Celebrando 10 anos de carreira, Hal Wildson revela-se um jovem talento da arte visual. Aos 27 anos, o artista impulsiona sua trajetória artística que começou ainda na adolescência, às margens do Rio Araguaia, expondo suas obras na Galeria Frei Nazareno Confaloni do Centro Cultural Octo Marques, instalado no Parthenon Center, no Centro da cidade.
Nessa sua primeira individual, Hal (pronuncia-se Ral) expõe dezenas de trabalhos recentes, outros nem tanto. A coletânea de obras segue sua linha de criação: colagens, papéis variados, bordados, fotografias, instalações, tudo alinhavado com inspirados versos e textos de sua própria autoria contra a homofobia, o racismo, o machismo, as relações de gênero, as minorias e tantos outros preconceitos que, segundo ele, é preciso combater. Autêntico e independente, Hal sabe muito bem o que quer: viver da arte e para a arte. Por isso tem dedicado cada vez mais tempo ao ateliê e à pesquisa de novos materiais e temas.
Natural de Aragarças (GO), Hal não se enquadra no estereótipo do artista que pinta as belezas da natureza da sua terra. Prefere falar de sentimento, muito bem exposto na série de trabalhos que desenvolve sem se prender a uma linguagem específica e definitiva, e principalmente na poesia. A paixão pela literatura levou-o à Faculdade de Letras na Universidade Federal de Mato Grosso, curso que abandonou no último semestre. A arte visual falou mais alto e vale como uma opção de vida. Nada além dela, é o que garante. “ Quero ampliar meus horizontes, fazer mais exposições, participar do circuito artístico em grandes centros”, afirma o artista que chegou a Goiânia disposto a divulgar o seu trabalho.
A primeira oportunidade na capital surgiu no projeto Arte e Literatura, do Sesc. Mas, bem antes, já vendia seus trabalhos. “Tenho muitos clientes fora de Goiânia”, assegura. O Instagram é o maior meio de divulgação de sua obra. Segundo ele, são mais de 27 mil seguidores no Brasil e no exterior. Quase todos os dias, posta novas imagens que são compartilhadas pelos seus milhares de admiradores. A mídia social abre imensas possibilidades para os artistas que sabem utilizá-las, e Hal está entre eles. Interage, divulga, propõe intercâmbio, sintoniza-se com os novos talentos de diferentes lugares e recebe encomendas. “Quando posto um trabalho novo, a chance de as pessoas verem é imensa, os horizontes se ampliam bem mais do que quando os trabalhos são expostos em galeria”, assegura.
Brincando com papel
Na individual Hal – 10 Anos, o artista apresenta mais de 130 peças, entre fotografias, painéis, colagens em papel, e duas instigantes instalações. “Gosto de brincar com o papel, porque posso expressar melhor a minha mensagem e ser mais impactante”, sublinha. Ideias não faltam ao artista, sempre atento aos fatos e também ao mercado, que não está fácil para ninguém. Quanto aos versos que acompanham cada trabalho, Hal explica que seu objetivo é que a poesia toque o espectador tanto quanto a pintura, a fotografia, o bordado ou a instalação. “Meus versos são meu diário criativo. Podem resultar na obra ou vice-versa. Gosto da palavra, gosto de me expressar. A palavra surge como um símbolo estético”, sublinha.
Arte e literatura sempre andaram de mãos dadas na obra de Hal Wildson. Desde a infância sonhava em escrever livros e pintar. “Para mim é muito natural escrever e pintar. Minha escrita nada tem de convencional. Defino esta exposição como meu livro, pois nela está expresso o que penso, o que sinto, minhas indignações, meus protestos mudos”, afirma.
Para Hal, o Coração, título de uma das séries da mostra, simboliza a razão, mas também é o símbolo do amor, do afeto, da existência humana. Tem tudo a ver com o seu pensamento. “Gosto de brincar com a dicotomia, com a dualidade”, revela. O amor também se faz presente na série Estigmas Espirituais, autorretratos com rosas e espinhos colados ao corpo como marcas, estigmas que a vida vai imprimindo na nossa pele ao longo do tempo. Na série Pássaros, Hal fala de liberdade, de voos para lugares distantes.
Em Tramas Afetivas do Agora, em que mistura tecido de algodão com colagens e pinturas, Hal sublinha que “a arte se transformou no meu melhor plano de pertencer ao mundo. E eu faço de tudo pra que dê certo”. Em Relicário das Poesias Livres, série de pranchetas que reúne objetos bordados com agulha e linha sobre papel ,ele faz alusão à sobrevivência da arte e à finitude do artista. Utilizando papel fotográfico e colagem, criou O Vale dos Ausentes para discutir homossexualidade.
Ele aponta a série Em Nome do Pai como uma das mais impactantes da exposição. Em cenas da crucificação de Jesus ao lado de dois ladrões, enquanto as mulheres choram aos seus pés, Hal preenche o corpo de Cristo Crucificado com recortes de jornais cujas manchetes destacam assassinatos de travestis, intolerância contra homossexuais, crimes de ódio e preconceito.
Não espere ver arte decorativa na exposição de Hal Wildson. A mostra do artista revela muito dele mesmo e das suas opiniões individuais. Como ele próprio diz : “Um livro aberto, em cujas páginas questiona o mundo em que vive e expressa suas indignações, mas também fala de amor e de paixão, e da busca constante por um mundo melhor de se viver.”
Serviço
Exposição: Hal – 10 Anos
Data: Até 31 de maio
Horário: 9h às 12h e das 14h às 17h
Local: Galeria de Artes Frei Confaloni (Rua 4, nº 515, Mezanino do Ed. Parthenon Center, Centro). Telefone: 3201-4610
Entrada franca