Com uma longa trajetória ligada ao teatro e a movimentos artísticos de Goiás, Tocantins e Amazonas, a escritora, professora, atriz e diretora Áurea Denise estreia na poesia com o livro Âmago, que compõe a coleção Pantheon da Nega Lilu Editora. O volume traz prefácio da poeta Alda Alexandre e uma biografia “ficcional” da autora, assinada pela jornalista e professora Ana Maria Morais, e reúne a produção poética de Áurea ao longo de sua trajetória, mas que permanecia inédita. Nascida em Pium (TO), Áurea é professora, formada em Letras pela Universidade Federal de Goiás e integrou vários grupos de teatro em Goiânia e Manaus. Confira a seguir a entrevista que ela concedeu, por e-mail, a Ermira Cultura sobre o livro.
Você já escreve poesias há muito tempo, mas só publicou seu primeiro livro, Âmago, neste 2021. Por que só agora decidiu lançar o livro?
Só agora me predispus e ocorreram as possibilidades via edital da Lei de Incentivo à Cultura da Secult de Goiânia e por meio da Editora Nega Lilu. Também nunca foi meu desejo me editar sem ser inserida em algum movimento literário. Já havia tentado quando me inscrevi no IV Concurso Novos Valores de Literatura da Fundação Jaime Câmara em 2001. Exigiram no edital 50 poemas/páginas. Premiavam, mas só editavam o primeiro lugar de cada categoria: poemas, contos, romance. Recebi a certificação de menção honrosa, que para mim foi gratificante, já que a concorrência foi grande e porque tinha sido lida e avaliada por uma comissão julgadora de grandes escritores goianos, dentre eles a escritora Yêda Schmaltz e o presidente da comissão, José Mendonça Teles. A obra já se chamava Âmago. Após esse evento, a engavetei. Sempre quis um livro bonito, um livro que as pessoas quisessem levá-lo, lê-lo e não só algo para satisfazer o ego e que ficasse em prateleiras sem ser lido. Continuei escrevendo. Por fim, quando resolvi tentar de novo, foi em 2019, via Lei de Incentivo. A Editora Nega Lilu, na pessoa da sua editora, Larissa Mundim, já estava com o livro há algum tempo e me deixava ansiosa e na perspectiva da sua leitura e análise. Até que me convocou para uma reunião com outros escritores. Foi uma alegria. Só então me inscrevi [na lei de incentivo].
O livro é uma espécie de coletânea da sua produção ao longo destes anos ou reúne os seus poemas mais recentes?
É uma coletânea da minha produção e de poemas mais recentes e de parte daquele livro engavetado.
No poema A Poeta, você escreve “A poeta vive/A poeta é gente/A poeta sente/A poeta vê e anda por aí…”. O que esses versos revelam a respeito do seu processo de escrita? O que a motiva a escrever?
Tudo me motiva a escrever, estou sempre escrevendo, é uma necessidade. É assim que registro o que penso, sinto, analiso, leio, vejo, ouço, o que me alegra, me deixa triste, me revolta, aborrece, estarrece, ou me faz amar a vida que segue. Sem descansar, ou cansada, ou simplesmente sossegada sem preocupações e por vezes à toa, de bobeira, como dizem.
“Foi no teatro que minha aproximação com a literatura poética se intensificou”
Você também tem uma longa trajetória no teatro. Essa experiência no palco se reflete de alguma forma na sua poesia?
Sim. Foi no teatro que minha aproximação com a literatura poética se intensificou, li muitos autores/as porque durante um bom tempo o meu grupo teatral interpretava textos poéticos no palco ou em performances ou em saraus poéticos. Foi nesse período que passei a escrever mais poesia e a participar de eventos literários.
Que autores, tanto na poesia quanto na prosa, que você destacaria como os que mais a inspiram? Por quê?
Sendo sincera, não saberia explicar quais autores ou autoras que mais me inspiram porque todos/as que eu li me deixaram algo para pensar e li muita gente Como cursei Letras, lá liamos seguindo a história literária do Brasil e vários outros países do mundo e também a filologia do nosso idioma. Muitos escritores/as e poetas de todas as épocas; também lia muito sobre a história do teatro e textos da literatura teatral, já que atuava e estava inserida no fazer teatral. Mas tenho alguns preferidos que vira e mexe volto a ler. Como Fernando Pessoa, Rilke, Baudelaire, Victor Hugo, Flaubert, Kafka, José Saramago, Italo Calvino, Manoel de Barros, Mário de Andrade, Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector, Nélida Pinon, Florbela Espanca, Emily Dickinson, Virginia Woolf, Orides Fontela, Fernanda Young, Cora Coralina. Também poetas contemporâneas, algumas são até minhas amigas: Deyse Kênia de Moraes, Alda Alexandre, Dairan Lima, Cássia Fernandes (Goiânia), Regina Melo (AM), Marise Pacheco (MG). São muitas as influências. Me inspiram porque expressam verdades do seu tempo, mesmo sendo num estado semântico, ficcional ou a realidade nua e crua, acompanhada de uma consciência social expressada em palavras escritas e todos tendo seu mérito único em sua fórmula de dizer, registrando assim a passagem do tempo ou do agora da existência humana. Acho que tentamos deixar como legado a história da nossa passagem por esse planeta para os seres que virão após nossa partida.
Nos últimos meses, temos visto muitos novos autores de poesia em Goiás publicando seus livros, especialmente mulheres poetas. Como você vê esse movimento?
Vejo como ótimo. Acho que não só nos últimos meses, poderíamos dizer que já há algum tempo as mulheres vêm editando, mas não só aqui, é visível que Goiânia tem um movimento literário bem crescente, mas não são só as mulheres que estão publicando, tem muitos homens também. Acho que temos uma literatura poética bem vasta, intensa e crescente e isso é muito bom, principalmente com muitas escritoras publicando seus livros, sendo estas contistas, poetas ou romancistas. Esse é um sinal positivo e de evolução nesse mercado antes tão masculino. Temos também excelentes editoras independentes que estão movimentando e fomentando o mercado editorial nacional, algo necessário principalmente agora em tempos de pandemia, crise financeira no contexto editorial e nas livrarias.
Livro: Âmago
Autora: Áurea Denise
Editora: Nega Lilu
Páginas: 126
Preço: R$ 30
Mais informações: http://negalilu.com.br/