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Foto: Divulgação
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Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 23 de junho de 2024

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
23/06/2024 em Florações

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Cinco poemas de Sebastião Uchoa Leite

[Curadoria Luís Araujo Pereira]

[1]

VI

Cristal dos meus prazeres, corrompido.

A ponta fina do desejo, gasta.

A fosca transparência do que há sido

refração de viver, na essência vasta.


Câncer sub-reptício, tempo que arde.

Remorso vegetal de minha vida.

Semente da manhã que se faz tarde.

Árvore do que sou, não florescida.


Fosse esse céu de abril de todo o ano,

fosse tudo o outono de um só dia

verde e feroz. Quem não desejaria?


Primas águas, abril, meu claro engano.

Sede imóvel, prendei o tempo. Ou dai-o

em dulçores, primícias do que é maio.

Dez sonetos sem matéria (1960)

• • •


[2]

Noten zur dichtung 2

As ideias são como sombras

As palavras são como cobras

Nada ilumina nem descobre

Tudo morde: é veneno e sono


O poético é como a lesma

E a melódia é como o visgo

Nada muda: é a mesma receita

Tudo é concreto e tudo é símbolo


Os conceitos são escorpiônicos

Que se ferram porque letais

Os poetas meros espiões

Preocupados com as chaves


As ideias são morcegos cegos

As palavras são caramujos

Nada é claro nem se revela

Pois tudo é nada e nada é tudo

Cortes/toques (1983-1988)

• • •


[3]

Biografia de uma ideia

ao fascínio do poeta pela palavra

só iguala o da víbora pela sua presa

as ideias são/não são o forte dos poetas

ideias-dentes que mordem e se remordem:

os poemas são o remorso dos códigos e/ou

a poesia é o perfeito vazio absoluto

os poemas são ecos de uma cisterna sem fundo ou

erupções sem larva e ejaculações sem esperma

ou canhões que detonam em silêncio:

as palavras são denotações do nada ou

serpentes que mordem a sua própria cauda

Antilogia (1979)

• • •


[4]

Alma, corpo, ideias

Colchão paciente,

em ti deponho

o que aspirei.

Não o que sei,

nem o que disponho:

claridade presente.


E o que aspirei? Nada.

Atravessar a rua,

dobrar a esquina,

palpar uma felina

pele, matéria nua

e alucinada.


A alma se dispensa

em leito macio,

e o corpo cansado

entrega-se ao passado.

Alma: é como um fio,

mas o corpo é que pensa.

Dez exercícios numa mesa sobre o tempo e o espaço (1958-1962)

• • •

[5]

Um outro

(quando acordo no entressono vejo-me

como se estivesse fora de mim mesmo

é uma espécie de susto:

ali estou eu

parado como se fosse um outro

contratado para cometer um crime

quero voltar para dentro do sono

dentro do subsolo da mente

onde me jogo

e me dissolvo

e me abandono)

A espreita (2000)

Sebastião Uchoa Leite nasceu em Timbaúba (PE) em 31 de janeiro de 1935 e morreu no Rio de Janeiro em 27 de novembro de 2003. Na Universidade Federal de Pernambuco, graduou-se em Direito e Filosofia. Foi colaborador do suplemento literário do Jornal do Commercio. Em 1960, publicou Dez sonetos sem matéria, seu primeiro livro de poemas. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1965, onde desenvolveu intensa atividade de tradutor, transpondo para o português obras de Julio Cortázar, Lewis Carroll, Stendhal, François Villon, entre outros, merecendo em duas ocasiões o Prêmio Jabuti na categoria Tradução. Juntamente com Otto Maria Carpeaux e Antônio Houaiss, trabalhou na organização de enciclopédias. Ao lado de Luís Costa Lima e Gastão de Holanda, editou dez números da revista José, que divulgou poetas modernistas, marginais e concretistas. Além de ensaios, publicou os seguintes livros de poemas: Dez sonetos sem matéria (1960), Antilogia (1979, Prêmio Jabuti), Isso não é aquilo (1982), Obras em dobras (1960-1988, poesia reunida e acrescida de Dez exercícios numa mesa sobre tempo e espaço, Signos/gnosis e Cortes/toques), A uma incógnita (1991), A ficção vida (1993), A espreita (2000), A regra secreta (2002) e Crítica de ouvido (2003). Segundo o ensaísta João Alexandre Barbosa (1937-2006) , sua poesia é “de intensa visualidade, e por ela passam filmes, quadros, gestos, olhares.” Ele afirma ainda: “como Paul Valéry, [ele sabe] que o poema é lugar de convergências sob o império das incertezas da linguagem. Deste modo, não há fissura entre o olho e a ideia: a convergência é dada, por exemplo, nas páginas acerca da felinidade, seja da mulher, seja das ideias que representam, em filmes lidos pelo poeta. Felino e mulher: cria-se, no texto, o intervalo para que o leitor possa ler mais do que um ou outro separadamente. O que os articula chama-se linguagem da poesia. Mas é uma articulação sempre precária: entre a ordem e a desordem o poema cria a ilusão da estabilidade, logo ultrapassada pelo que há de instável na linguagem com que é construído” (in Obras em dobras, São Paulo: Duas Cidades, 1988).

Tag's: literatura, literatura brasileira, poesia, poesia brasileira, Sebastiao Uchoa Leite

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