(Tradução de Luís Araujo Pereira)
[1]
SUEÑO
Estallará la isla del recuerdo
La vida será un acto de candor
Prisión
para los días sin retorno
Mañana
Los monstruos del bosque destruirán la playa
sobre el vidrio del mistério
Mañana
La carta desconocida encontrará las manos del alma
(La Última Inocencia, 1956)
…
SONHO
Rebentará a ilha da lembrança
A vida será um ato de candura
Prisão
Para os dias sem retorno
Manhã
Os monstros do bosque destruirão a praia
sobre o vidro do mistério
Manhã
A carta desconhecida encontrará as mãos da alma
[2]
EL MIEDO
En el eco de mis muertes
Aún hay miedo.
¿Sabes tú del miedo?
Sé del miedo cuando digo mi nombre.
Es el miedo,
el miedo con sombrero negro
escondiendo ratas en mi sangre,
o el miedo con labios muertos
bebiendo mis deseos.
Sí. En el eco de mis muertes
aún hay miedo
(Las Aventuras Perdidas, 1958)
…
O MEDO
No eco de minhas mortes
Ainda há medo.
Sabes tu o que é o medo?
Sei do medo quando digo o meu nome.
É o medo,
o medo com chapéu negro
escondendo ratos em meu sangue,
ou o medo com lábios mortos
bebendo meus desejos.
Sim. No eco de minhas mortes
ainda há medo.
[3]
6
ella se desnuda en el paraíso
de su memoria
ella desconoce el feroz destino
de sus visiones
ella tiene miedo de non saber nombrar
lo que no existe
(Árbol de Diana, 1962)
…
6
ela se despe no paraíso
de sua memória
ela desconhece o feroz destino
de suas visões
ela tem medo de não saber nomear
o que não existe
Filha de emigrantes judeus, Flora Alejandra Pizarnik nasceu em Avellaneda, cidade da grande Buenos Aires, em 29 de abril de 1936, e suicidou-se, aos 36 anos, em 25 de setembro de 1972. Antes de se mudar para a Europa, cursou filosofia, letras e jornalismo, sem, porém, concluir os seus estudos universitários. De 1960 a 1964, viveu em Paris, onde trabalhou para a revista Cuadernos e foi amiga de Julio Cortázar e Octavio Paz, que assina o prefácio de Árbor de Diana (1962). Fez cursos na Sorbonne e traduziu poesia francesa. A sua curta existência revela intensa atividade intelectual. É autora de uma obra original − que revela alta sensibilidade, preocupação formal e recorrência a certos temas −, marcada por elementos românticos e surrealistas. Por causa de sua instabilidade psicológica, fez uso de anfetaminas e procurou ajuda na terapia psicanalítica.
[4]
POEMA
Tú eliges el lugar de la herida
en donde hablamos nuestro silencio.
Tú haces de mi vida
esta cerimonia demasiado pura.
(Los Trabajos y las Noches, 1965)
…
POEMA
Tu escolhes o lugar da ferida
onde falamos nosso silêncio.
Tu fazes de minha vida
esta cerimônia demasiadamente pura.
[5]
DEL OUTRO LADO
Años y minutos hacen el amor.
Máscaras verdes bajo la lluvia.
Iglesia de vitrales obscenos.
Huella azul en la pared.
No conozco.
No reconozco.
Oscuro. Silencio.
(Los Trabajos y las Noches, 1965)
…
DO OUTRO LADO
Anos e minutos moldam o amor.
Máscaras verdes sob a chuva.
Igreja de vitrais obscenos.
Vestígio azul na parede.
Não conheço.
Não reconheço.
Obscuro. Silêncio.
Fonte: Alejandra Pizarnick. Poesia Completa. Ana Becciú (Org.). 10a. ed. Barcelona: Penguin Random House, 2015. (Editorial Lumen).
Bibliografia
Além de prosa, ensaio e teatro, Alejandra Pizarnick escreveu os seguintes livros de poemas:
La Tierra más Ajena (1955); La Última Inocencia (1956); Las Aventuras Perdidas (1958); Árbol de Diana (1962); Los Trabajos y las Noches (1965); Extracción de la Piedra de Locura (1968); El Infierno Musical (1971).
Confira abaixo uma videomontagem, com a poetisa recitando um poema de Arturo Carreras: