Naquela manhã, mais uma vez, como sempre fizera, Penélope olhou para o mar. A enormidade de movimento líquido que tinha diante dos olhos lembrou-a do dia em que o vira sair navegando, o barco carregado de marinheiros e alimento, as ondas conduzindo a embarcação rumo ao incerto. Que perigos o atormentariam em sua viagem? – pensou naquele momento.
Após esse episódio, as águas começaram a lhe dar sinais, que logo percebeu: elas não tinham pressa, eram sempre fantasiosas, no seu fluxo e refluxo, mesmo no instante em que, jocosas, uma gota assustava um grão de areia. Ali, no promontório, o lugar que escolhera como ponto de observação, tinha uma vasta visão do mar. As águas sem fim, que desabavam em algum abismo da Terra, escorriam para os domínios de Polifemo. Com nevoeiro ou chuva, tudo o que ela esperava era apenas o esboço de uma nave familiar retornando.
Tanto no ponto extremo à sua esquerda como, do outro lado, à sua direita, do mesmo modo que, à sua frente, ela só enxergava a linha ondulante do infinito, que reúne céu e oceano, dando a ilusão de que tudo é o mesmo. E, como ontem, anteontem, todos os dias, constatou de novo: em todas as direções, por menor que fosse, chegando do fim do mundo, não havia sinal de uma embarcação aproximando-se.
Nada, por mais atenta que estivesse, era mais solene do que o voo de uma gaivota. Perguntou-se quando essas aves trariam o presságio.
Desconsolada mas não vencida por aquele metódico ritual de observar todos os dias a chegada de uma embarcação heroica, Penélope pensou no futuro – e sorriu: graças aos seus dons, haveria brevemente em sua casa música, vinho e alegria. Essa notícia fora-lhe soprada por um vento amigo, que acabara de chegar do mar Tirreno. A linguagem do vento tinha gosto de sal – e teve nesse momento a sensação de que ouvia uma voz longínqua, mas não distante.
Depois de tantos anos, nunca, em um só dia, cedera à resignação. Nem as guerras, as tempestades, as epidemias e a escassez reduziram o seu ânimo pela vida. No mundo em que vivia, as mulheres não tinham escolhas. Mas ao menos ela fizera a sua: esperar. E sabia por quem deveria permanecer ali, no promontório, aguardando, no escarcéu das ondas, o anúncio daquele que finalmente voltava para casa.
Desde que ele partira, aprendera a respirar com as águas. Era verdade que, em algumas procelas, o lamento das aves parecia mau agouro. Apesar de tudo, o mar, sempre ele, ao seu lado, acalentava a certeza de que um polvo trocava impressões com uma tainha sobre as expedições marítimas. O mar era o seu irmão, e ela sabia que ele a protegeria, assim como a concha protege o molusco. Até nos astros, aqueles que orientam os navegantes, os indícios ajudavam-na a amenizar a sua espera, sobretudo nas noites de estrelas cadentes, quando o luto por uma longa ausência oprimia o seu ventre.
Com o desdobramento infindo de suas ondas, como anêmonas dançando, o mar era apenas o caminho do lar. Era também piedoso e traiçoeiro: ao mesmo tempo em que fornecia alimento, roubava corpos. As mensagens desse tumulto incessante não apareciam apenas na voz das sereias. Ela as percebia dentro de si, efusivas, por meio de uma energia que explodia na crista das ondas – e era esse frêmito (a vibração do seu corpo sob o ímpeto das águas) que lhe dava o ânimo necessário para continuar mais um dia, e mais outros – quantos fossem necessários, como se a vida que lhe fora dada pudesse ser demasiado longa.
Sob um céu de nuvens amenas, examinou, mais uma vez, as águas. Em seguida, levantou-se ante a certeza de que não haveria nenhuma revelação surgindo no horizonte e encaminhou-se para a casa. Até a noite, teria muitos preparativos, pois sabia que, bem mais tarde, deveria ser gentil e tolerante e dizer as mesmas coisas que dissera ao último pretendente.
O mar, e apenas ele, lhe sussurrava, em seu rumor hipnótico, que valia a pena esperar – enquanto ela tecia a espuma dos dias e, às vezes, admirava os sargaços que passavam à noite.
Bonito demais. Cinema.
Texto lindo. Gostaria de conhecer melhor essa história.