Há cerca de pouco mais de quatro décadas, quando eu ainda engatinhava no Jornalismo, na Literatura e na Música, reuni na redação do jornal O Popular em Goiânia alguns dos mais atuantes e significativos letristas de então para uma prosa acerca da produção musical em Goiás, que resultou em uma reportagem publicada no Caderno 2 – onde eu era subeditor e repórter (hoje Magazine).
Em um universo que tinha nomes como Carlos Brandão, Tavinho Daher, Rinaldo Barra, Carlos Ribeiro, Luis Junqueira, entre outros, lá já estava Nasr Chaul com sua pena fina, raiz e amorosa traduzindo coisas da terra e do coração com maestria para o deleite de compositores como o saudoso maestro José Eduardo Morais, João Caetano, Fernando Perillo e, posteriormente, outros tantos. E, claro, dos ouvidos atentos.
A sensibilidade do goiano de Catalão foi se enriquecendo com a sua evolução acadêmica e intelectual, o que a cada nova letra ficava evidente, saltava dos papéis e ganhava asas em composições também primorosas com seus parceiros musicais.
Parte delas está em dois CDs que Chaul está lançando – Goyaz (disponível nas plataformas digitais desde dezembro do ano passado) e Pra descansar o coração (a partir de 1º de março deste 2023), com produções de Écio Duarte e Pedro Ferreira. “Aqui é um resumo de parte de meu trabalho autoral por temas diversos com inúmeros parceiros, músicas pelas quais tenho grande apreço, algumas que não foram gravadas ainda”, explica Chaul.
“Minha maior dificuldade foi definir um repertório construído ao longo desse tempo, uma vez que com alguns parceiros havia uma imensidão de composições. Com Fernando Perillo, por exemplo, foram mais de cem músicas, com João Caetano mais de 60, a mesma quantidade com Écio Duarte”, revela.
Chaul fez a seleção de algumas pela repercussão que tiveram junto ao público, outras por serem do seu apreço pessoal ou ainda pela junção que considera preciosa de letra e música. “É um legado, uma prestação de contas de meu trabalho pelas décadas musicais feitas em Goiás, um desejo antigo de registrar parte desses frutos em CD e um ofertório aos ouvintes. Espero que gostem”, justifica.
Trajetória
Chaul cursou Direito, mas foi em História que se encontrou: fez graduação e mestrado na Universidade Federal de Goiás (UFG), instituição em que foi também coordenador e professor (hoje aposentado), e doutorado na Universidade de São Paulo (USP).
Com uma rica bagagem e experiência como historiador, pesquisador, escritor e compositor, a trajetória de letrista de respeito foi algo bem natural para alguém que conhece muito bem o meio cultural como gestor e como agente ativo através do seu processo criativo.
Comandou por quase uma década a Agência Goiana de Cultura (Agepel), dirigiu o Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON), presidiu a Fundação Rádio e TV Educativa da UFG, esteve à frente de projetos consistentes como o Festival de Vídeo e Cinema Ambiental (Fica), o Canto da Primavera (música), a Bienal do Livro e a Mostra Nacional de Teatro de Porangatu, é membro da Academia Goiana de Letras (AGL) e da União Brasileira de Escritores-Seccional Goiás (UBE-GO) e já foi também assessor parlamentar.
Ao mesmo tempo em que se dedicava à composição como letrista, Chaul publicou livros, escreveu artigos e fincou seu nome na história da cultura goiana. Mais de quatro décadas depois, ele ainda escreve páginas maiúsculas da música popular feita em Goiás e Tocantins, onde tem parceiros de primeira hora e outros que a ele se juntaram no correr dos anos como Genésio Tocantins, Pádua, Celso Galvão, Écio Duarte, Nilo Alves e Rafael Schimidt.
Nesses 47 anos já são mais de 200 letras de Chaul acolhidas por melodias nos mais diferentes gêneros e estilos musicais. Várias delas se transformaram em hits regionais como Saudade Brejeira, dele e de José Eduardo Morais, gravada primeiro por Marcelo Barra no belo disco Recado, depois recebeu releitura muito interessante do também goiano Odair José e culminou com a gravação de Caetano Veloso e Zezé di Camargo para a trilha sonora do filme 2 Filhos de Francisco.
