Amanda Santos Duarte[1]
Nayara Tiago Cardoso[2]
Rafael Corrêa dos Santos[3]
Yasmin de Oliveira Garcia[4]
Matheus de Freitas Lopes[5]
Kauê Barbosa de Oliveira Lopes[6]
Atualmente, a liberdade de expressão, um dos alicerces essenciais das sociedades democráticas, enfrenta desafios cada vez mais complexos devido à repercussão da cultura do cancelamento. Protegida por várias constituições e tratados internacionais, a liberdade de expressão garante que os indivíduos possam expressar suas opiniões, ideias e crenças, sendo vedado o anonimato. Esse direito é fundamental para uma sociedade democrática e funciona como um de seus pilares, assegurando uma conduta saudável. No entanto, o aumento da cultura do cancelamento criou um ambiente de autocensura, no qual as pessoas têm medo de se manifestar e serem socialmente punidas. Esse fenômeno, que se refere ao boicote de indivíduos, empresas ou organizações, por comportamentos ou declarações ofensivas, gera intensos debates sobre os limites desse direito.
Por um lado, a liberdade de expressão é crucial para o funcionamento de uma sociedade democrática, promovendo debates públicos e trocas de ideias que impulsionam a inovação. Esse direito permite que diversas vozes sejam ouvidas, possibilitando a discussão aberta de questões importantes. Com efeito, a cultura do cancelamento atua como uma forma de responsabilização social, em que indivíduos e grupos se unem para boicotar ou condenar publicamente aqueles que expressam opiniões consideradas prejudiciais ou ofensivas. Amplificada pelas redes sociais, essa prática tem o potencial de promover a justiça social ao chamar atenção para comportamentos problemáticos e encorajar uma maior sensibilidade e respeito nas interações públicas. Defensores da cultura do cancelamento argumentam que ela oferece uma maneira eficaz de proteger grupos marginalizados e de promover um discurso público mais responsável e inclusivo.
Todavia, críticos da cultura do cancelamento alertam que essa prática pode levar à criação de um ambiente de autocensura, no qual o medo de represálias impede a expressão de opiniões realmente necessárias. Esse ambiente de autocensura pode limitar o debate aberto e a troca de ideias, que são essenciais para a sociedade. Além disso, o cancelamento, muitas vezes, não oferece espaço para diálogo ou redenção, punindo indivíduos por erros passados ou opiniões impopulares de forma desproporcional.
Dada a complexidade do debate, é fundamental encontrar um equilíbrio entre a liberdade de expressão e a necessidade de responsabilização social. As sociedades democráticas devem promover o diálogo aberto e debates saudáveis, reconhecendo que a diversidade de opiniões é natural e necessária. Simultaneamente, é crucial criar mecanismos justos e proporcionais para lidar com discursos realmente prejudiciais, garantindo que a responsabilização não se transforme em censura indiscriminada. Ademais, o fomento de novas políticas regulatórias pode ajudar no combate a cenários sociais em que a liberdade de expressão não é imparcial, mas articulada de maneira a priorizar o interesse de determinados grupos e marginalizar as predileções de outros. De igual modo, é importante ressaltar que medidas corretivas também podem ser eficientes para manter a integridade, preservar e garantir a segurança de todos que fazem parte da cultura digital, contra diversos tipos de problemas sociais que enfrentamos nos dias de hoje.
Além disso, a liberdade proporcionada pelos meios de comunicação permite que ações pejorativas possam ser praticadas sem receber punição, o que torna o ato do cancelamento muitas vezes necessário para preservar a ordem. Por conta disso, é preciso que a cultura do cancelamento tenha o discernimento necessário para distinguir o que deve ou não ser reprimido, garantindo que boas ideias tenham seu devido espaço. Assim, ao analisar os argumentos apresentados, podemos concluir que é essencial encontrar um meio-termo entre promover a liberdade de expressão e garantir que ela não seja usada para prejudicar outras pessoas.
[Revisão de Ana Tércia e Gabriel Santana. Revisão final e edição de Rosângela Chaves]
Referências Bibliográficas
Liberdade de Expressão. In: Diário da República. [s.d.], Disponível em: [https://diariodarepublica.pt/dr/lexionario/termo/liberdade-expressao]. Acesso em: 20 jul. 2024.
MANFIO, E. Brasil M. E. A cultura do cancelamento nas redes. Revista Meio Mundo – UFSM. 12 mar. 2024. Disponível em: [https://ufsm.br/r-760-125]. Acesso em: 20 jul. 2024.
Liberdade de expressão: lei, evolução, importância e limites. FIA, 25 set. 2023. Disponível em: [https://fia.com.br/blog/liberdade-de-expressao/]. Acesso em: 20 jul. 2024.
BENTO, Leonardo Valles. Parâmetros internacionais do direito à liberdade de expressão. Revista de informação legislativa: RIL, v. 53, n. 210, p. 93-115, abr./jun. 2016. Disponível em: [http://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/53/210/ril_v53_n210_p93]. Acesso em: 20 jul. 2024.
Cultura do cancelamento pode afetar sua empresa. EBDI, [s.d.] Disponível em: [https://ebdicorp.com.br/cultura-do-cancelamento-afeta-cada-vez-mais-os-negocios%EF%BF%BC/]. Acesso em: 20 jul. 2024.
MENDES, Rafael Pereira da Silva. Cultura do cancelamento. Brasil Escola, [s.d.] Disponível em: [https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/cultura-do-cancelamento.htm.]. Acesso em: 20 jul. 2024.
