Há quase 20 anos, a fotógrafa Adriana Bittar percorre as regiões do Cerrado, do Pantanal e da Amazônia, fazendo registros da fauna, da flora e dos habitantes desses biomas. Nessas incursões, ela testemunhou o impacto da devastação produzida pela ação humana, mas, diante desses ecossistemas sob constante ameaça, preferiu capturar a beleza e o esplendor do que ainda se mantém preservado, como um alerta sobre a fragilidade desses oásis em meio à destruição. Com uma seleção de 21 fotos em preto e branco, a exposição Dentro, que será aberta nesta quarta-feira, dia 12 de fevereiro, no Centro Cultural UFG, às 19 horas, convida o público a imergir nessa jornada ao mesmo tempo poética e visual registrada pelas lentes sensíveis da fotógrafa, nascida em Anápolis e radicada em Brasília há 15 anos, propondo uma reflexão sobre a nossa relação com a natureza. A mostra pode ser visitada até o dia 14 de março.
Durante a abertura da exposição, haverá ainda o lançamento do livro Dentro, que reúne 100 imagens clicadas por Adriana nas suas andanças por esses territórios, oferecendo um riquíssimo registro visual da biodiversidade brasileira. Tanto a curadoria da exposição quanto a do livro ficaram a cargo de Débora Duarte, que também assina a apresentação da obra, uma edição luxuosa impressa em papel italiano de alta qualidade, bilíngue (português/inglês), com textos em braile e audiodescrição.
Antes de chegar a Goiânia, a exposição Dentro, com o patrocínio da Lei Rouanet, ficou em cartaz durante um mês no Espaço Oscar Niemeyer, em Brasília, no final do ano passado. Na sequência, a mostra deve seguir para Anápolis, em espaço e data ainda a serem definidos. Ainda este ano, a exposição também será levada para a Argentina, na Embaixada do Brasil em Buenos Aires.
Formada em Publicidade pela Unaerp, de Ribeirão Preto (SP), Adriana Bittar, 45 anos, é apaixonada pela fotografia desde a adolescência, quando, ainda morando em Anápolis, costumava viajar para Cavalcante e Alto Paraíso, na Chapada dos Veadeiros, para fazer fotos da região. Logo quando se formou, passou um período trabalhando em São Paulo em um estúdio de fotografia e, já radicada em Brasília, atuou na área de fine art (imagens decorativas). No entanto, durante todo esse tempo, ela nunca deixou de se encantar pelas paisagens naturais. Nos últimos anos, fez em média quatro viagens anuais para fotografar incansavelmente o Pantanal e a Amazônia e, com mais frequência ainda, realizou várias expedições pelo Cerrado.
O resultado dessas aventuras com a câmera na mão foi um gigantesco arquivo com milhares de imagens desses biomas. Há dois anos, Adriana começou a trabalhar no projeto da exposição e do livro, mas o resultado final só se concretizou com a curadoria de Débora Duarte. Doutoranda em Teoria da Literatura Latino-Americana na UnB e pesquisadora da estética contemporânea, Débora mergulhou por seis meses no acervo de Adriana para selecionar as fotos presentes na mostra e na obra impressa. Após esse trabalho que demandou muito tempo e dedicação, diante da profusão de cores e texturas das imagens escolhidas, Débora e Adriana optaram por tratá-las e convertê-las em preto e branco. A intenção, segundo Débora, foi criar uma linguagem mais linear e homogênea para o projeto, intensificando também o efeito dramático de cada uma das fotos.
A respeito da escolha da do vocábulo “Dentro” para nomear a exposição e o livro, Débora explica que ela surgiu de uma afirmação de Adriana, proferida quando a curadora acompanhava a fotógrafa durante uma das suas excursões pelo Cerrado. “Eu fico brincando dentro da lente no meu olho”, disse Adriana à época. “Esse nome me pareceu dar conta dessa trajetória que explicita uma busca interna por instaurar uma linguagem sobre essas experiências que ela tem com a natureza, principalmente com o Cerrado”, explica Débora. “Dentro me parece um lugar que contempla o encontro dessas imagens e dessa inquietação inicial da própria artista, que convida a uma entrada para a consciência individual e coletiva”, complementa.
Sobre o trabalho de Adriana, Débora Duarte destaca ainda o seu imenso respeito por tudo aquilo que ela observa, externando um profundo cuidado da fotógrafa com o objeto representado. Assim, a sua arte fotográfica representa uma “abertura para o encontro com o outro, seja ele a fauna, a flora ou os viventes dos territórios que visita”, conforme a curadora escreve no texto de apresentação do livro Dentro.
Em uma de suas viagens à Amazônia, Adriana Bittar teve o privilégio de participar da comitiva do celebrado fotógrafo Araquém Alcântara, conhecido pelos seus registros documentais das reservas ambientais brasileiras. Ao lado de Alcântara, Adriana elege como outra influência em sua arte o trabalho do fotógrafo Walter Firmo, que se especializou em registrar as festas populares.
A propósito, esse tema está no cerne da próxima empreitada de Adriana, que marca um ponto de inflexão na sua trajetória como fotógrafa dedicada à documentação da biodiversidade nacional. Também com patrocínio da Lei Rouanet, Adriana vai dedicar este 2025 a viagens pelo território goiano, para clicar as diversas manifestações populares locais, como a Congada, as Cavalhadas, a Procissão do Fogaréu, entre outras.
Serviço
Exposição: Dentro, da fotógrafa Adriana Bittar
Abertura: dia 12 de fevereiro, às 19 horas (também haverá na abertura o lançamento do livro Dentro)
Local: Centro Cultural UFG (Praça Universitária, Setor Universitário)
Visitação: até 14 de março, de terça a sexta-feira, das 9 às 12 horas e das 14 às 17 horas
Mais informações: (62) 3209-6251