[Com a colaboração de Jamesson Buarque]
Geralmente, da Academia, espera-se que levemos nossas pesquisas e ações de cultura seguindo aquilo que já está dado como tradição. Se os teóricos da história estiverem corretos, toda tradição formata um futuro. Por isso, este evento, que tomará espaço e tempo na Faculdade de Letras da UFG nesta terça e quarta-feiras, dias 25 e 26 de outubro, pretendeu abrir novas possiblidades de futuro, convocando pessoas que escrevem, que têm escrito, que publicaram, ou que não publicaram em livro, desde a última década, para um encontro em que poderemos saber mais dos caminhos não mapeados pela pesquisa acadêmica da poesia concebida aqui. E mesmo a locução adverbial “de Goiás” não restringe origem da poesia, vejam só: nosso homenageado nasceu em Minas Gerais. E Suene Honorato, uma de nossas convidadas externas, nasceu em Goiânia, mas está em Fortaleza há oito anos dando aula de literatura na UFC.
O que sabemos, do pouco que sabemos, porque não somos apenas professores de poesia, talvez antes sejamos mais fortemente leitores de poesia, é que no conjunto disso tudo, há algo mais ou menos comum entre o presente e o passado mais próximo – entre 2011 e 2020. Entendemos que, de lá pra cá, vem formando-se um corpo de vozes por meio do qual poetas e mais poetas posicionam-se num front contra discursos repressores, de apagamento e de silenciamento. Provavelmente porque poetas e mais gente da literatura, como mais gente das outras artes, das ciências e da educação enfrentaram ranços que lhes estruturavam ainda no início deste século e decidiram enfrentar os monstros fascistas, que ainda estavam nas cavernas ou nos armários.
O que vocês poderão acompanhar neste evento são poetas do tal front. Terão uma notável amostragem da poesia recente de Goiás, que apesar do marco assinalado a partir de 2011, não deixa de ter precedentes desde o início deste século, bem como não deixa de ter agentes de antes, da década de 1990, de 1980, e de 1960, como Luís Fafau, ativista cultural desde seus tempos de estudante, hoje dono da Hocus Pocus, e nosso homenageado, o poeta Luís Araujo Pereira, que militou contra a ditadura militar e foi nosso professor aqui na Faculdade de Letras. Poderia ter mais poeta aqui do que vocês verão, mas infelizmente nem todos puderam nos dizer sim e, ainda que outros mais dissessem, não teríamos datas no calendário pra tanto. Um evento-ensaio, se é que podemos bagunçar um pouco as categorias.
Por fim, e não menos importante, a ação paralela de homenagear o poeta Luís Araujo Pereira explicita o reconhecimento da relevância de sua atividade com a palavra criadora. Luís Araujo foi integrante do Grupo de Escritores Novos (o GEN) de Goiás, formado em meados da década de 1960. Estreou em livro em 1968 com o premiado Ofício fixo (vencedor da Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos), livro cujo perfil político, social e estético pode ser associado à Instauração Praxis, de Mario Chamie. Depois disso, veio a popularidade com Minigrafias (2009) e a tradução para o francês feita para a editora L’Harmattan (Poésie pour dire moins, 2013). Em 2016, publicou o livro Garatujas (Cânone editorial).
O poeta Luís Araujo Pereira é um dos poucos nomes do passado recente da poesia de Goiás que dá atenção à poesia nova que vai surgindo por aqui, se destaca também por ser uma referência declarada por jovens poetas. Luís Araújo é um poeta que não teve o reconhecimento crítico merecido, e nossa homenagem pretende ser um gatilho para novas e mais aprofundadas leituras de sua obra que, admiravelmente, está em permanente reelaboração.
Por isso, e não é pouco, o professor Jamesson Buarque e eu convidamos a comunidade leitora a participar desse evento que começa nesta terça-feira, dia 25. Serão todos bem-vindos à Faculdade de Letras da UFG.