[Curadoria de Luís Araujo Pereira]
[1]
Marielle
avante
não há mais tempo
para tranquilidade
nem para muita doçura
meu bem
fomos pegos em flagrante
transportando pele escura
• • •
[2]
novas platônicas
para platão
alcançar a luz
é elevar-se
da caverna
(aquém da sombra
que devasta)
veja bem, meu bem:
à sabedoria
de um morcego
o breu já basta
• • •
[3]
Constituinte
tempo não se decifra
em calendários
rumos não se edificam
em travessias
é mais por incertezas
que por conclusões
que se compõe um sábio
nem todo caminho é um destino
fome jamais pede cardápio
se a vida for este contrato
não assino
• • •
[4]
coisas que nunca fiz
perfurar tempestades
provocar terremotos
rasgar o sol da cidade
penetrar o céu do mundo
tenho esta pele preta
mas não é de chumbo
• • •
[5]
vidas secas
ninguém dorme sorrindo
exceto minha mãe
que conta causos para os sonhos
só minha mãe consegue
fantasiar o vazio
coloca sabor na vida
quando elabora o tempero
da comida que falta
como se colocasse um barquinho
em um rio que secou
a fome da madrugada
se mata dormindo, camarada.
Perfil
Mazinho Souza nasceu em Aparecida de Goiânia (GO), em 1992. Colaborou com diversas antologias e jornais. Estreou em livro individual com cobra criada, pela martelo casa editorial (2019). É graduando em Filosofia (UFG), pesquisando as estruturas linguísticas nas obras de Nietzsche, e membro fundador do selo literário Goiânia Clandestina (2014), idealizando festivais literários e editando publicações, como Antologia Clandestina (2017). Como arte-educador promove oficinas de escrita, leitura e pensamento filosófico com jovens e crianças na periferia de sua cidade, colaborando especialmente no ponto de cultura Cidade Livre, onde realiza pesquisa com os povos periféricos.