Tudo começou na antiga Escola Técnica Federal de Goiás, hoje Instituto Federal de Educação, há 25 anos, quando quatro garotos apaixonados por teatro decidiram criar a Cia. Nu Escuro, com o aval dos professores Reginaldo Sadi e Sandro di Lima. O que é melhor em tudo isso é que ainda hoje dois daqueles futuros profissionais do teatro se mantêm na gestão do grupo, considerado um dos mais longevos e coesos de Goiás. Hélio Fróes e Lázaro Tuim continuam firmes e fortes comandando a trupe formada por Izabela Nascente, Adriana Brito, Abílio Carrascal e Eliana Santos.
Apesar de todos os percalços provocados pela pandemia do novo coronavírus e driblando dificuldades de todo o tipo, o coletivo estreia o novo espetáculo Barbas, uma websérie em quatro episódios, que estará em cartaz no Instagram/ www.instagram.com/ciadeteatronuescuro neste sábado (03/07) e nos dias 7, 10 e 14 de julho, sempre às 20 horas. Um documentário sobre todas as etapas da produção foi elaborado e poderá ser acessado no Youtube. Nos dias 5, 12 e 17 de julho serão promovidas lives sobre o espetáculo no Instagram da Cia. Nu Escuro.
Com dramaturgia de Izabela Nascente, Adriana Cruz e Rô Cerqueira, Barbas é a 16ª produção da companhia em seu jubileu de prata, e um marco em sua extensa carreira não só pelo formato audiovisual, mas também pela estreia na internet. O patrocínio é do Fundo Estadual de Cultura 2018.
Barbas terá quatro episódios, totalizando uma hora e 10 minutos, tempo de duração do espetáculo no palco. Importante ressaltar que a produção nasceu a partir da dissertação de mestrado em Performances Culturais que a diretora Izabela Nascente defendeu na Escola de Música e Artes Cênicas da UFG há quatro anos, intitulada O Freak Show e Julia Pastrana. A pesquisa baseou-se na história de Julia Pastrana, artista do século 19 que trabalhava com freak shows, manifestação bizarra muito usual nos circos. Na composição da dramaturgia, Izabela inseriu suas próprias vivências pessoais e das mulheres vítimas de violência e preconceito.
Atriz, diretora e bonequeira, Izabela Nascente mantém fidelidade à linguagem da companhia acentuada pelo grotesco e pelo teatro de animação. Confeccionados com esmero, os bonecos manipulados por ela, Adriana Brito e Lázaro Tuim transformam-se nos personagens em cena, como Marabel, uma menina de 11 anos que perde a irmã, e com isso também sua inocência e suas referências de alegria. A mãe também adoece, torna-se triste, desanimada e sua melancolia acaba por contaminar a garota. Abatida, em busca de um refúgio, Marabel mergulha em uma outra dimensão, o mundo freak, onde tudo lhe parece mais interessante. É nesse lugar que Marabel encontra Julia Pastrana, a mulher que, para deixá-la feliz, a conduzirá ao mundo da bizarrice, para que ela supere a tristeza.
Dedicação
Integrante do coletivo há 23 anos, Izabela Nascente, 44 anos, dedica tempo integral ao trabalho artístico. Participa de todas as etapas da produção, desde a elaboração da dramaturgia até a confecção dos bonecos, que desta vez contou com a colaboração de Marcos Lotufo, Francisco Guilherme e Rita Alves. Lotufo criou o cenário. Há meses o espetáculo vem sendo delineado. A maioria dos ensaios foi realizada diariamente pela plataforma Zoom, uma vez que todos os atores estavam de quarentena por causa da pandemia. Cada ator fazia o dever de casa, preparando-se individualmente. Quando foi possível gravar, o elenco principal fez teste de Covid-19. As gravações foram feitas no Teatro Goiânia Ouro com uma equipe reduzida, para evitar aglomeração.
Dedicação, disciplina, estudo, trabalho e acima de tudo muita paixão pelo que faz. Estes são os segredos da Cia. Nu Escuro para produzir teatro de alto nível desde 1996. Nesses 25 anos de carreira, apresentou-se em diferentes palcos de dezenas de cidades de norte a sul do País, participou de importantes festivais e projetos como o Palco Giratório do Sesc, uma oportunidade almejada por todos os atores de teatro. Foram 59 apresentações e mais de 300 sessões de Plural, espetáculo de bonecos que encanta crianças e adultos
Desde o primeiro espetáculo, 3×3, dirigido por Sandro di Lima, seu primeiro diretor, o grupo já mostrava que não estava apenas brincando de fazer teatro na escola. Com Hélio Fróes, Lázaro Tuim, Mackeidy Lisita (hoje atuando na Rede Globo como dublador e locutor) e Michael Valim (atualmente na TV UFG), a Nu Escuro engatou várias produções chamando atenção no palco e na rua. Um dos grandes méritos da companhia é o elenco estudioso, preocupando em oferecer o melhor ao seu público. Daí não faltar disposição para a pesquisa, o aperfeiçoamento e a atualização.
Todos os cinco integrantes fixos, além dos colaboradores, têm curso superior e mestrado, são professores de teatro em escolas de Goiânia e têm outros interesses profissionais para complementar a renda. Izabela dirige, confecciona bonecos, cenários e figurinos para outras companhias. Adriana Brito e Eliana Santos atuam em cinema. Abílio Carrascal é músico, e Lázaro Tuim é coreógrafo e professor de Educação Física. Hélio Froés é dramaturgo e diretor. “Fomos nos renovando, reconhecendo e respeitando o trabalho do outro”, destaca Izabela. “Resistimos porque aprendemos a produzir, a fazer os nossos próprios projetos, a dirigir, a pesquisar”, salienta Izabela Nascente, que dirige sua quarta produção para a companhia.
Resistência
Chefes de família e preocupados com a sobrevivência, Izabela, Adriana, Eliana, Tuim e Carrascal são exemplos para muita gente do meio cultural pela perseverança, pelo companheirismo e pela parceria. Com isso a rede de agregados e pessoas interessadas em trabalhar com eles só cresce. “Nossa amizade vai além do teatro. Com a convivência, a gente vai compreendendo a personalidade do outro”, revela a diretora.
Isso não quer dizer que não haja controvérsias entre eles, mas tudo é discutido antes da tomada de decisões, até no quesito economia. “Temos um acordo de fazer uma reserva para os momentos difíceis, como esse que estamos enfrentando agora. Apesar de termos o Fundo Estadual de Cultura, tem hora que é preciso ter algum dinheiro em caixa.” As crises foram contornadas com muito diálogo e panos quentes. “Já não somos jovenzinhos. Temos responsabilidades. Ninguém pode ficar parado”, explica Izabela.
Ano passado, todos ficaram sem trabalhar. Foi difícil para todo mundo. Felizmente o elenco se mantém com as aulas em escolas públicas ou privadas, diferentemente de dezenas de artistas que enfrentam a pandemia sem ter um salário fixo. Parceiros da Oficina Cultural Gepetto, o grupo ensaia e se reúne no local quando é possível. Em tempo de pandemia os encontros presenciais estão suspensos.
Ficha técnica
Espetáculo: Barbas
Texto: Izabela Nascente, Adriana Cruz e Rô Cerqueira
Direção: Izabela Nascente
Elenco: Izabela Nascente, Adriana Brito e Lázaro Tuim
Dias: 3, 7, 10 e 14 de julho
Horário: 20 horas
Onde: Instagram da Cia. Nu Escuro
www.instagram.com/ciadeteatronuescuro