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Luís Araujo Pereira em Florações Professor e escritor | Publicado em 29 de junho de 2018

Luís Araujo Pereira
Professor e escritor
29/06/2018 em Florações

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Cinco poemas de Roberto Piva

(Curadoria de Luís Araujo Pereira)

[1]

Os anjos de Sodoma

Eu vi os anjos de Sodoma escalando

      um monte até o céu

E suas asas destruídas pelo fogo

       abanavam o ar da tarde

Eu vi os anjos de Sodoma semeando

        prodígios para a criação não

        perder seu ritmo de harpas

Eu vi os anjos de Sodoma lambendo

        as feridas dos que morreram sem

        alarde, dos suplicantes, dos suicidas

        e dos jovens mortos

Eu vi os anjos de Sodoma crescendo

         com o fogo e de suas bocas saltavam

         medusas cegas

Eu vi os anjos de Sodoma desgrenhados e

         violentos aniquilando os mercadores,

         roubando o sono das virgens,

         criando palavras turbulentas

Eu vi os anjos de Sodoma inventando

          a loucura e o arrependimento de Deus

̻ ̻ ̻

[2]

A vida me carrega no ar

como um gigantesco abutre

A verdade dos deuses

carnais como nós & lânguidos

não provém  do nada

mas do desejo trovejante do coração

    partido pelo amor

em sua disparada pelo rosto de um

    adolescente

com sua fúria delicada

cruzo avenidas insones & corroídas

    de chuva

minha mão alcança minha dor

     presente

& me preparo para um dia duro

     amargo e pegajoso

a tarde desaba seu azul sobre

     os telhados do mundo

você não veio ao nosso encontro & eu

     morro um pouco & me encontro só

     numa cidade de muros

você talvez não saiba do ritual

     do amor como uma fonte

     a água que corre não correrá

           jamais a mesma até o poente

minha dor é um anjo ferido

     de morte

você é um pequeno deus verde

     & rigoroso

horários de morte cidades cemitérios

     a morte é a ordem do dia

a noite vem raptar o que

     sobra de um soluço

̻ ̻ ̻

 

[3]

Porno-samba para o Marquês de Sade

esta homenagem coincide com a deterioração do Gulag

sul-americano minado pela crise de corações & balangandãs

econômicos onde se mata de tédio o poeta & de fome o

camponês & sobre os pés femininos se calça a  bota de

chumbo de várias cores gamadas com Hitleres de plantão em

cada esquina recoberta de saúvas & amores escancarados

como túmulos onde tuas coxas, Marquês, servem de amparo

delicado para o garoto que chupa teu pau enquanto uma

mulher ruiva te cavalga Assim, anotemos o nome da

vítima-orgasmo-blasfêmia antes que as araras entrem na

orgia com seus estimulantes bicos recurvos & um

estratagema de cipós afague os sóis da desolação

quotidiana em nível de Paraíso A noite é nossa Cidadão

Marquês, com esporas de gelatina pastéis de espermas &

vinhos raros onde saberemos localizar o tremor a sarabanda

de cometas o suspiro da carne.

̻ ̻ ̻

 

[4]

  1. A Coreia é na esquina

Assim não dá meu tesão

eu começo a sonhar com você todas as tardes

& você lá em Santos

comendo amendoim

vendo anjos nas cebolas do mercado

navios entram & saem do porto polidos

eu corto as veias & rego meu queijo-minas

você me ama eu sei &  me envaideço

amoras jorram a beleza anarquista de suas

              coxas molhadas

o peixe-espada pode lhe declarar amor

eu penso nestas ilhas perfumadas

mas o caminho de volta eu só conto

a este urubu em carne viva

que grasna na sacada.

̻ ̻ ̻

 

[5]

A propósito de Pasolini

quando você encontra um garoto

perto de um chafariz

& ele se curva para a água

tal qual em Caravaggio

sombra selvagem do crepúsculo

com o sol turquesa

nos cabelos ouriçados

é o momento doente

como um solfejo pagão

depois da orgia

é assim que crescem os deuses

na primavera e seu ardor melancólico

são os anos os povos os garotos videntes

que não broxaram sob as tenazes

dos cegos que perderam a Palavra

                                                            março/manhã, 87

Perfil

Roberto Piva nasceu no dia 25 de setembro de 1937 em São Paulo e morreu aos 72 anos, em 3 de julho de 2010, na mesma cidade. Muitas vezes associado à geração beat, ao surrealismo e ao homoerotismo, a sua poesia, no  entanto, é mais complexa, pois pode ser também classificada como anárquica, delirante, transgressora, imaginativa etc.. Foi essencialmente poeta. A sua obra nesse gênero compreende os seguintes títulos: Odes a Fernando Pessoa (1961), Paranoia (1963), Piazzas (1964), Abra os olhos e diga ah! (1975), Coxas (1979), 20 Poemas com brócoli (1981), Quizumba (1983), Ciclones (1997), Antologia poética (1985), Estranhos sinais de Saturno (2008, constante em suas poesias reunidas). De 2005 a 2008, Alcir Pécora, professor de teoria literária da Unicamp, organizou a sua obra em três volumes, que foi publicada pela Editora Globo. Esse conjunto recebeu respectivamente as seguintes denominações: Um estrangeiro na legião, Mala na mão & asas pretas e Estranhos sinais de Saturno. Na apresentação do primeiro volume, fez estas considerações: “A leitura dos próprios textos permite justificar uma proposta de publicação em três volumes: um para o primeiro período, de viés beat, whitmaniano e pessoano; outro para o segundo, de traços psicodélicos e experimentais; e um terceiro, para um período mais recente, predominantemente místico e visionário. Convém notar, desde logo, contudo, que os elementos mais relevantes de um período permanecem em todos os outros, havendo aspectos de continuidade e coerência marcantes em todo o conjunto, como, por exemplo, o seu efeito de alucinação. Seja como for, a dominante poética em cada conjunto apresenta diferenças significativas. Em termos de composição dos versos, distinções podem ser igualmente sustentadas em relação aos três períodos: o verso mais longo do primeiro; os cruzamentos-limite de prosa e poesia, bem como os experimentos gráficos do segundo; os versos mais curtos e regulares do terceiro, entre outros distinguos a serem analisados nos posfácios dos volumes, distribuídos a críticos com grande familiaridade com a obra de Piva.” Assim, esses posfácios foram escritos por Claudio Willer (v. 1), Eliane Robert Moraes (v.2) e Davi Arrigucci Jr. (v. 3), os quais ampliam a compreensão da complexidade da tessitura poética de um dos mais importantes autores de nossa contemporaneidade e fornecem ao leitor vislumbres enriquecedores dessa complexidade.

 

Tag's: poesia, poesia beat, poesia brasileira, poesia homoerótica, poesia transgressora, Roberto Piva

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