• Sobre Ermira
  • Colunas
    • Aboios
    • Arlequim
    • Arranca-toco
    • Chapadão
    • Chispas
    • Dedo de prosa
    • Errâncias
    • Especial
    • Espirais
    • Florações
    • Margem
    • Maria faz angu
    • Matutações
    • Miradas
    • Mulherzinhas
    • Projeto Ensaios
    • NoNaDa
    • Pomar
    • Rupestre
    • Tabelinha
    • Terra do sol
    • Veredas
  • Contribua
  • Colunistas
  • Contato
  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter

ERMIRA

  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter
  • Sobre Ermira
  • Colunas
    • Aboios
    • Arlequim
    • Arranca-toco
    • Chapadão
    • Chispas
    • Dedo de prosa
    • Errâncias
    • Especial
    • Espirais
    • Florações
    • Margem
    • Maria faz angu
    • Matutações
    • Miradas
    • Mulherzinhas
    • Projeto Ensaios
    • NoNaDa
    • Pomar
    • Rupestre
    • Tabelinha
    • Terra do sol
    • Veredas
  • Contribua
  • Colunistas
  • Contato
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 22 de setembro de 2024

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
22/09/2024 em Florações

  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Google +
  • Compartilhar no WhatsApp
← Voltar

Cinco poemas de Paulo Henriques Britto

[Curadoria de Luís Araujo Pereira]

[1]

Biodiversidade

Há maneiras mais fáceis de se expor ao ridículo,

que não requerem prática, oficina, suor.

Maneiras mais simpáticas de pagar mico

e dizer olha eu aqui, sou único, me amem por favor.


Porém há quem se preste a esse papel esdrúxulo,

como há quem não se vexe de ler e decifrar

essas palavras bestas estrebuchando inúteis,

cágados com as quatro patas viradas pro ar.


Então essa fala esquisita, aparentemente anárquica,

de repente é mais que isso, é uma voz, talvez,

do outro lado da linha formigando de estática,

dizendo algo mais que testando, testando, um dois três,


câmbio? Quem sabe esses cascos invertidos,

incapazes de reassumir a posição natural,

não são na verdade uma outra forma de vida,

tipo um ramo alternativo do reino animal?

Macau (2003)

***


[2]

Três epifanias triviais

II

As coisas que te cercam, até onde

alcança a tua vista, tão passivas

em sua opacidade, que te impedem

de enxergar o (inexistente) horizonte,

que justamente por não serem vivas

se prestam para tudo, e nunca pedem


nem mesmo uma migalha de atenção,

essas coisas que você usa e esquece

assim que larga na primeira mesa –

pois bem: elas vão ficar. Você, não.

Tudo que pensa passa. Permanece

a alvenaria do mundo, o que pesa.


O mais é enchimento, e se consome.

As tais Formas eternas, as Ideias,

e a mente que as inventa, acabam em pó,

e delas ficam, quando muito, os nomes.

Muita louça ainda resta de Pompeia,

mas lábios que a tocaram, nem um só.


As testemunhas cegas da existência,

sempre a te olhar sem que você se importe,

vão assistir sem compaixão nem ânsia,

com a mais absoluta indiferença,

quando chegar a hora, a tua morte.

(Não que isso tenha a mínima importância.)

Macau (2003)

***

[3]

Pomo

Da vida só tem substância

a casca e o caroço.

No meio só tem amido,

embromações do carbono.


Porém todo o gosto reside

nessa carne intermediária,

sem valor alimentício,

sem realidade, sem nada.


É nela que os dentes encontram

o que os mantém afiados;

com ela é que a língua elabora

a doce palavra.

Mínima lírica (2013, 2. ed.)

***

[4]

À margem do Douro

Não espero nada, e já me satisfaço

com a consciência de ainda estar em mim

e não de volta ao nada de onde vim.

Por ora, ao menos, ainda ocupo espaço,

junto a uma mesa no Cais da Ribeira;

permito-me, sem culpa, desfrutar

de pão, e queijo, e vinho, e vista, e ar,

todo o entorno da minha cadeira.

Que os dias que me restam não me tragam

apenas a miséria de contá-los

pra ao fim ver que as contas não fecham. Peço

demais? Eu, que não sou desses que tragam

a vida num só gole e no gargalo,

sem ter nem mesmo perguntado o preço.

Nenhum mistério (2018)

***


[5]

Malgré soi

É estritamente pessoal

o que isto queira dizer,

por mais lógico e formal

o impulso que impele você


a encher de riscos o vazio

incômodo a sua frente.

O gesto pretende-se frio;

no entanto, seu rastro é ardente.


Perversidade sem trégua

de criado contra criador?

Ou então o vício da régua

condena a mão ao rigor,


porém seu poder vale nada

(ou é só sintonia fina]

junto à instância mais elevada

à qual a mão se subordina?

Fim de verão (2022)

Paulo Henriques Britto nasceu no Rio de Janeiro em 1951. É professor, tradutor, contista e poeta. Publicou os seguintes livros de poemas: Liturgia da matéria (1982), Mínima lírica (1989), Trovar claro (1987, Prêmio Alphonsus de Guimaraens), Macau (2003, Prêmio Portugal Telecom), Eu quero é botar meu bloco na rua (2009), Formas do nada (2012), Nenhum mistério (2018) e Fim de verão (2022). Sobre a prática da tradução, publicou em 2012 A tradução literária. Escreveu ainda o livro de contos O castiçal florentino, publicado em 2021.

Tag's: literatura brasileira, Paulo Henriques Britto, poesia, poesia brasileira

  • “A morte não deveria ser um espetáculo em nenhuma circunstância”

    por Rosângela Chaves em Dedo de prosa

  • Cinco poemas de Laura Pugno

    por Luís Araujo Pereira em Florações

  • Certo bar

    por Luís Araujo Pereira em Espirais

  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Google +
  • Compartilhar no WhatsApp

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.

Deixe um comentário (cancelar resposta)

O seu endereço de e-mail não será publicado. Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

ERMIRA
  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
  • Twitter