Celebração
Não é sem motivo, portanto, essa iniciativa de Nasr Chaul em reunir em dois CDs digitais parte de sua safra criativa com vários parceiros. Usou o critério da temática regional no primeiro e variadas no segundo na escolha do repertório. O primeiro deles – Goyaz – já está disponível desde 17 de dezembro de 2022 nas principais plataformas digitais, tem produção de Écio Duarte e do maestro Pedro Ferreira e capa da artista plástica Ana Maria Pacheco.
O disco tem 11 músicas com temática regional já lançadas por seus parceiros, a exemplo de Saudade Brejeira, aqui em gravação original na voz de Marcelo Barra; Sempre no Coração (João Caetano/Chaul) cantada por João Caetano; Fado de Vila Boa (Pádua/Chaul), nas vozes de Maria Eugênia e Pádua, e Meu catira (Fernando Perillo/Chaul), com Fernando Perillo.
Completam o álbum as canções Eh! Goiás (Fernando Perillo/Chaul), com Perillo; Ribeirinha (Celso Galvão/Chaul), com Celso Galvão; Retratos do Brasil (João Caetano/Chaul), com João Caetano; Folia da Estrela Guia (Fernando Perillo /Chaul), com Maria Eugênia; Flor do Cerrado (João Caetano/Chaul), com João Caetano; Mulher cigana (Chaul/Pádua), com Pádua, e Vila Boa 1727 (João Caetano/Chaul), com João Caetano.
Pra descansar…
Com 13 canções – cinco delas inéditas e três que fazem parte do CD Aos pares, de Écio Duarte (indicado ao Grammy Latino em 2022) –, o segundo disco, Pra descansar o coração, é produzido por Écio, capa do icônico pintor Siron Franco e estará nas plataformas digitais no início de março.
Além da faixa-título (de Écio Duarte e Chaul e nas vozes de Écio e Gustavo Veiga), o álbum reúne canções conhecidas e inéditas. A começar por O outro lado da lua (Fernando Perillo-Chaul), bem conhecida regionalmente na voz de Perillo; Coração retirante (Gustavo Veiga/ Brandao/Chaul), interpretada por Gustavo e Maíra; Saudade de nós (João Caetano/Chaul), com João; Amores (Fernando Perillo/Chaul), com Fernando, e Tudo e nada (Pádua/Chaul), na voz de Pádua.
O álbum tem ainda Nosso amor boreal (Genésio Tocantins/Chaul), com Genésio; Tsunami (Écio Duarte/Rafael Schimidt/Otávio Daher/Chaul), com Écio Duarte e Paulinho Pedra Azul; Flores pra Cirene (Fernando Perillo/Chaul), cantada por Perillo, e Lola (Gustavo Veiga/Chaul), com Gustavo.
Completam o disco as músicas Paraty (João Caetano/Otávio Daher/Chaul), com Écio e João Caetano; As outras (Marcelo Barra/Chaul), na voz de Marcelo, e Luz no breu (Nilo Alves/Chaul), com Nilo.
Chaul é, portanto, um artífice das artes, um operário da boa palavra e valor imensurável do fazer cultural no Centro-Norte do País.
O QUE DIZEM SOBRE ELE…
Fernando Perillo – A minha parceria com o Chaul é muito valiosa para mim.Temos dezenas de músicas gravadas e vários sucessos que estão no set list dos meus shows. Coisas novas estão vindo por aí…Salve, salve!…
João Caetano – Chaul, além de um grande escritor, sabe achar as letras das minhas melodias com um primor indescritível. Uma alegria imensa ser seu amigo, seu parceiro, seu admirador, fazer parte dessa história linda.
Genésio Tocantins – Chaul é um letrista e poeta de mão cheia, tenho o privilégio de ser parceiro em algumas canções, dentre outras destaco Amor boreal, que faz parte deste projeto fonográfico maravilhoso. Sussa!
Maria Eugênia – Professor Chaul, profundo conhecedor da história e da cultura goiana e com uma sensibilidade musical incrível, escreveu algumas das mais importantes canções da música goiana. Para felicidade de nós, intérpretes, que podemos “visualizar” cidades, costumes, histórias de nosso querido Estado e transmitir para nossos ouvintes tanto conhecimento e poesia. Salve, Chaul!
Marcelo Barra – Bom participar mais uma vez de uma produção musical do Chaul. Navegamos desde sempre nas águas da música goiana. Fica aí mais um registro, mais uma parceria. E segue o barco. Parabéns ao parceiro por mais esta empreitada.
