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Foto: Divulgação
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Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 20 de agosto de 2023

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
20/08/2023 em Florações

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Cinco poemas de Torquato Neto

[Curadoria de Luís Araujo Pereira]

[1]

cogito

eu sou como eu sou

pronome

pessoal intransferível

do homem que iniciei

na medida do impossível


eu sou como eu sou

agora

sem grandes segredos dantes

sem novos secretos dentes

nesta hora


eu sou como eu sou

presente

desferrolhado indecente

feito um pedaço de mim


eu sou como sou

vidente

e vivo tranquilamente

todas as horas do fim

Os últimos dias de Paupéria (1982)

• • •


[2]

literato cantabile

agora não se fala mais

toda palavra guarda uma cilada

e qualquer gesto pode ser o fim

do seu início

agora não se fala nada

e tudo é transparente em cada forma

qualquer palavra é um gesto

e em minha orla

os pássaros de sempre cantam assim,

do precipício:


a guerra acabou

quem perdeu agradeça

a quem ganhou.

não se fala.

não é permitido

mudar de ideia.

é proibido.

não se permite nunca mais olhares

tensões de cismas crises e outros tempos

está vetado qualquer movimento

do corpo ou onde quer que alhures.

toda palavra envolve o precipício

e os literatos foram todos para o hospício

e não sabe se nunca mais do mim. agora o nunca.

agora não se fala nada, sim. fim. a guerra

acabou

e quem perdeu agradeça a quem ganhou

Os últimos dias de Paupéria (1982)

• • •


[3]

era um pacato cidadão de roupa clara

era um pacato cidadão de roupa clara

seu terno, sua gravata lhe caíam bem

seu nome, que eu me lembre, era ezequias

casado, vacinado e sem ninguém.

brasileiro e eleitor, seu ezequias

reservista de terceira e com família

três filhos, prestações e alguns livros

(enciclopédias e biografias).

era um pacato cidadão de roupa clara

era um homem de bem que eu conhecia

cumpria seus deveres, trabalhava

chegava cedo em casa de madrugava

lutando pelo pão de cada dia.

era um pacato cidadão de roupa clara

e todo dia passava e me dizia

que o mundo estava andando muito mal

eu perguntava por que, eu perguntava

seu ezequias nunca me explicava

apenas repetia

lá dentro do seu puro tropical

este mundo vai seguindo muito mal

este mundo, meu filho, vai seguindo muito mal.

ah, seu ezequias!

que pena, que desastre, que tragédia

que coisa aconteceu naquele dia

seu ezequias, ah, seu ezequias

saiu do emprego e foi tomar cachaça

e apenas de manhã voltou pra casa

batendo na mulher, xingando os filhos

seu ezequias, ah seu ezequias

era um pacato cidadão de roupa clara

era um homem de bem que eu conhecia

e agora é a vergonha da família.

Os últimos dias de Paupéria (1982)

• • •


[4]

do lado de dentro

um dois três quatro

o maior barato

é sair na rua olhando a cara das pessoas

um dois feijão com arroz

a maior barata desfilando na cozinha

mais uma troupe inteira

pastorinhas

três quatro feijão no prato

barato é

era o maior barato

olhar as caras da pessoa

que eu amava loucamente

absolutamente

refletidas no meu trapo

cinco seis falar inglês

francês alemão chinês

vocês se lembram do que nunca aconteceu

e era uma vez

um sete e um oito

comer biscoitocoitobiscoito

e depois sair por aí

feito uma boneca vagabunda

nove dez

comer pastéis comer pastéis!

Os últimos dias de Paupéria (1982)

• • •


[5]

andarandei

não é o meu país

é uma sombra que pende

concreta

do meu nariz

em linha reta

não é minha cidade

é um sistema que invento

me transforma

e que acrescento

à minha idade

nem é o nosso amor

é a memória que suja

a história

que enferruja

o que passou


não é você

nem sou mais eu

adeus meu bem

(adeus adeus)

você mudou

mudei também

adeus amor

adeus e vem

Os últimos dias de Paupéria (1982)

Torquato Pereira de Araújo Neto nasceu em Teresina (PI) no dia 9 de novembro de 1944 e suicidou-se no Rio de Janeiro em 10 de novembro de 1972. Aos 16 anos, muda-se para Salvador com o objetivo de prosseguir os seus estudos secundários. Nessa cidade, conhece Gilberto Gil e Glauber Rocha, de quem foi assistente em Barravento (1962). Em seguida, vai para o Rio de Janeiro estudar jornalismo, mas não chega a concluir o curso. Foi jornalista, poeta, letrista, ator e agitador cultural vinculado à Tropicália, ao cinema marginal e à poesia concreta. Nesse meio cultural, convive com Caetano Veloso, Tom Zé, Gilberto Gil, Gal Costa, Waly Salomão, Augusto e Haroldo de Campos, Ivan Cardoso e Helio Oiticica. No Jornal dos Sports, Correio da Manhã e Última Hora, escreveu textos sobre cultura. No último, criou a prestigiada coluna “Geleia Geral”, na qual costumava polemizar sobre poesia, cinema e música. Ana Maria S. de Araújo Duarte, com quem foi casado e teve um filho, e Waly Salomão organizaram o livro Os últimos dias de Paupéria (Do lado de dentro) – Torquato Neto que foi publicado pela editora Max Limonad (São Paulo, 2. ed., 1982), no qual copilam os seus poemas, suas letras e seus textos jornalísticos.  Sobre o autor, podem ser ainda conferidos o documentário Todas as horas do fim, de 2017, realizado por Eduardo Alves e Marcus Fernando, e as seguintes biografias, abrangendo obra e vida: Pra mim chega –  A biografia de Torquato Neto, de Toninho Vaz (Casa Amarela, 2003), e Torquato Neto ou a carne seca é servida, de Kernard Kruel (Zodíaco, 2008). Paulo Roberto Pires organizou em dois volumes, em 2005, pela Rocco, sua obra completa.  Em homenagem à memória do poeta, Caetano Veloso compôs a canção Cajuína (1979), do álbum Cinema transcendental. 

Tag's: literatura, literatura brasileira, poesia, poesia brasileira, Torquato Neto

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