Dirigida por Marcos Fayad, a companhia Martim Cererê faz nesta sexta-feira, dia 1º, no sábado, 2, e no domingo, 3, três apresentações do seu novo espetáculo Cara-de-bronze, no Teatro Goiânia. A montagem estreou no dia 9 de junho, no Teatro Sesi.
Baseado no conto de Guimarães Rosa, extraído do livro Corpo de Baile, Cara-de-bronze se passa em um único dia dentro de um curral de ajunta de bois. Dez vaqueiros conversam sobre o dono da fazenda, o tal Cara-de-bronze, “um homem poderoso e sábio como Deus, escuro como o bronze e feio como o diabo”.
A trilha sonora é uma composição original do violeiro e cantador Roberto Corrêa, responsável pela direção musical, entoada em cena por Denis Malaquias. Durante o processo de montagem, a companhia empreendeu ampla pesquisa do universo roseano: linguajar, características do sertão, rincões e figurinos. Marcos Fayad não facilitou nada. Exigiu dedicação exclusiva dos atores.
Toda a ação do espetáculo se passa no curral de bois, que foi desenhado pelo próprio diretor, com o auxílio do marceneiro Elisemar Alves. Confeccionado em tecidos rústicos e couro, o figurino remete às figuras míticas do sertão goiano e mineiro. Para criá-los, Fayad contou com a assessoria de Bia Castro. Um grande painel evoca as veredas de buritis, típicas do sertão.
Encenar a obra do autor de Grande Sertão: Veredas era um sonho antigo do diretor da Cia. Teatral Martim Cererê. Em 1999, ele dirigiu o mesmo texto. Devido às dificuldades de patrocínio, a companhia fez apenas três encenações no Teatro Goiânia. Agora, depois das apresentações deste fim de semana, a Cia. Teatral Martim Cererê pretende pegar a estrada para apresentações em outras cidades.
O elenco
Colomira – Karla Araujo/ Vaqueiro Grivo – Newton Murce/ Vaqueiro Cicica – Gerhard Sullivan/ Vaqueiro Adino – Edimar Pereira/ Vaqueiro Mainarte – André Larô/ Vaqueiro Zazo – Saulo Dallago/ Vaqueiro Mudinho – Tiago Barreto/ Vaqueiro Tadeu – Danilo Alencar/ Vaqueiro Sacramento – Tarik Hermano/ Vaqueiro Doim – Tarcisio Peris
Perfeccionista é a palavra certa para definir o diretor Marcos Fayad. Apaixonado pelo Brasil rural, grande parte de seus espetáculos remete à terra, ao homem sertanejo, a sua maneira de falar, sobretudo ao caipira goiano e mineiro. Não é difícil sentir o cheiro da terra, dos bichos e animais, ouvir o som das folhas secas no chão, o silêncio encantado e o cantar dos passarinhos em suas encenações.
Depois de viver o perturbado Antonin Artaud em A Realidade é Doida Varrida, e recuperar-se do câncer que o abateu, mas não ceifou sua imaginação inquieta mesmo dentro de uma bolha, Marcos Fayad resolveu fazer esta nova montagem de Cara-de-bronze. Otimista incorrigível, Marcos Fayad aposta que desta vez a peça terá vida longa. O espetáculo tem patrocínio da Lei Goyazes de Incentivo à Cultura, que o contemplou com menos recursos do que precisava.
“Quero ser tratado com respeito e profissionalismo. Não tenho emprego público nem privado. Vivo de arte. Quero fazer o melhor. Marcos Fayad”
A vontade de remontar o texto vinha de muito tempo, mas esbarrava nos direitos autorais. Foi preciso um acordo com a família do autor. Contornado o problema, Fayad não perdeu tempo. Durante seis meses, transformou o seu florido jardim em espaço de ensaios. Selecionou atores, convidou alguns que trabalharam na primeira montagem como Newton Murce e Danilo Alencar. Convenceu Roberto Corrêa a reeditar a trilha sonora. Encomendou um autêntico curral para compor o cenário. Figurinos de algodão rústicos e couro vestem os vaqueiros, selas de cavalo, botas de couro, objetos das antigas casas de fazenda compõem a poética encenação. Para elevar o ânimo, após os ensaios, o elenco saboreava o tradicional arroz de vaqueiro.
Para o diretor, o melhor teatro é aquele em que a alma do artista está empenhada em cena. Cara-de-bronze tem essa qualidade. Exigiu o máximo de empenho, leitura, releitura. É preciso muita intimidade com a linguagem, um mergulho na alma do caipira, absorver seus hábitos e costumes, suas crenças enraizadas.
Em mais de 40 anos de experiência teatral, Fayad investe no resgate da história do povo brasileiro. Passa no mínimo seis meses pesquisando, adaptando, ensaiando um espetáculo. Peças célebres como Martim Cererê, de 1988, remontada 20 anos depois, Na Carrera do Divino, Voar, Puro Brasileiro 1 e 2 viajaram pelo país recebendo os maiores elogios justamente pelo seu jeito típico de narrar a história. “Pessoalmente acredito que o teatro tem de mexer com os neurônios das pessoas, oferecer metáforas para serem decifradas, beleza, temas que fujam do trivial”, assegura.
Um dos mais criativos e atuantes diretores goianos, Fayad se envolve em tudo na produção. Esmiúça toda a carpintaria do espetáculo, desde o cenário e figurino, até a encenação final. Tem consciência de sua fama de brigão, autoritário e tirano. “Quero ser tratado com respeito e profissionalismo. Não tenho emprego público nem privado. Vivo de arte. Quero fazer o melhor. Tenho consciência de que com o meu trabalho transmito uma imagem positiva e moderna do meu Estado e do meu país. Se ninguém tomar conhecimento disso, basta que eu tome, para dormir tranquilo e viver feliz”, arremata.
Serviço
Espetáculo: Cara-de-bronze
Dia: 1º a 3 de julho (sexta a domingo)
Horário: 21 horas (sexta e sábado) e 20 horas (domingo)
Local: Teatro Goiânia (Av. Tocantins, esq. c/ Anhanguera, Centro. Telefone: 3201-1186)
Ingressos: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia). Estudantes, idosos acima de 60 anos pagam meia-entrada