MENDES, Rafael Pereira da Silva. Liberdade de expressão. Brasil Escola, [s.d.] Disponível em: [https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/liberdade-de-expressao.htm]. Acesso em: 20 jul. 2024.
[1] Estudante da E. E. Waldemir Barros da Silva. Email: amandasduarte07@gmail.com.
[2] Estudante da E. E. Waldemir Barros da Silva. Email: nayaratiagocardoso481@gmail.com.
[3] Estudante da E. E. Waldemir Barros da Silva. Email: rafael987correa@gmail.com.
[4] Estudante da E. E. Waldemir Barros da Silva. Email: ydeoliveiragarcia@gmail.com.
[5] Estudante da E. E. Waldemir Barros da Silva. Email: matheusgomes130807@gmail.com.
[6] Estudante do Curso de Filosofia da UFMS. Email: lkaue184@gmail.com. Agradecemos a E. E. Waldemar de Barros e ao Prof. Regerson Franklin que, por meio do “Encontro de Humanas”, organizado pela Escola, possibilitou o encontro do nosso Projeto com os alunos autores deste ensaio.
O artigo de hoje é o 17º texto da sétima edição do Projeto Ensaios, chegamos ao centésimo texto publicado do projeto, desde o seu início. O Projeto Ensaios é um projeto de divulgação filosófica coordenado pelo professor Weiny César Freitas Pinto, do curso de Filosofia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em parceria com o site Ermira Cultura, que visa colocar em diálogo a produção acadêmica com a opinião pública por meio da publicação de ensaios. Confira os outros textos publicados:
- Efígie, de Paola Dias Bauce, disponível em: https://ermiracultura.com.br/2024/06/01/efigie/.
- “Van Filosofia”: um passeio pelas ruas de Campo Grande, de Herma Aafke Suijekerbuijk, disponível em https://ermiracultura.com.br/2024/06/08/van-filosofia-um-passeio-pelas-ruas-de-campo-grande/
- Superação e retorno à metafísica, de Cristian Marques, disponível em https://ermiracultura.com.br/2024/06/15/superacao-e-retorno-a-metafisica/.
- Distopia do capital: o realismo capitalista e a devastação ambiental, de Anthony Franklin Prates Carvalho e Flávio Amorim da Rocha, disponível em https://ermiracultura.com.br/2024/06/22/distopia-do-capital-o-realismo-capitalista-e-a-devastacao-ambiental/
- Vínculo e psicanálise, de Caroline S. dos Santos Guedes, Weiny César Freitas Pinto e Natasha Garcia Coelho, disponível em https://ermiracultura.com.br/2024/06/29/vinculo-e-psicanalise/.
- Máquinas podem pensar como humanos?, de Kauê Barbosa de Oliveira Lopes e Jonathan Postaue Marques, disponível em https://ermiracultura.com.br/2024/07/06/maquinas-podem-pensar-como-humanos/.
- Qual é o lugar da literatura?, de Maria Clara Barcelos e Flávio Amorim da Rocha, disponível em https://ermiracultura.com.br/2024/07/13/qual-e-o-lugar-da-literatura/.
- Ricoeur: leitor e intérprete de Freud, de Pedro H.C. Silva, Gabriel Santana e Paula Mariana Entrudo Rech, disponível em https://ermiracultura.com.br/2024/07/20/ricoeur-leitor-e-interprete-de-freud/.
- As profissões imperiais no Brasil: uma majestade inabalável, de Guilherme Giovane Ribeiro de Moraes e Flávio Amorim da Rocha, disponível em https://ermiracultura.com.br/2024/07/27/as-profissoes-imperiais-no-brasil-uma-majestade-inabalavel/.
- Freud convida Schopenhauer e Nietzsche, de Iolene Aparecida Seibel e Natasha Garcia Coelho, disponível em https://ermiracultura.com.br/2024/08/03/freud-convida-schopenhauer-e-nietzsche/.
- Psicogênese e educação infantil, de Giovana Santos, Lucas Aguiar e Amanda Malerba, disponível em https://ermiracultura.com.br/2024/08/10/psicogenese-e-educacao-infantil/.
- O devir do escritor filósofo, de João Pedro da Silva e Vitor Hugo dos Reis Costa, disponível em https://ermiracultura.com.br/2024/08/17/o-devir-do-escritor-filosofo/.
- Quem pode ser considerado “o pai” de uma teoria científica?, de Davi Barbosa Ferreira e Weiny César Freitas Pinto, disponível em https://ermiracultura.com.br/2024/08/24/quem-pode-ser-considerado-o-pai-de-uma-teoria-cientifica/.
- Nietzsche e a naturalização do conhecimento, de Francisco de Paula Santa de Jesus, Raphael Vicente de Souza e Pedro H. C. Silva, disponível em https://ermiracultura.com.br/2024/08/31/nietzsche-e-a-naturalizacao-do-conhecimento/.
- Estaríamos dependentes daquilo que nos adoece?, de Natália Nazário e Alberto Mesaque Martins, disponível em https://ermiracultura.com.br/2024/09/07/estariamos-dependentes-daquilo-que-nos-adoece/.
- Os sonhos e suas implicações filosóficas, de Jonathan Postaue Marques e Vitor Hugo dos Reis Costa, disponível em https://ermiracultura.com.br/2024/09/14/os-sonhos-e-suas-implicacoes-filosoficas/.