Por muitos anos, o escritor inglês Oscar Wilde (1854-1900) reinou nos mais altos círculos da sociedade inglesa. Com seu ar esnobe e extravagante e seu humor sofisticado, ele divertia e escandalizava com tiradas ferinas e certeiras. Como se sabe, essa doce vida do escritor não sobreviveu à hipocrisia da elite de seu país, antes tão disposta a aplaudi-lo. Bastou ser acusado publicamente do “crime” de homossexualismo para Wilde cair em desgraça: foi preso, abandonado pelos amigos e pela família e amargou seus últimos dias na França, reduzido a uma condição miserável.
A obra mais famosa de Oscar Wilde é, sem dúvida, O Retrato de Dorian Gray, romance perturbador sobre um jovem de vida dupla, em que o autor reflete, com vigor e profundidade, sobre a relação entre arte, beleza e moral. Porém, é como contista que Wilde nos cativa com o brilho e o lirismo de sua prosa, trabalhadas como um delicado objeto de ourivesaria.
O que dizer, por exemplo, dessa pequena joia que é o conto O Rouxinol e a Rosa, em que um passarinho, enquanto canta a sua última melodia, tinge com o sangue do próprio coração uma rosa esmaecida, a fim de que ela possa ser ofertada por um jovem enamorado à amada? Ou então da beleza tocante de O Príncipe Feliz, sobre um príncipe que vivera uma vida de fausto e apartado de seu povo e só consegue enxergar a miséria de seu país depois de morto, quando uma estátua em sua memória é erguida na mais alta colina e, pelos olhos dela, ele finalmente contempla o sofrimento que antes ignorara?
O Wilde poeta que se revela nestas fábulas tão encantadoras também tinha um enorme talento para a sátira, com uma verve irônica inigualável. Nesta seara, sem dúvida um dos seus melhores e mais célebres textos é a deliciosa novela O Fantasma de Canterville. Nela, Wilde faz troça da aristocracia inglesa e de seus preconceitos e maneirismos, mas não deixa de criticar a vulgaridade e o pragmatismo estreito dos novos-ricos dos EUA, com a história engraçadíssima de um fantasma que por 300 anos assombrara os moradores de uma mansão nos arredores de Londres, mas não consegue passar um susto sequer em seus novos donos, uma família burguesa norte-americana.
“Quer saber o drama da minha vida? Pus o meu gênio na minha vida; nas minhas obras pus apenas o meu talento”, respondeu Wilde, ainda na época de sua glória social, ao escritor André Gide, quando este o censurou por desperdiçar os “tesouros” do seu espírito na boemia, ao invés de se dedicar com mais afinco ao trabalho literário. Mas se é verdade que este dândi que tentou fazer de sua vida uma obra de arte foi acusado de um esteticismo oco e frívolo, a posteridade lhe fez justiça, reconhecendo-lhe o alto valor como prosador e poeta.