória.
À mesa, então?
Gostou da foto que abre este texto? Veja o vídeo abaixo para descobrir essa receita deliciosa preparada pela chef Edvânia Nogueira.
Parabéns Chef Edivânia, por iniciar essa partilha de saberes e sabores através deste canal. Estarei te acompanhando.
Olá Valéria, estou grata pelo seu contato, vamos que vamos pois pois rs
O afeto que vc coloca em cada prato que elabora cria em nós uma FOME ENORME!
Ah Rosa, vc é a sensibilidade pessoa. Captou a essência do meu viver na gastronomia e acredito que em minhas relações.
Vc é mesmo muito querida e especial. Gratidão!
Que maravilha…É bem certo que ao sentarmos à mesa ,são despertados em nós emoções profundas em vàriados aspectos , tanto afetivos e emocionais quanto biológico…Ah! Mas não ê isso que se põe à mesa?Elementos advindos das emoções de outrem? Éh a história servida aos que dela passam a fazer parte.
Sula querida, vc está intimada a continuar dando sua valiosa contribuição à esta coluna! Gratidão
Amiga que texto lindo! Agora fiquei curiosa, que música é essa?
Amiga que texto lindo, ele é revelador do seu fazer no Porto Cave e nem só. Agora fiquei curiosa, que música é essa?
Miga sua linda, que engraçado, agora percebo que de fato não aparece nenhum verso da música a qual me referi rs gratidão pela leitura e comentário!
Em tempo: “ João corta Pau, Maria faz angu, Tereza põe a mesa, para a festa do tatu”
Querida Edvânia, pude sentir no seu texto o mesmo afeto que permeia o alimento preparado por suas mãos. Boa educadora que é, educa o paladar e a emoçao com o tempero maior; coraçao!
Amiga linda que sabe se fazer presente sem fazer alarde e nos faz admirar e saborear sua arte. Desejo sucesso!
A sua apreciação sobre meu trabalho Liliana, diz tanto de vc… sua generosidade, amor, respeito ao próximo… me senti acolhida e motivada a continuar! Me fez ainda mais feliz com esta nobre oportunidade, escrever e interagir com pessoas tão especiais como você! Gratidão!
Como sempre arrasando. Que delicia e esta? Mim deu uma vonzade de provar. Rsrsr
Eu já degustei suas delícias querida, você agora começa a degustar as minhas rs qdo virá à Goiania? Gratidão!
Parabéns a vc minha amiga chef Edvania, chefe do saber que me faz admira-la cada dia mais ,, abraços apertadim..
Martinha tá vendo os resultados qdo vc cuida de mim? Gratidão querida, a recíproca é verdadeira!
Querida Edvânia,,
De repente mergulhei na sua história, doçura, encantamento….
Mas não nos enganemos: quanta força envolvida nessa mulher delicada, de sorriso contagiante e alma generosa.
Agora misturando a poesia da cozinha com a harmonia do texto leve, bem escrito e envolvente.
Você e multitalentosa, querida. Que venham mais textos que combinam perfeitamente com um bom vinho do velho mundo..
Brinde à essa nova fase e tudo de novo que chega a você!
Sandrinha sua linda, obrigada por sua presença de luz e força! Gratidão por se fazer presente nesta nova fase, nos novos projetos e realizações. Você é fonte inspiradora pra muitas mulheres.
Sua comida e suas palavras alimentam a alma. Parabéns!