Gustavo Veiga – Nasr Chaul nos traz o amor em forma de letras musicais. Sua sabedoria em letrar canções é algo nada fácil de encontrar. Sou fã, amigo e parceiro desse poeta.
Pádua – Chaul é sem dúvida um de nossos principais letristas. Tenho a honra e o privilégio de ser um de seus parceiros musicais. Não temos um arsenal de parcerias, mas temos canções que me deixam orgulhoso e estar nesses dois discos é também uma alegria. Chaul faz parte da nossa história, além de ser, claro, um grande pesquisador e professor de história.
Écio Duarte – Ao longo dos últimos 35 anos, tenho podido conviver com o Nasr como parceiro e como ser humano. Mas bem antes, já o conhecia como letrista de músicos importantes na cena musical goiana. Sua obra é passagem obrigatória pra quem quiser conhecer a música goiana feita nos últimos 47 anos. Um luxo poder desfrutar de suas letras, sua amizade e sua contribuição inestimável pra cultura goiana!
Celso Galvão – Conheci Nasr Chaul em uma curadoria há cinco anos e, atrevido que sou, pedi a ele uma letra para musicar. Hoje temos mais de 20 canções juntos, uma parceria que muito me honra pela grandeza artística do Chaul.
Paulinho Pedra Azul – Sabedor de belas palavras, membro da Academia Goiana de Letras, Chaul acha mais tempo para ser gestor cultural, poeta, mestre em história, advogado e ainda se espalha pelo mundo, com livros, artigos diversos em jornais, revistas, se multiplicando com seus parceiros musicais. Catalão é sua terra natal, mas Goiânia moldou seus sonhos. Acrescento também a importância de “Seu” Rômulo e Dona Esmeralda na criação desse homem/menino, que coloca nas melodias, sua linda história de amizades, amores e lutas.
OS DISCOS
“GOYAZ”
- “Saudade Brejeira” (José Eduardo Morais/Chaul) Marcelo Barra
- “Fado de Vila Boa” (Pádua/Chaul) Maria Eugênia e Pádua
- “Eh! Goiás” (Fernando Perillo/Chaul) Fernando Perillo
- “Sempre no Coração” (João Caetano/Chaul) João Caetano
- “Ribeirinha” (Celso Galvão/Chaul) Celso Galvão
- “Retratos do Brasil” (João Caetano/Chaul) João Caetano
- “Folia da Estrela Guia” (Fernando Perillo /Chaul) Maria Eugênia
- “Flor do Cerrado” (João Caetano/Chaul) João Caetano
- “Meu catira” (Fernando Perillo/Chaul) Fernando Perillo
- “Mulher cigana” (Chaul/Pádua) Pádua
- “Vila Boa 1727” (João Caetano/Chaul) João Caetano
PRA DESCANSAR O CORAÇÃO
- “Pra Descansar o Coração” (Écio Duarte/ Chaul) Écio Duarte e Gustavo Veiga
- “O outro lado da lua” (Fernando Perillo-Nasr Chaul) Fernando Perillo
- “Coração retirante” (Gustavo Veiga/ Brandao / Chaul) Gustavo Veiga e Maíra
- “Saudade de nós” (João Caetano/Chaul) João Caetano
- “Amores” (Fernando Perillo/Chaul) Fernando Perillo
- “Nosso amor boreal” (Genésio Tocantins/Chaul) Genésio Tocantins
- “Tsunami” (Écio Duarte, Rafael Schimidt /Otávio Daher/Chaul) Écio Duarte e Paulinho Pedra Azul
- “Tudo e nada” (Pádua/Chaul) Pádua
- “Flores pra Cirene” (Fernando Perillo/Chaul) Fernando Perillo
- “Lola” (Gustavo Veiga/Chaul) Gustavo Veiga
- “Paraty” (João Caetano/Otávio Daher/Chaul) Écio Duarte e João Caetano
- “As outras” (Marcelo Barra/Chaul) Marcelo Barra
- “Luz no breu” (Nilo Alves/Chaul) Nilo Alves
Salve, grande Chaul!
Parabéns, Ermira, por abrir espaço a esse artista fantástico.
E grato por me permitir participar dessa história!!!!
Completíssima matéria! Bravo Nasr Chaul!
Matéria completíssima. Nasr com impressionante produção e qualidade!