Naquela manhã, quando a secretária anunciou o nome, segundo ela o de um cliente boa-pinta que estava aguardando na antessala, eu pensei, é claro, exagerando o valor dos meus honorários:
“Tomara que seja um caso que valha ao menos mil dólares.”
Logo depois, tomado por um súbito sentimento de caridade, pensei de novo, agora em outro diapasão:
“Coitado, deve ser um desesperado sentado lá naquela salinha acanhada, esperando ser atendido porque tem um problema urgente que espera que eu resolva” – e eu, cínico deplorável, sonhando apenas com dias melhores.
Com um rasgo repentino de curiosidade, pensei ainda:
“Esse cliente pode também ser um corno milionário que pretende me contratar para eu flagrar a dondoca infiel.”
E, como às vezes sou engraçado, não deixei de rir porque, se fosse isso mesmo, seria a grana mais fácil de ganhar nesta mísera vida. Uma agência pangaré como a minha merecia tirar a sorte grande ao menos uma vez neste vale de lágrimas.
Com outro impulso de imaginação, pensei que o cliente poderia ser um executivo bem-sucedido que desconfiasse de falcatruas em sua empresa e queria me contratar para que eu conduzisse uma investigação discreta, preparasse um relatório e apontasse os culpados.
Nesse intervalo, enquanto dava trela a essas migalhas de fantasia, sem entender direito o nome que a secretária anunciara, perguntei:
“Qual é mesmo o nome do cliente?”
Em seguida, ela esticou o braço e me entregou um belo cartão. Quando li o nome, o meu coração explodiu em fanfarras: eu fora premiado.
“Louvado seja o profeta!” – não pude deixar de exprimir. A fé que eu professava oferecia muitas surpresas.
Em cor dourada, impresso em fonte arábica, bem diante dos meus olhos, li o nome de Mustafa Al-Madini, um saudita cuja foto era estampada de vez em quando na mídia – uma celebridade para a qual os burgueses estendiam os melhores tapetes e abriam os seus suntuosos aposentos. Ele era um magnata, originário de um país do Golfo Pérsico, que havia chegado à cidade para realizar um grande negócio.
Assim que readquiri a minha altivez, disse à secretária que o fizesse entrar.
Pessoalmente, valia cada palavra que era escrita sobre ele. Depois de ocupar a sala com a sua imponência, dirigiu-se à única poltrona que ficava ao lado da minha mesa. Ao mesmo tempo em que se acomodava, advertiu-me:
“A minha visita é como uma sombra que passa. Se você for mesmo um seguidor das Escrituras, deve esquecer-se de que estive aqui” – e exigiu de volta o cartão.
Num gesto inesperado, como se fosse um presságio do meu futuro, colocou a maleta sobre a mesa. E falou, sem rodeios:
“Os seus honorários estão aí com as instruções” – apontou com a cabeça a valise. Em seguida, levantou-se, deu-me as costas e dirigiu-se à saída.
Foi a primeira e a última vez que o vi.
Quanto ao trabalho para o qual me designou, foi, como se diz, mamão com açúcar. Pra dizer a verdade, a grana que recebi propiciou-me tranquilidade financeira que aproveito até hoje sem nenhum remorso. O dinheiro foi ainda suficiente para reformar a agência.
Eu sempre soube, pelas linhas misteriosas das suras, que jamais seria um cão sarnento, assim como dizia minha querida mãezinha que também era serva de Alá.
O detetive teve muita sorte.
Um prazer acompanhar o ritmo rápido da ação na narrativa e ser surprendida com um Detetive ganancioso.
Final rápido sem tempo de qualquer idealização (q um detetive q se preze desperta) Cai o pano, FIM.