Neste 31 de março, não há nada a comemorar, mas há muito o que aprender. O Golpe de 1964 inaugurou uma terrível e duradoura ditadura que durou mais de duas décadas, fez milhares de vítimas, censurou as artes e a imprensa e disseminou o medo e o obscurantismo. Por isso, neste momento conturbado em que fatos históricos são contestados sem nenhum tipo de embasamento, Ermira recomenda leituras que não nos deixam esconder o que aconteceu no País após a ruptura democrática de 55 anos atrás.
As Ilusões Armadas
Elio Gaspari
Editora Intrínseca
Composta de cinco volumes, esta coleção é fruto de décadas de pesquisas e acessos a documentos e depoimentos exclusivos realizados no decorrer da apuração do jornalista Elio Gaspari. A Ditadura Envergonhada, A Ditadura Escancarada, A Ditadura Encurralada, A Ditadura Derrotada e A Ditadura Acabada são as fases do regime militar traçada pelo autor, do Golpe de 64 à redemocratização, em 1985.
Marighella
Mário Magalhães
Companhia das Letras
Um dos nomes de maior destaque da resistência armada ao regime militar, Carlos Marighella foi, por muito tempo, o inimigo número 1 do governo, sendo caçado em várias partes do País. Uma operação que o emboscou em um bairro de São Paulo pôs fim a uma vida cheia de atribulações e decisões difíceis e polêmicas, registradas nesta biografia, que acaba de ser adaptada para o cinema pelo ator e diretor Wagner Moura.
Batismo de Sangue
Frei Betto
Editora Rocco
A participação dos frades dominicanos na resistência à ditadura militar é um dos temas tratados neste livro de memórias de Frei Betto, assim como dados sobre guerrilhas que estavam em atividade no regime militar. O assassinato de Carlos Marighella é relatado na obra, das investigações que levaram ao seu paradeiro à operação policial que o matou em São Paulo. Os opositores que caíam prisioneiros eram torturados.
Brasil Nunca Mais
Dom Paulo Evaristo Arns, Henri Sobel e James Wright
Editora Vozes
Este livro, que entrou para a história como um dos mais contundentes documentos sobre a barbárie cometida nos porões da ditadura, é emblemático por seu caráter político e ecumênico. Fruto de um movimento encampado por lideranças religiosas católicas, judaicas e presbiterianas, esse registro tornou-se um manifesto contra a tortura, a ausência de liberdade e a violências dos anos de chumbo do regime militar.
O Que É Isso, Companheiro?
Fernando Gabeira
Companhia das Letras
Memórias de um ex-militante de grupos armados de esquerda, este best-seller, que foi parar no cinema e chegou a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, é o relato do jornalista e ex-deputado Fernando Gabeira sobre o sequestro do embaixador norte-americano no Brasil, Charles Elbrick, em 1969. O crime foi cometido como forma de fazer o governo militar libertar adversários políticos do regime.
Verdade Tropical
Caetano Veloso
Companhia das Letras
A autobiografia do cantor Caetano Veloso contempla períodos anteriores e posteriores à ditadura militar, mas boa parte do livro é dedicada ao regime militar e à perseguição que lançou contra artistas que considerava subversivos. O movimento musical Tropicália nasceu no instante em que o regime militar estava em sua fase mais cruel e Caetano e alguns companheiros foram presos e exilados, sofrendo na pele o arbítrio.
1968 – O Ano que Não Terminou
Zuenir Ventura
Editora Objetiva
Este é um dos livros mais emblemáticos que tratam da ditadura militar brasileira e centra-se em um dos anos mais convulsivos daquele período: 1968. O assassinato do estudante Edson Luiz, no Rio de Janeiro, a Passeata dos 100 mil, as revoltas estudantis que explodiram pelo País e a decretação do Ato Institucional nº 5 (o AI-5, o golpe dentro do golpe) abastecem a narrativa de Zuenir Ventura, ele também vítima da ditadura.
O Ato e o Fato
Carlos Heitor Cony
Editora Nova Fronteira
Nesta série de crônicas escritas logo após o Golpe de 1964, vemos um processo de reavaliação do jornalista Carlos Heitor Cony sobre o contexto político de então. Ele, habituado a escrever contra o governo João Goulart, chegou a acreditar que a intervenção militar seria a solução, mas não demorou a perceber que se tratava de uma ditadura. Ao criticá-la, tornou-se inimigo do regime e passou a ser perseguido.
Além do Golpe
Carlos Fico
Editora Record
Um dos historiadores mais respeitados quando o assunto é ditadura militar brasileira, Carlos Fico oferece um panorama amplo e plural sobre as razões que motivaram o Golpe de 64, colhendo argumentos variados e que se confrontam. Ele mostra que o contexto da Guerra Fria, a ingerência norte-americana, o temor causado pela Revolução Cubana, a fraqueza de Jango e interesses econômicos influíram bastante.
Castello – A Macha para a Ditadura
Lira Neto
Editora Contexto
Jornalista que se especializou na apuração e na elaboração de biografias, Lira Neto debruça-se, nesta obra, sobre a personalidade do primeiro presidente do regime militar, o marechal Humberto Castello Branco. Herói da Segunda Guerra Mundial e partidário de uma tomada de poder apenas provisória por parte dos militares, Castello Branco foi vencido em sua intenção de devolver a presidência aos civis rapidamente.